A bacia que move a energia: a água de Itaipu como ativo estratégico do século XXI
Antes da energia, existe a água — e é nela que começa a verdadeira engenharia da usina. Compreender 2025 exige olhar para o reservatório como capital natural, base geopolítica e pilar de um sistema que sustenta milhões de pessoas e duas nações.
Redação Almanaque Futuro
A força de Itaipu Binacional nasce antes das turbinas, na vastidão líquida que alimenta sua existência. O reservatório, com 1.350 km², não é apenas um espelho d’água criado em 1982: é um organismo vivo conectado à Bacia Hidrográfica do Paraná 3, cujo território abrange três países e influencia a vida de mais de 30 milhões de pessoas. Pequeno quando comparado a outros lagos artificiais, mas gigante em eficiência, ele funciona como regulador hídrico e coração do sistema de geração — garantindo estabilidade mesmo em anos de severa seca.
Essa estabilidade, entretanto, não é obra do acaso. Desde os anos 2000, Itaipu adotou uma visão pioneira: tratar o reservatório não como depósito de água, mas como resultado final de um processo que começa no solo. A máxima “água boa começa na terra” passou a orientar a gestão binacional da bacia, com monitoramento de mais de 1.300 microbacias, ações de contenção de erosão, saneamento rural, recuperação de nascentes e capacitação de produtores. Esses programas reduziram o assoreamento, melhoraram a infiltração e elevaram a qualidade da água — fatores decisivos para o desempenho energético da usina.
Ao contrário de muitos reservatórios artificiais, o lago de Itaipu mantém-se produtivo, preservado e multifuncional. É ambiente de pesquisa, pesca artesanal, turismo e conservação. Sua vigilância é permanente: sensores hidrometeorológicos, imagens de satélite, batimetria e estudos limnológicos formam uma rede moderna de prevenção. Cada parâmetro, da turbidez ao volume útil, revela a saúde ambiental que sustenta o sistema energético.

Num século marcado pela escassez hídrica e pela transição energética, a água tornou-se vetor de poder global. E Itaipu, com capacidade de geração firme, previsível e renovável, consolidou-se como ator geoestratégico. Não apenas produz energia — modera usos, mitiga impactos climáticos, fortalece a economia regional e assegura estabilidade num território trinacional pressionado por demandas crescentes.
A integração Brasil–Paraguai reforça essa posição. A partilha igualitária de energia e o mecanismo de compensação previstos no Anexo C criam uma interdependência virtuosa: um modelo de diplomacia hídrica raro no mundo, onde o reservatório não é objeto de disputa, mas de cooperação.
Compreender a água como ativo estratégico é entender a lógica que sustentou a maior virada ambiental da usina. Reconhecendo que geração depende da saúde da bacia, Itaipu assumiu, ainda nos anos 2000, o compromisso de recuperar florestas, restaurar ecossistemas e reconstruir serviços ecológicos degradados. Dessa visão nasceu um dos maiores programas de conservação do planeta — o Corredor da Biodiversidade — tema da próxima página desta série.
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