Dubai: a COP 28 não pode ser só mais uma grande festa

 

  • Por Luiz Henrique Dias- 

Um estudo divulgado pela ONU há alguns dias fala uma redução de apenas 2% nas emissões mundiais de gases estufa nos últimos 4 anos, o que coloca o mundo longe, mas muito longe mesmo, de atingir meta de 43% acordada no Acordo de Paris (2015) até 2030.

Esse estudo é ainda mais preocupante quando estamos hoje no olho de um furacão climático que está fazendo deste ano o ano mais quente da história e isso, alinhado a uma série de acontecimentos como enchentes, secas e inundações, aponta para uma curva de crescimento em mais de 2,5ºC a temperatura média do planeta, em relação ao período pré-industrial, até o final desse século.

E é nesse caldo que a COP 28, começando nesta quinta-feira em Dubai, que por ironia é a capital dos Emirados Árabes, uma potência na produção de petróleo, com a missão de avaliar os resultados do Acordo de Paris e apontar caminhos para a redução das emissões mundiais. Chefes de Estado, personalidades da ciência e muita gente rica que pode ajudar nesse processo, estarão entre as mais de 70 mil pessoas participantes esperados na Conferência.

No entanto, é urgente se sair de Dubai acordado que o mundo vai levar a sério as transições energética e ecológica, a busca incessante do cumprimento das metas de redução das emissões, a ampliação do empreendedorismo de Estado, com recursos para pesquisa, desenvolvimento e implantação de fontes renováveis e o compromisso dos países desenvolvidos, em especial dos EUA, de entregarem metas mais ousadas, dando margem e flexibilidade para países em desenvolvimento, como o Brasil, efetuarem transições possíveis para suas economias.

E para o mundo, independente da COP, deve ficar clara a lição de que o modelo econômico em que estamos inseridos, com sua forma perversa de ampliação de desigualdades e exaustão extrema do planeta, precisa ser compreendido e superado, em um processo de mitigação dos impactos ambientais e aportes financeiros para os países mais pobres superarem um de seus principais problemas: a fome. Precisamos sim falar em Inteligência Artificial e em Hidrogênio Verde, mas também precisamos lembrar: ainda há pessoas passando fome.

O encontro de Dubai tem a oportunidade ser um ponto de inflexão real ou ser apenas mais uma grande festa.

Vamos aguardar.

Luiz Henrique Dias é professor e coordenador do Coletivo da Cidade.