Um conceito, uma proposta, um jeito de explorar novas direções e sentidos…

Por Rogério Romano Bonato

A ideia de encarar outra empreitada no setor da gastronomia surgiu por diversos ângulos. O primeiro foi olhando a nossa casa, cercada de laguinhos com peixes, jardins, imensas árvores, pássaros de todos os tipos, até mesmo um Urutau. Eu e Eliane concluímos que pelo aspecto original, as pessoas se sentiriam bem desfrutando o nosso espaço. Não foi uma decisão fácil, mas entendemos que esse compartilhamento nos faria bem e nos ajudaria a desenhar novos rumos.

Outro ponto foi o nosso gosto pela boa mesa. Relembro as tentativas anteriores, com o Los Caballeros, no Clube Hípico e mais tarde o Cyrano Bistrô, experiências interessantes e em nada lucrativas, mas onde aprendi com os erros. Receber os amigos, trabalhar a cozinha é algo maravilhoso, tocar um restaurante nem tanto. É uma tarefa perigosa, mas ir em frente e tentar novamente faz um sentido em minha vida.

Eliane é uma parceira formidável, criativa, uma artista de mão cheia. Ela perguntou: “será que não poderíamos inventar um jeito de mostrar a nossa arte plástica e gráfica, a cerâmica, peças de artesanato e ao mesmo tempo agradar as pessoas com um chá da tarde, abrindo um espaço na varanda?” Enquanto ela ia falando a minha imaginação percorria a casa. Daí ela completou: “seria um jeito de a gente dar mais atenção às nossas coisas, tirar pelo menos um pé das notícias cotidianas, explorar novos ares”. Foi o bastante para eu pensar o bistrô e compartilhar a ideia com ela, reorganizando a vida e dando um passo bem maior.

Mexe muito com a gente tirar de lugar as coisas que foram pensadas para cada cantinho. Mas, acreditar que é para melhor, ajuda nessa tarefa triste e saudosista. Tudo o que há em nossa casa são as marcas dos dias felizes. Planejamos a instalação com muito carinho, conservando o velho piso recortado de ardósia rejuntada, as paredes rústicas caiadas; revitalizamos o madeirame de lei; construímos os móveis, mesas cadeiras, restauramos alguns quadros e a louçaria. Não foi necessário um grande investimento em materiais, mas sim de tempo. Atravessamos meia pandemia levando tudo de um lado ao outro.

Sempre discuti muito com Eliane as questões conceituais, algo importante na área da gastronomia. Deve haver essa harmonia entre o espaço, o ambiente e o que vai à mesa. Entendemos a necessidade de um cardápio básico, alternando as temporadas, mas sempre mantendo peixes, carnes, aves e opções de vegetais, tudo balanceado e em acordo nutricional. O mesmo ocorre com as bebidas, com área dedicada ao vinho. Todos os pratos são elaborados com ingredientes frescos e obedecem a simplicidade e o requinte da cozinha de bistrô. A ideia é emplacar o “desperdício zero”.

Com esse nosso esforço, não pretendemos – de maneira alguma – suprerestimar o nosso projeto. Coisa mais chata é criar uma expectativa e depois não proporcionar. Diante disso, pretendemos atender como recebêssemos os amigos em nossa casa, com um grau de intimismo necessário e o diferencial do bom serviço profissional. Como na arte e na notícia, nada é igual, tudo sempre terá um toque diferente, mas sempre com qualidade e solicitude.