Mata Atlântica tragicamente desmatada. Um fato!
Por Wanderlei de Moraes
Após tanta devastação o que pensam os conservacionistas? Muitos ainda são otimistas e visionários. Sonham além de seu tempo e projetam um futuro de integração ambiental, social e econômica, logicamente com as devidas ressalvas, dificuldades e pé no chão.
Com esta visão desde 1999, Juan Carlos Chebes, um dos principais naturalistas e ambientalistas da Argentina propôs criar um grande corredor verde no Território de Missiones, que avançou para a ideia de criação um grande corredor trinacional, unindo os últimos remanescentes da Mata Atlântica na Região Oeste do Paraná, incluindo territórios na Argentina, Brasil e no Paraguai.
Esta visão avançou ao longo dos anos com complementações importantes como as feitas pela WWF e também por inúmeros outros colaboradores que geraram propostas e relatórios sobre o tema. Até hoje estes estudos norteiam trabalhos de recuperação desse rico ecossistema e de seus componentes como a harpia e a onça pintada.
Além dos corredores que naturalmente devem ser criados ou mantidos, reconectando o máximo dos fragmentos remanescestes, foi proposto também a criação de várias unidades de conservação, principalmente na Argentina, sendo proposto também o restabelecimento de áreas de conservação como a que havia sido extinta quando se inundou Sete Quedas – em Guaíra/PR – o Parque Nacional de Sete Quedas. Como parte da implantação dessas áreas protegidas surgiu por exemplo o Parque Nacional de Ilha Grande, conservando as últimas áreas alagadas do Rio Paraná.
A proposta original quando da criação do Corredor Verde Paranaense, ou Corredor Trinacional do Alto Paraná incluiu diversas categorias de áreas protegidas, como as remanescentes em Missiones – Argentina; as protegidas no Paraguai, principalmente no entorno do Museu Bertoni; as áreas protegidas e as faixas de proteção nas margem direita e esquerda da Itaipu Binacional – Paraguai e Brasil, além de espaços como o Parque Nacional do Iguaçu, incluindo também o Parque Nacional de Ilha Grande e podendo chegar até o Parque Estadual do Morro do Diabo no Estado de São Paulo. Um imenso mosaico de unidades conectadas e protegidas com o principal propósito de conservar ao máximo esse ecossistema e suas interfaces.
Parece muito, parece impossível, mas muitas espécies de animais e plantas conseguem deslocar-se por estes fragmentos, não tão conectados, permitindo a manutenção de uma quantidade e variedade de indivíduos suficientes para manterem as espécies em evolução.
Muitas situações e conceitos de conservação vem mudando nos últimos anos, principalmente pelo crescente aumento da pressão da humanidade sobre todos os recursos naturais e também por necessidade de espaço. Afinal saímos de 2 bilhões de pessoas a mais ou menos 90 anos atrás, e, hoje, estamos próximos da marca de 8 bilhões de habitantes. Portanto, conservar o máximo possível parece ser ainda uma meta viável para evitar a perda de espécies e também manter e até melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Tudo está mais escasso e difícil, principalmente porque o meio ambiente não tem como se regenerar no mesmo ritmo que a população humana cresce, e, consequentemente, exige para sua subsistência.
A cada ano, o cálculo da disponibilidade de recursos na Terra se encolhe. Em 1970 calculava-se que estes recursos eram suficientes para chegar a janeiro do ano seguinte. Hoje mal chega ao final de setembro.
O dia de superação da disponibilidade de recursos, em cada país, pode se estender até próximo aos 15 últimos dias do ano como na Indonésia ou acabar em apenas um mês e onze dias como no Catar, variando muito dependendo dos recursos utilizados e da disponibilidade de recursos existentes.
Possibilidades?
Para alguns, encontrá-las e implantá-las está tão difícil quanto um neném começar a andar. Leva tempo e exige aprendizagem. Porém muitos ainda acreditam que existe a possibilidade de conservar parte deste ecossistema, evitando ao máximo a extinção de espécies e sabendo que ainda podemos garantir matéria prima para que a natureza se recomponha e continue a seguir evoluindo, nas mais diferentes formas.
É um alento para todos que integram e vivem com essa imensa biodiversidade.
Isso inclui a nossa espécie.
Wanderlei de Moraes é Médico Veterinário, formado na Universidade Federal Fluminense em 1985; Mestre e Doutor em Ciências Veterinárias pela Universidade Federal do Paraná, 2018. Trabalhou como veterinário na Itaipu Binacional de 1988 a 2018 e foi responsável Técnico do Zoológico “Roberto Ribas Lange” e do Criadouro de Animais Silvestre – CASIB. Participou de diversas comissões e comitês governamentais na área de conservação da fauna e medicina veterinária de animais silvestres. Foi professor universitário.