Após décadas de espera e discussões, o sonho da duplicação da BR-469 se concretiza

O acesso às Cataratas do Iguaçu envolve questões sensíveis, culturais e históricas.
  • Suplemento Especial Obras e Construção Civil –

A BR-469 começa e termina na área Sul de Foz do Iguaçu. Aliás, a cidade convive com experiências similares, como a BR-600, também conhecida como Avenida Tancredo Neves, acesso entre a zona primária da Ponte da Amizade até os portões da Itaipu Binacional, no setor Norte. Em sentido Oeste-Leste, a BR-277 praticamente divide áreas muito movimentadas, interferindo no comércio e nas exportações.

Mas a BR-469, ou Estrada das Cataratas, possui um sentido mais profundo para a população, sensível à história e ao contexto de “cartão postal”, pois é por onde passam os visitantes e turistas. Com magníficos empreendimentos hoteleiros, parques temáticos e sendo o caminho para o Aeroporto Internacional e para os portões do Parque Nacional do Iguaçu, a estrada é uma das rotas mais importantes e visíveis da Região Sul do país.

As obras de duplicação hoje são uma realidade e causam efeitos subliminares perante a população, tanto flutuante como residente, gerando um misto de sonho, orgulho, curiosidade e preocupação. Perguntas frequentes são como o trajeto poderá ser utilizado, seja para serviços, transporte ou lazer. O fato é que, além do setor público, uma parcela considerável dessa responsabilidade está nas mãos da Dalba Engenharia, empresa responsável pelas obras realizadas no trecho de 8,7 km.

A estrada possui um simbolismo histórico e cultural que remonta a períodos anteriores ao século passado, quando se levava praticamente um dia até alcançar as majestosas quedas do Rio Iguaçu, visitadas desde os tempos em que pertenciam a um particular, o uruguaio Jesus do Val. Foi o caminho percorrido pela comitiva de Alberto Santos Dumont, o “Pai da Aviação”. Afinal, ele tornou-se o maior patrono do Parque Nacional do Iguaçu e suas incontáveis belezas. Ele é quem convenceu os governantes sobre a necessidade de transformar a área em “bem público”. Segundo a narrativa de vários historiadores, foi necessário trabalhar na retirada de árvores pelo caminho e até mesmo utilizar a figura de “batedores”, pessoas que se adiantavam para afugentar as onças e providenciar a remoção de obstáculos, para levar o inventor até as Cataratas.

Nas décadas de 1940 a 1950, o governo federal iniciou a abertura de uma faixa que daria lugar ao piso pavimentado, em boa parte com pedras rejuntadas. A obra começou para valer apenas em 1953 e teria sido concluída em 1958. Há, no entanto, registros de que foi oficialmente inaugurada em 1959. O traçado original ainda pode ser identificado em vários locais, suportando ainda resquícios de pavimentos centenários. O caminho iniciava onde é hoje a Avenida General Meira, na esquina onde está o Colégio Agrícola, seguindo pela atual Avenida dos Imigrantes e, depois, paralelamente à Avenida das Cataratas, passando pelos fundos do Hotel Carimã, agora Rua Indianópolis, até encontrar o traçado da BR-469. O calçamento da “Estrada Velha das Cataratas” ainda é perceptível em quase toda a área no interior do Parque Nacional.

Ao longo dos anos, a BR-469 foi recebendo obras de manutenção, sempre com promessas de melhorias, a exemplo de uma enorme discussão ocorrida em 1985. Houve a tentativa de uma primeira duplicação em 2006, mas a obra acabou embargada, com o resultado causando prejuízos aos usuários e moradores, evidenciados pelos buracos remanescentes em vários trechos.

As notícias sobre o novo projeto de duplicação e a execução das obras animaram a população e os que necessitam da via para a prestação de serviços, ir trabalhar ou contemplar paisagens.

A iniciativa fez parte de um importante pacote de demandas estruturantes lançado por Itaipu em convênio com o Governo do Paraná, por meio da Secretaria de Infraestrutura e Logística (SEIL), com participação do governo federal. As obras são supervisionadas e fiscalizadas pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER/PR).

Quando as máquinas e os operários começaram a trabalhar, em 2022, a população renovou as esperanças em realizar um dos seus antigos sonhos e muitas pessoas passaram a registrar as etapas em andamento e que vão se superando, como é o serviço de terraplanagem que praticamente cobre toda a extensão da obra; o traçado das margens e onde serão as trincheiras que possibilitarão os retornos, localizadas em quatro pontos.

Uma obra assim atende a uma série de complexidades, como facilitar o deslocamento das localidades na extensão da pista, no caso a área rural, bem como a movimentação nos hotéis; o serviço de transporte de hóspedes aos atrativos, áreas centrais de Foz; o atendimento aos setores de embarque e desembarque no Aeroporto Internacional e a visitação nos vários parques temáticos em atividades, com previsão para investimentos a todo momento anunciados.

Quem, por algum motivo, passar pela obra atualmente, já terá uma breve ideia de como a BR-469 será depois de pronta e os inúmeros benefícios a proporcionar.