Pesquisador da UNILA participa do desenvolvimento de novo teste para diagnóstico de Covid-19
Iniciativa, que reuniu várias universidades do país, resultou em um kit diagnóstico com tecnologia 100% nacional, já patenteado e com lançamento previsto para os próximos meses
Durante a pandemia de Covid-19, quando o Brasil ainda dependia de testes importados com baixa confiabilidade para enfrentar a crise sanitária, um grupo de pesquisadores de todo o país integrou um esforço nacional para o desenvolvimento de uma nova tecnologia de diagnóstico. O projeto, que contou com a participação do professor Kelvinson Viana, da UNILA, resultou em um kit diagnóstico com tecnologia 100% nacional, cuja patente foi transferida recentemente para uma empresa de biotecnologia, a Vida Biotecnologia, com previsão de produção e comercialização nos próximos meses.
A participação da UNILA teve início ainda em 2020, quando professores e estudantes da Universidade atuavam na testagem de pacientes com suspeita de Covid-19 no Hospital Municipal Padre Germano Lauck (HMPGL). O volume de amostras coletadas possibilitou análises aprofundadas da resposta imunológica da população local ao vírus SARS-CoV-2. Os dados subsidiaram, inclusive, decisões de gestão pública, como a reabertura da Ponte da Amizade, entre Brasil e Paraguai.
“Foi um período muito desafiador, mas de enorme aprendizado”, lembra o professor Kelvinson Viana. “Utilizamos diferentes proteínas em busca de um diagnóstico mais eficaz. Testamos milhares de amostras, catalogamos, enviamos parte do material para outros laboratórios parceiros e, com o tempo, conseguimos chegar a um alvo promissor.”
O diferencial do novo teste está justamente nesta molécula-alvo: uma proteína desenvolvida a partir da tecnologia de bioinformática, que identifica com maior precisão a presença de anticorpos contra Covid-19, evitando confusões com infecções por outros vírus respiratórios, como os da Influenza, o vírus sincicial respiratório e outros coronavírus sazonais. Esta característica confere ao teste uma sensibilidade superior à dos demais kits sorológicos disponíveis no mercado. “Essa proteína consegue diferenciar com maior clareza os casos de Covid-19 de outras infecções, inclusive nos casos assintomáticos. Isso reduz os falsos positivos e permite um tratamento mais adequado para os pacientes”, explica Viana.
Após a validação da tecnologia em diferentes laboratórios e estados brasileiros, a patente foi depositada por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que coordenou o projeto. Em 2024, a empresa Vida Biotecnologia formalizou o interesse em licenciar a tecnologia e firmou contrato com todas as universidades envolvidas. A produção dos kits depende ainda da autorização da Anvisa, processo que pode levar de seis meses a um ano.
Além do avanço científico e tecnológico, o projeto também trouxe impactos positivos para a formação de estudantes. “Foi um dos períodos em que os alunos mais trabalharam. Muitos deles, hoje, estão no mestrado e doutorado, alguns até na UFMG, em programas voltados à inovação. A prática que eles tiveram durante a pandemia foi decisiva para isso. Eles puderam vivenciar um processo real de pesquisa aplicada, do início ao fim: desde a coleta e análise de amostras até a elaboração de patentes”, destaca.

Participação da UNILA
Na UNILA, o projeto foi conduzido no Laboratório de Bioquímica e Microbiologia, coordenado pelo professor Kelvinson, com uma equipe composta por cerca de dez estudantes. A origem das amostras no estudo foi o Laboratório do HMPGL. Por meio de um convênio firmado entre Prefeitura e UNILA, ainda em 2020, a Universidade passou a atuar diretamente na realização de exames de casos suspeitos de Covid-19. Os testes do tipo RT-qPCR eram processados com equipamentos do Laboratório de Pesquisa em Ciências Médicas, que foram transferidos ao Hospital, e executados por equipes da UNILA e do Município, sob a coordenação da professora Maria Leandra Terencio.
No Laboratório de Bioquímica e Microbiologia, o trabalho incluiu longas jornadas de testagem – muitas vezes entrando pela madrugada –, organização e envio de amostras biológicas, em colaboração direta com a equipe da UFMG. A proteína, que ainda não recebeu um nome comercial, foi uma das cerca de dez moléculas patenteadas ao longo da pandemia por esse grupo de pesquisa. A expectativa é de que outras tecnologias desenvolvidas no mesmo período também avancem para o mercado.
“Esse é um exemplo de como a universidade pública contribui com inovação e desenvolvimento tecnológico. Além de ser um produto que vai beneficiar a população via SUS, é também uma fonte de retorno financeiro para as instituições envolvidas, por meio de royalties e licenciamento. É um ciclo virtuoso de ciência, ensino e impacto social.”
Além da UNILA e da UFMG, participaram do projeto docentes e estudantes da Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ), da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e da Universidade Professor Edson Antônio Velano (Unifenas).
Assessoria de Imprensa Unila