Especial Turismo
A contemplação que há no encontro dos rios Iguaçu e Paraná e a vista com o Paraguai e a Argentina sempre foi enigmática. O curso das águas impressiona, sobretudo quando são muito volumosas em algumas épocas do ano e, o local, o limite de três países, inspira pela beleza e tranquilidade o que causa uma sensação ímpar nos visitantes, encantando pelo visual, hoje complementado com gastronomia, lazer, arte, história e cultura.
Para se alcançar tanto êxito foi necessário transpor enormes obstáculos sendo que alguns ainda estão imersos em dificuldades e imposições. A região, para muitos, nada mais era que “o fim do caminho”, na versão de uma estrada que não dava em nada. Provou-se o contrário.
Localizada no setor sul da cidade, a área onde está o Marco das Três Fronteiras teve importância histórica nos ciclos desenvolvimentistas, desde os períodos da colonização. Serviu como ponto de travessia entre Foz, Puerto Franco (PY) e Iguazú (AR), com o trânsito de catraias, balsas e outras embarcações até meados dos anos 80, época da edificação da Ponte da Fraternidade, também batizada com o nome do presidente Tancredo Neves, em 1985. Até os dias atuais, é possível ver ferryboats realizando a travessia até a margem paraguaia.
A importância da área sempre foi relevante, porém de certa forma descartada. No final da década de 70 imaginavam um centro de convenções funcionando lá, e, cerca de vinte anos depois, foi construído o Espaço das Américas (1997), que apesar de uma obra imponente, não funcionou como se esperava. Chegou a abrigar grandes eventos, com a intenção de sediar o Mercosul, mas não emplacou por diversos motivos. A importância turística sempre foi de certa forma relegada; havia além do “obelisco”, plantado por Cândido Rondon em 1903, uma área de estacionamento com piso poliédrico, acessos íngremes ao Rio Iguaçu, e uma pequena loja de artesanato, que dava suporte aos visitantes; fora isso, o restante era convertido em barrancos, mato e a bandidos de plantão, prontos para abordar os turistas. Nada disso aparecida nos magníficos cartões postais e nos registros fotográficos, muitos dos quais exalando romantismo e a linda paisagem. Isso, por si, matinha viva a ideia de trabalhar um atrativo.
Em 2013 parte da área, pertencente à União, foi repassada ao município de Foz, e começou-se a imaginar uma nova atração turística, ou algo que sinalizaria um novo ciclo para o local. Em 2015, a prefeitura lançou um edital de licitação para a exploração do Marco, vencida pela Cataratas S/A, que imediatamente iniciou as obras de uma “vila de entretenimento”, um empreendimento cenográfico impressionante, baseado nas Missões Jesuíticas. Projeto algum poderia ser tão original e integrado regionalmente a começar pelo resgate histórico.
E assim surgiu um impressionante parque temático, de grande valor agregado ao turismo regional. A obra foi realizada em etapas, e, aos poucos, foram sendo entregues o estacionamento, portal de entrada, banheiros, áreas de comércio, bares, loja de souvenires, bilheterias; um parque infantil, e um completo serviço de alimentação e bebidas, com área de apoio aos visitantes. Tudo foi concebido valorizando os colonizadores e os povos ancestrais, o que resultou em belos espetáculos de dança e águas.
O projeto resultou em enorme sucesso, mas deparou-se com o fato de ser literalmente espremido pelas grandes obras estruturantes realizadas no setor Sul da cidade, encravado entre a segunda ponte com o Paraguai e acessos como a Perimetral. Além do mais, a área do Espaço das Américas não foi concedida como o esperado, o que de certa forma frustra o projeto original a contemplar muito mais aos visitantes.
O fato é que em pouquíssimo tempo, toda a área no entorno do atrativo foi modificada. Hoje, por exemplo, uma enorme ponte de concreto estaiada enverga a paisagem sobre conjunto arquitetônico missioneiro, perfazendo um contraste histórico inusitado; as obras acumulam montanhas de terra, pedras e maquinário, sitiando os visitantes que desembarcam dos ônibus impressionados com a movimentação, com ares de desconforto, o que preocupa não só os concessionários como também as autoridades do município.
Não resta dúvidas que inauguradas a Ponte da Integração e a Perimetral Leste, o local que abriga o complexo turístico no Marco das Três Fronteiras será muito melhor, ainda mais com o avanço do projeto de propõe a revitalização do Espaço das Américas, propiciando outras atividades, até mesmo esportivas. Mas isso requer a atenção redobrada dos parceiros públicos, para que o atrativo não sufoque e continue marcando a seu destino histórico.