Itaipu: a hidrelétrica que mais produziu energia em relação à área alagada

Planos de conservação, inventários e levantamentos trabalharam o perfil da região e identificaram as espécies da fauna e flora.

 

Especial Meio Ambiente

 

Quando Itaipu tornou-se uma realidade, depois de assinado o Tratado, paralelamente às obras, foram iniciadas demandas ambientais por meio dos Relatórios Especiais, um processo de reconhecimento quanto aos efeitos ecológicos do empreendimento.

O trabalho envolveu vários setores, inclusive consultores do Banco Mundial, entre eles Robert Goodland, que assinou o Relatório nº 4 – um estudo ambiental que norteou os planos diretores, a gestão e os procedimentos operacionais, inclusive com atividades com espécies ameaçadas. O documento concluiu que apenas duas mudanças inevitáveis ocorreriam no meio ambiente como resultado da construção: a primeira seria no trecho do Rio Paraná, em maior parte constituído por uma garganta estreita e profunda, de acesso muito limitado, que deixaria de existir. A segunda seria o desaparecimento dos Saltos de Sete Quedas, considerados de difícil acesso.

Outras mudanças foram apontadas e consideradas de menor importância e não causariam distúrbios ecológicos ou ambientais que ameaçassem espécies de fauna e flora, consumindo recursos naturais insubstituíveis. Segundo a avaliação, haveria uma redução de habitat de animais, eliminando 700 km2 de florestas; a inundação de mais de 600 km2 de terras agrícolas e a consequente submersão de depósitos minerais desconhecidos e possivelmente de locais de interesse arqueológico.

O fato é que foi adotada uma postura até então inédita no setor elétrico brasileiro, servindo de referência para outros empreendimentos, quando foram propostas várias diretrizes para minimizar ou compensar os efeitos adversos sobre o meio ambiente e que seriam implementadas nas fases de construção e operação do gigantesco empreendimento.

O projeto, em sua avaliação global, considerou os benefícios de potencial energético e avaliou com seriedade a soma de todo o impacto negativo sobre o meio ambiente, o que foi considerado “relativamente inexpressivo”, uma vez a inexistência de uma grande população nativa; carência de peixes e a utilização do curso de água ao longo do rio. Tais fatores reforçaram uma proposta ecologicamente atrativa, segundo os resultados de um grupo de estudo no Rio Paraná, 1973.

Para viabilizar a adoção de medidas mitigadoras e compensatórias, a Diretoria de Coordenação de Itaipu elaborou o “Plano Básico de Conservação do Meio Ambiente”, aprovado por Resolução de Diretoria Executiva (RDE-119/75) em 17 de setembro de 1975. O documento estabeleceu um roteiro das atividades relacionadas com o meio ambiente necessárias ao pleno funcionamento da hidrelétrica e definiu os projetos que seriam vitais, considerando as alterações irreversíveis que poderiam verificar-se no equilíbrio natural existente.

Itaipu, por sua vez, seria a usina que mais produziria energia em relação à área alagada, proporcionalmente muito menor que as demais unidades. Com parâmetro, Sobradinho, com uma área alagada de 4.214 km² possui potência de 1.050 MW; Tucuruí, alagando 2.430 km², manteria 4.240 MW e Itaipu, uma obra de dimensões bem maiores, alagaria apenas 1.350 km², produzindo dez vezes mais energia, segundo a Eletrobrás.

Os inventários foram fundamentais na identificação de espécies. O levantamento florestal identificou uma vegetação primitiva do tipo floresta pluvial sub-tropical, predominante de espécies como o angico, aroeira, canafístula, cedro, peroba, entre outras.

O Plano Básico de Conservação propunha a realização de um inventário florestal em ambas as margens, determinando o índice de cobertura. Na margem esquerda, o trabalho foi realizado pelo Centro de Pesquisas Florestais da Universidade Federal do Paraná, identificando que 50% da área era utilizada para agricultura, 25% possuía vegetação em processo de regeneração natural na forma de capoeira ou áreas de repouso da atividade agrícola, e, 23% era constituída por florestas em vários estágios de exploração. As áreas urbanas ocupavam cerca de 0,1%.

Apesar do cronograma e etapas da então maior obra concebida pelo homem, havia um aparente cuidado com o meio ambiente, demonstrado pelos diretores. Em entrevistas, o general Costa Cavalcanti sempre fazia questão de observar as atenções com a natureza: “se você come o milho, arroz ou soja, tem que desmatar a floresta para plantar. Se come carne, tem que matar o boi. E se quer energia tem que usar as quedas. É inevitável.  Mas se pode fazer isso de uma forma que cause menos prejuízos ao meio-ambiente”, disse em uma entrevista. Acumulando as funções de diretor geral brasileiro e presidente da Eletrobrás, ele foi o responsável direto pela conquista de verbas necessárias para a execução dos planos de proteção ambiental. “Nunca uma central hidroelétrica dedicou tanto tempo e dinheiro ao meio-ambiente”, completou.

O interesse pelo meio ambiente surgiu quando Cavalcanti foi ministro do Interior, entre 1969 e 1974; foi ele quem criou a Secretaria Especial do Meio Ambiente e chefiou a delegação brasileira no Congresso Mundial do Meio Ambiente, em Estocolmo, em 1972.

A Conferência de Estocolmo marcou a história da construção da política ambiental no planeta.