Operação Mymba Kuera foi a base para a criação dos refúgios biológicos em Itaipu

Iniciativa é lembrada como um exemplo bem-sucedido de preservação, envolvendo centenas de pessoas na proteção das espécies.

 

Especial Meio Ambiente

 

Assumindo um compromisso com as práticas ambientais, Itaipu foi pautada, desde o início, pelo seu Plano Básico de Conservação do Meio Ambiente, implantado em 1975, estabelecendo atividades para prevenir alterações no equilíbrio natural da região.

Foi necessário pensar no resgate de animais e em como ambientá-los em áreas protegidas. Isso aconteceu bem antes do fechamento do canal de desvio, quando ocorreria o enchimento do reservatório.

Em 1978, criou-se o projeto Mymba Kuera, que, em tupi-guarani, quer dizer “fauna”, mas derivou popularmente para “pega-bicho”. Antes, as ações de resgate no Brasil eram em grande parte batizadas como Arca de Noé, mas para Itaipu resolveram encontrar um termo que regionalizasse a ação, reforçando a binacionalidade.

Inicialmente, foi implantado o Refúgio Biológico Temporário de Alvorada, primeiro recinto em condições de receber as capturas. Mais tarde surgiu o Refúgio Biológico Bela Vista, bem maior e mais aparelhado para receber os animais, com área para a flora, canteiros de mudas e acesso ao final da crista da barragem, em área banhada pelo Lago.

Cerca de oito meses depois, em 13 de outubro de 1982, dois dias antes da data prevista, as comportas do canal de desvio foram baixadas, bloqueando o curso do Rio Paraná e iniciando a formação do Lago de Itaipu.

Equipes foram formadas para a delicada tarefa de resgatar animais na área em fase de inundação, um trabalho que requeria muito esforço e parceria de organismos oficiais, universidades, consultorias, institutos, empresas especializadas e laboratórios. Centenas de pessoas passaram a percorrer a área, utilizando barcos, caminhões e helicópteros, em condições climáticas muito desfavoráveis. Se, por um lado, as chuvas dificultavam o trabalho, também ajudaram a encher o reservatório mais rapidamente.

A operação de resgate durou quase 40 dias e teve um saldo satisfatório: 24.753 animais foram resgatados na margem direita, onde havia muitas florestas na superfície, e 9.235 na margem esquerda. Mais de meia centena de espécies foram catalogadas, entre serpentes, jabutis, lagartos, antas, onças-pintadas, gatos-do-mato, veados-bororó, harpias, mutuns-de-penacho, tamanduás, macacos e vários animais domésticos.

Segundo um dos coordenadores da operação, o engenheiro florestal Arnaldo Carlos Müller, “tudo era novo e foi preciso desenvolver estratégias eficientes, como mapear as áreas mais altas para realizar o resgate, pois os animais iam para esses locais”.

Toda a operação transcorreu sob os olhos dos grandes veículos de informações e agências internacionais de notícias; e foi um sucesso, sem registro de acidentes, apesar dos locais de difícil acesso. Instituições como o Butantan, os zoológicos de São Paulo e Curitiba, Associação de Defesa e Educação Ambiental (ADEA), técnicos de Furnas, Eletrosul e órgãos de fiscalização como o Instituto de Terras e Cartografia do Paraná (ITC) e Polícia Florestal, acompanham a movimentação.

Após 40 anos, a Operação Mymba Kuera ainda é uma referência na atividade de resgate de animais e de seriedade no trato com as políticas ambientais e sustentáveis.