A privatização dos serviços no Parque Nacional do Iguaçu foi mais que um divisor de fases; foi a consolidação após um século de trabalho no setor do Turismo. Mas não fosse o diálogo no setor, o sucesso não seria tão consagrador.
Quem chegava aos protões do Parque Nacional do Iguaçu, precisava passar pelas guaritas onde funcionavam as bilheterias. Podia-se entrar com os veículos depois de pagar pelos ingressos. Enormes filas se formavam ao longo da BR 469, em épocas de temporada. O local era cercado de pequenos estabelecimentos fornecendo água, lanches, artesanato e o serviço de câmbio, além de um ponto de taxi. O vai e vem de automóveis, vans e ônibus causavam enorme transtorno aos usuários e também à fauna e flora. Era comum os visitantes estacionarem ao longo do percurso de dez quilômetros no interior do Parque. Uns descansavam, admiravam as matas, aproveitando a sombra das árvores, desfrutando um tereré e alguns ousavam acender o fogo e fazer churrasco, o que era rapidamente repelido pela Polícia Florestal.
As notícias de animais atropelados eram comuns, a começar pelas onças-pintadas, cuja espécie é ameaçada de extinção. Caçadores também se aproveitavam das facilidades e se embrenhavam nas matas.
Chegando próximo das quedas, havia pequenas estruturas do tipo “choupanas”, licitadas para a venda de bebidas e sorvetes. O mesmo ocorria nas proximidades do hotel e em todo o perímetro das trilhas de acesso às quedas. Os serviços eram licitados, tais como a fotografia, filmagens, vendas de capas, sorvetes e acesso ao elevador. Ao final do trecho, os veículos estacionavam, sem critérios ou controle. Perto daquele local as pessoas se banhavam em piscinas naturais antes do Santo Floriano. Havia garrafas e copos e lixo espalhado por todos os lados, uma visão que em nada era compatível com a belas lições aplicadas pela Natureza.
A estrutura também era muito deteriorada, com corrimãos apodrecidos, piso liso sem proteção ou onde os visitantes pudessem se amparar; assim as pessoas se avolumavam nas passarelas, mesmo em épocas de cheias no Rio Iguaçu. O desleixo e falta de cuidados eram frequentemente noticiados, o que incomodava e muito as autoridades. Cabia ao IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal a administração da área. O órgão, mais tarde, deu origem ao IBAMA.
Quando surgiram as primeiras notícias sobre uma possível privatização dos serviços no Parque Nacional do Iguaçu houve alvoroço e muitos se posicionaram publicamente contra. Debates aconteceram em toda a cidade e grupos chegaram a organizar movimentos de bloqueio na BR 469.
A empresa Cataratas S/A venceu o certame de licitação e passou a administrar os serviços em 1999. Por meio de diplomacia, a concessionária foi aos poucos acalmando a situação. Várias reuniões foram realizadas com a comunidade enquanto as obras avançavam. No compasso de apresentação dos projetos, mostrando o potencial de organização e geração de empregos, a empresa foi conquistando parceiros, logo, orgulhosos com as estruturas de recepção, ônibus personalizados perfazendo os percursos; shopping de souvenires agradando a clientela, lanchonetes, cafés e restaurantes, a exemplo da imponente estrutura conhecida como Porto Canoas, um grande deck a se tornar referência gastronômica internacional.
Mas não foi apenas com altas somas de investimentos e obras físicas que a concessionária convenceu. Foi preciso adotar uma série de decisões que por fim, ajudaram a mudar a cara do destino, inclusive com a promoção de eventos culturais, esportivos. Houve além do mais, grande impacto comunitário, em toda a área lindeira do Parque Nacional do Iguaçu.
O sucesso foi medido ao longo dos anos: na quebra de recordes de visitação. Os números foram crescendo até superarem os dois milhões de visitantes em 2019.
Os ótimos resultados não foram sorte ou acaso e sim, fruto de muita organização, trabalho e diálogo. Segundo a opinião da maioria dos pesquisados para a realização desta matéria, vários fatores foram primordiais, a começar pelas pessoas certas nos lugares certos, e, no devido tempo, a sintonia causou um dinamismo exemplar nas múltiplas ações impostas pelo segmento do Turismo. Foi quando a iniciativa privada e setor público conseguiram ineditamente um mesmo compasso, com todos os órgãos associativos, entidades de classe, autarquias, além dos poderes Legislativo, Executivo trabalhando com um mesmo objetivo, somando-se a isso, a presença expressiva de Itaipu Binacional em várias demandas.
Foz do Iguaçu deu passos largos nesse período, fortalecendo o COMTUR, criando o Fundo Iguaçu de Divulgação, reorganizando a Secretaria de Turismo mais próxima da EMBRATUR e Ministério do Turismo, revitalizando ferramentas importantes na captação de eventos, como é o caso das atividades do Visit Iguassu.
Ao passar do tempo, o sucesso foi atraindo vários investimentos como o Dreams Park Show, Movie Cars; Blue Park e um belo complexo de contemplação e lazer foi construído no Marco das Três Fronteiras, com outros investimentos de porte em projetos de implantação. Na área Sul da cidade, como exemplo, houve uma revolução com a construção a segunda travessia com o Paraguai, a Ponte da Integração. O local recebeu uma roda gigante com cerca de 80 metros de altura, a Yup Star, uma das maiores da América Latina.
Houve também considerável aumento de leitos na hotelaria com a reforma e construção de novos hotéis; a abertura de shoppings e lojas francas, em verdade filiais de empresas existentes em Cuidad del Este, responsáveis por grandes marcas mundiais e de qualidade.
Para muitos o que se conquistou em duas décadas foi bem além do esperado. Um sonho que ao acaso, como em todo o Planeta, acabou ofuscado pela Pandemia.
Da Redação
Fotos Arquivo Histórico