Empreiteira não cumpre promessa e população perde a paciência

Moradores da área Sul, cansados das promessas, atolam-se no trânsito enquanto a obra segue no modo ‘um dia talvez acabe’.

Rogério Bonato – Redação Almanaque Futuro

Os acessos às localidades da área Sul de Foz do Iguaçu amanheceram, mais uma vez, em colapso. O congestionamento no sentido Cataratas ultrapassava a rotatória do Catuaí Palladium, numa cena que mais parecia véspera de feriado — não fosse o simples fato de que aquilo apenas em uma sexta-feira qualquer. E, claro, mais um capítulo da novela sem fim chamada Duplicação da BR-469 e Perimetral Leste.

Durante a semana, a Dalba Engenharia, responsável pelas obras, publicou dois avisos nas redes sociais. No primeiro, orientava que o trânsito vindo da Argentina e Porto Meira deveria utilizar o novo viaduto e acessar a alça de retorno — uma obra que, para muitos motoristas, parecia menos um projeto de mobilidade e mais um teste de paciência espiritual. O segundo informe, porém, trouxe um fiapo de esperança: a abertura da Rua Carmem Gatti e novos acessos em todas as direções. Quase festa. Quase.

Porque o “quase” virou tradição.

Há meses, moradores do Novo Horizonte, Carimã e Jardim Buenos Aires enfrentam o absurdo de depender de um único acesso: a Rua Indianópolis, que ficou parecida com aquelas estradas coloniais onde todo mundo passa, mas ninguém chega. A situação destruiu a fluidez do bairro, estrangulou o comércio local — justamente o que atrai turistas e gente de toda a região — e transformou moradores, trabalhadores e fornecedores em figurantes permanentes de um trânsito kafkiano. Traduzindo: algo absurdo, opressivo, desorganizado e sem lógica, como nas obras de Franz Kafka.

Nada disso combina com uma cidade que vive do turismo, da hospitalidade e do fluxo comercial. Pior ainda: às vésperas do fim do ano, período em que visitantes e moradores esperam — ingenuamente — deslocar-se com algum conforto para antecipar compras de Natal. Em Foz, entretanto, o que se antecipa é só o caos.

A duplicação da BR-469, a velha Estrada das Cataratas, acumula mais de um ano de atraso, tropeça em sobressaltos administrativos, e ainda foi protagonista de um anúncio de recuperação econômica da empreiteira — o que, convenhamos, já seria um ótimo tema para tragicomédia municipal. Mesmo assim, o governo do Estado garantiu recentemente que trechos seriam entregues até dezembro. Basta passar pelo local para saber que Papai Noel teria mais chances de chegar voando, com as renas, do que essa promessa se tornar realidade.

O governador Ratinho Júnior esteve em Foz nesta quinta-feira e visitou as obras. Informações de bastidores dizem que não gostou do que viu — e que cobrou providências. Tomara. A cidade inteira já cobra há meses.

Até o meio da manhã desta sexta-feira, porém, nenhum informe oficial esclareceu por que a tão esperada abertura da Rua Carmen Gatti ainda não havia sido efetivada. E sem ela, o trânsito seguirá em transe total. A Avenida Maria Bubiak permanece interditada, penalizando empreendimentos hoteleiros, condomínios e toda a economia que respira na área.

Enquanto a empreiteira contabiliza atrasos e justificativas, e o poder público empurra promessas para o mês seguinte, a população segue cumprindo uma verdadeira via sacra de desvios — sem alternativas, sem respeito e sem horizonte claro.

Para uma cidade que se vende ao mundo como capital do turismo sustentável, é bom lembrar: não há destino turístico possível se os próprios moradores não conseguem chegar ao destino de suas casas.

Imagens geristrada por moradores da área Sul de Foz, na manhã desta sexta-feira 14/11.