Dilemas Contemporâneos: o chamado ético dos seres que sentem

Dilemas Contemporâneos: o chamado ético dos seres que sentem

Por Pedro Santafé

O que é ética animal e por que ela importa

O conceito de ética animal e senciência transformou profundamente minha forma de enxergar o mundo. Durante muito tempo, confesso que permaneci insensível à dor de outras espécies. Embora sentisse repulsa por violências explícitas — como rinhas ou caçadas —, não me comovia com a vida ao redor. Animais, aves e insetos pareciam meramente parte do pano de fundo da existência.

Com o tempo, percebi que essa indiferença não era natural, mas aprendida. E talvez, mais do que nunca, seja hora de desaprender essa indiferença diante do sofrimento animal.


Senciência animal: o reconhecimento da dor e do prazer

A senciência animal refere-se à capacidade dos animais de sentir dor, prazer, medo e alegria. Isso não é apenas uma suposição filosófica, mas um fato respaldado por evidências científicas. Diversos estudos demonstram que aves, peixes e até cefalópodes — como lulas e polvos — possuem sistemas nervosos desenvolvidos o suficiente para terem experiências subjetivas.

Assim, respeitar os seres que sentem vai além da compaixão: trata-se de um imperativo da ética animal. Se reconhecemos que eles sofrem, devemos incluí-los no nosso círculo moral.


Tradição x ética: revisitando práticas culturais

Práticas como vaquejadas, touradas e rodeios ainda são justificadas pela tradição. Mas se a cultura ignora a dor, ela precisa ser revista. Cresci no interior, onde caçar passarinhos era visto como diversão. Hoje, enxergo isso como reflexo da ignorância sobre a senciência animal.

Na Espanha, testemunhei touradas em Madri e, à época, vi beleza naquele ritual. Hoje, vejo um espetáculo de dor disfarçado de arte. A boa notícia é que a sociedade começa a reagir. A Catalunha, por exemplo, já proibiu touradas, reforçando a urgência do debate sobre a ética animal.


Avanços globais na defesa da ética animal

No Reino Unido, o projeto Sentience Bill obriga órgãos públicos a considerar o bem-estar animal em suas decisões. A RSPCA, em parceria com Oxford, promove conferências para debater o tema. E a London School of Economics criou um centro exclusivo de estudos sobre senciência, liderado por Jonathan Birch.

Essas ações demonstram que a discussão não é ideológica, mas científica, ética e política.


O Brasil ainda engatinha no debate

Enquanto o mundo avança, o Brasil trata o tema da ética animal de forma superficial. Falta união entre ciência, filosofia e políticas públicas. O tema ainda é marginalizado ou tratado com desdém.

Para encerrar, cito Primo Levi:

“Todo aquele que encontra um sofrimento e se abstém de combatê-lo se torna cúmplice dele.”

Que este ensaio seja um convite à consciência, não à culpa.

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