Quando o fogo vem de dentro

Trump mira no Fed, o Brasil exporta mais carne e café, e Foz continua esperando por obras que sempre parecem começar e terminar amanhã.

Bom dia, leitores!

Chegamos ao dia 27 de agosto, a 239ª jornada do ano — restam 127 até o réveillon. No calendário religioso, celebra-se Santa Mônica, mãe de Santo Agostinho, lembrada pela paciência e devoção. Na história, a data também carrega marcas profundas: em 1883, a erupção do Krakatoa, na Indonésia, provocava uma das maiores catástrofes vulcânicas já registradas, alterando o clima mundial. Em 1955, a televisão brasileira transmitia pela primeira vez em cores, ainda de forma experimental. E em 2008, a Rússia reconhecia oficialmente a independência da Ossétia do Sul e da Abkházia, repercutindo no cenário geopolítico. No Brasil, celebra-se o Dia do Psicólogo, profissão essencial no equilíbrio das emoções humanas. Vamos que vamos…

 

Mundão às avessas

Trump resolveu mirar o canhão para dentro de casa. Depois de semanas distribuindo tarifaços e ameaças mundo afora — da China à Venezuela —, o “mandatário” americano decidiu que o maior inimigo estava em Washington. A oposição cresce, antigos aliados pulam fora do barco e, no meio do tiroteio político, ele inventa de demitir a diretora do Federal Reserve, Lisa Cook. O problema é que, ao contrário de reality show, no Banco Central não basta dizer “você está fora!”. O episódio lembra a novela brasileira, quando Lula precisou engolir Roberto Campos Neto no BC. A diferença é que, por lá, Wall Street já abriu o pregão aos berros.

 

O caso Lisa Cook

A diretora do Fed, Lisa Cook, respondeu como manda o figurino: “não vou renunciar”. O advogado dela reforçou que Trump não tem poder legal para tirá-la do cargo. A justificativa do presidente — acusações nebulosas ligadas a hipotecas — é considerada frágil e ameaça diretamente a independência do Banco Central americano. Cook está no cargo desde 2022 e integra o poderoso comitê que decide os juros. Trump, impaciente, queria cortes rápidos. Como não vieram, partiu para a pressão máxima. É o tipo de jogada que pode custar caro: ao invés de acalmar a economia, jogou combustível no incêndio.

 

O caldeirão econômico

Enquanto a batalha jurídica começa, o mercado reagiu como sempre: com nervos à flor da pele. Bolsas em queda, importadores de alimentos reclamando e redes supermercadistas pressionando. A população americana já se acostumou a produtos vindos do mundo todo — e ironicamente, os brasileiros seguem no topo da lista. Trump pode até acreditar que está defendendo a economia nacional, mas, na prática, está criando um caldeirão de instabilidade. O que deveria ser uma cruzada contra inimigos externos virou um ringue doméstico, onde o maior adversário dele parece ser… ele mesmo.

 

O gigante acordou?

Trump quis afundar o Brasil com o tarifaço, mas o tiro saiu pela culatra. A produção de carne e café mostrou que é indomável. Os setores simplesmente dispensaram o “socorro” governamental, afirmando que conseguem se virar sozinhos. Ironia: foi preciso um susto estrangeiro para despertar o famoso “gigante adormecido” — esse mesmo que, quando resolve levantar, incomoda os mercados globais.

 

Carne, café e autoconfiança

Entre janeiro e julho, as exportações de carne bovina para os Estados Unidos subiram 106%. O café brasileiro abastece um terço das xícaras americanas. E mesmo com o tarifaço, agosto caminha para novo recorde. Diante disso, faz sentido os produtores dizerem: “obrigado, governo, mas não precisamos da rede de proteção agora”. A fala do ministro Paulo Teixeira soa como otimismo, mas, no fundo, é constatação: o Brasil está vendendo, e bem. Trump quis fechar a porta, mas o mercado abriu a janela. No fundo alguém está ligando que o norte-americano paga mais caro?

 

O feitiço da tarifa

A lista de produtos que podem pedir apoio oficial é vasta: de açaí a tilápia, passando por manga, castanhas e mel. Mas o curioso é que os gigantes do agro parecem dispostos a dispensar o colo do Estado. Enquanto os americanos reclamam do aumento nos supermercados, o Brasil se reposiciona e até ganha musculatura no comércio. Trump pode até acreditar que aplica uma punição histórica, mas o efeito prático lembra aquelas novelas mexicanas: quanto mais drama, mais audiência. Aqui, quanto mais tarifa, mais exportação, vai entende?

 

São Vicente e Grandinas

O governo abriu champanhe porque a carne brasileira chegou a São Vicente e Granadinas. Até aí, tudo bem, mas convenhamos: é uma ilha com pouco mais de 100 mil habitantes. Foz do Iguaçu sozinha deve mastigar mais picanha em um fim de semana do que aquela população inteira em um ano. Em 2024, exportamos US$ 15,9 milhões em produtos agropecuários para o Caribe, sendo 76% em carne e frango. É como anunciar que se vendeu gelo para esquimó — funciona para a foto, mas não para encher o caixa.

 

Rabo de boi nas Filipinas

Já nas Filipinas o jogo é outro. Lá são 118 milhões de habitantes, com apetite de fazer inveja. O prato típico, o Adobo, virou destino certo para a carne bovina brasileira — e, acredite, até o rabo de boi ganhou status de iguaria. Considerando que cada boi só tem um, o negócio é rentável. Em 2024, o Brasil mandou mais de US$ 1,5 bilhão em produtos agropecuários para o país. Se Trump acha que seu tarifaço vai segurar a boiada, precisa avisar aos filipinos: eles já estão na fila, guardando prato e garfo.

 

A conta não fecha

Enquanto isso, aqui dentro, o brasileiro encara o açougue como se fosse leilão de joias. A carne chega mais barata em mercados dos EUA — mesmo com tarifaço e dólar forte — do que em muitos supermercados de Foz do Iguaçu. É como se exportássemos felicidade e importássemos frustração. O governo comemora novos mercados, a pecuária enriquece com a crise, e o consumidor brasileiro continua pagando o preço de medalhão suíço pela carne de segunda. É a matemática do absurdo: sobra boi no pasto, falta carne na mesa.

 

Vamos até mudar de assunto…

Quem passa pela BR-469 e suja o carro de barro já nem liga. O consolo é saber que a duplicação está em andamento. O problema é o prazo: Ratinho Jr. jura que entrega até dezembro. Considerando que estamos batendo às portas de setembro, é obra para Papai Noel estacionar o trenó na lama.

 

Promessa antiga

A duplicação da Avenida das Cataratas já foi prometida para março de 2024, adiada para junho de 2026 e, agora, reaparece no discurso como “fim do ano”. Se obras falassem, diriam: “até nós cansamos dessa ladainha”. Mas o governador segue otimista — e quem duvida do poder da fé?

 

Ponte que não liga

A Perimetral Leste é chave para abrir a Ponte da Integração, pronta desde 2022, mas ainda fechada. O paradoxo é quase poético: temos ponte, mas não temos caminho. A Receita Federal promete liberação só em 2026. Até lá, o rio continua unindo os países e a burocracia, separando.

 

R$ 500 milhões de sonhos

Entre anúncios e powerpoints, fala-se em meio bilhão para projetos urbanísticos: Beira Rio requalificada, Avenida Itaboraí metropolitana, trincheira entre Vila Portes e Jupira, parque novo no Monjolo… é tanto projeto…

 

As obras esquecidas

O pacote fala em 12 novas pontes, revitalização do Bosque Guarani, do Horto, da Praça da Bíblia… mas, curiosamente, o acesso ao CTG ficou de fora — outra vez. Para alguns, essa é a obra que valeria mais que todas as outras juntas. Se o General Silva e Luna ouvir o clamor gaudério, ganha estátua a cavalo.

 

Buracos falantes

No fim, obras urbanas são vitais para a imagem da gestão municipal. Se o prefeito entregar metade do que anunciou, já entra para a história. Mas precisa combinar com a pavimentação: porque, em Foz, os buracos falam. E falam alto. Às vezes, mais alto que qualquer discurso político. É certo que essa gritaria deixará que acontecer com o trânsito mais ordenado e os caminhões passando fora do centro da cidade. É uma questão de tempo, leia-se meses, se os prazos forem realmente atendidos.  Uma boa quarta-feira a todos!