No coração da selva, nasce esperança: Parque Nacional ganha novo filhote de onça e chama a população para batizar o pequeno guardião do Iguaçu
Em tempos de pressões urbanas e descaso ambiental, a natureza dá sua resposta: nasce mais um filhote de onça-pintada — símbolo vivo da resistência ecológica do Iguaçu.
Rogério Bonato – Almanaque Futuro/Com informações e imagens da assessoria Urbia+Cataratas/Imagens de onças fornecidas pelo Projeto Onças do Iguaçu/ Imagens aéreas de Bruno Bimbato
No momento em que Foz do Iguaçu enfrenta dilemas urbanos, pressões sobre infraestrutura e episódios que colocam à prova a paciência de moradores e visitantes, o Parque Nacional do Iguaçu surge com uma notícia luminosa: o nascimento de um novo filhote de onça-pintada, registrado pelas equipes do Projeto Onças do Iguaçu (fonte oficial). O pequeno, um macho com cerca de um ano, filho da onça Angá, não representa apenas a expansão da família felina; simboliza a vitalidade de um ecossistema que insiste em se equilibrar mesmo diante das turbulências do mundo moderno. A própria floresta, silenciosa, parece responder: enquanto as cidades patinam, a natureza se reorganiza e reafirma sua força.
A reprodução da onça-pintada, maior felino das Américas e predadora de topo, é um dos indicadores mais precisos da saúde ambiental do Parque Nacional. Esse animal só mantém populações estáveis quando todo o ecossistema que sustenta sua cadeia alimentar está equilibrado — desde a abundância de presas naturais até a integridade da floresta, dos rios e das áreas de circulação genética. Quando uma onça procria, significa que há alimento suficiente, território preservado, baixa pressão de caça e um ambiente seguro para o nascimento e a criação de filhotes. É um termômetro ecológico universalmente reconhecido: onde há onça se reproduzindo, há floresta viva; e quando ela prospera, é sinal de que todo o mosaico da Mata Atlântica funciona como deveria.

A notícia do novo filhote veio acompanhada de uma ação de participação comunitária. A Urbia+Cataratas, concessionária responsável pela visitação turística, em parceria com o Projeto Onças do Iguaçu, abriu uma votação pública para escolher o nome do novo morador do Patrimônio Mundial Natural. A iniciativa, que une conservação, cultura e educação ambiental, convida moradores e visitantes a integrarem simbolicamente a história da espécie. A votação segue até 28 de novembro, via formulário online (https://forms.office.com/r/HeaLHCaCtf), e apresenta três nomes de origem guarani, carregados de ancestralidade: Arandu, que significa sábio; Ñandu, o vento forte; e Taupá, o cacique do Rio Iguaçu. O resultado será divulgado em 29 de novembro, e um painel com QR code já está disponível no Centro de Visitantes.
O filhote recém-descoberto revela uma narrativa que atravessa gerações de onças monitoradas. Angá, sua mãe, é filha de Cacira, acompanhada pelo projeto desde 2019. Em 2023, Angá teve seus primeiros filhotes, Peri e Mayo. Em 2024, recebeu um colar de monitoramento via satélite, ferramenta que auxilia pesquisadores a compreender seus deslocamentos e comportamento. Em fevereiro deste ano, veio uma surpresa extraordinária: novos filhotinhos. Em setembro, um deles foi identificado como macho e agora aguarda seu nome oficial. Cada nascimento reafirma a importância da ciência, do manejo responsável e do compromisso com a integridade da floresta.
A relevância desse acontecimento cresce quando analisada sob o prisma dos dados ambientais. Em 2005, estimava-se que restavam apenas de 40 a 50 onças no corredor verde entre Brasil e Argentina, sendo somente 9 a 11 dentro do Parque Nacional do Iguaçu. Era quase um retrato pré-desaparecimento. Mas o censo brasileiro-argentino de 2024 trouxe alívio: hoje são ao menos 84 onças-pintadas vivendo no corredor, demonstrando que décadas de conservação, combate à caça e restauração ambiental começam a dar frutos concretos. O nascimento de mais um filhote é resultado direto desse esforço coletivo — e reforça o Iguaçu como um dos últimos refúgios plenamente funcionais da espécie na Mata Atlântica.

Todo esse avanço não ocorre sozinho. A Urbia+Cataratas apoia financeiramente o projeto Crocheteiras da Onça, coletivo de mulheres rurais que produz amigurumis da espécie, gerando renda e aproximando comunidades da causa. Em novembro de 2024, a concessionária e o ICMBio anunciaram ainda o repasse de R$ 3,9 milhões ao Projeto Onças do Iguaçu, fortalecendo sua capacidade de monitoramento e educação ambiental. Quem quiser colaborar com a iniciativa pode adquirir produtos temáticos nas lojas do parque, experimentar a cerveja exclusiva Jaguareté, disponível nos pontos de alimentação, ou contribuir via PIX: procarnivoros@procarnivoros.org.br
A história do novo filhote não é apenas uma nota de biodiversidade — é um recado contundente. Lembra que desenvolvimento sem preservação é um equívoco caro e que a vida silvestre, quando protegida, devolve resultados generosos. O Parque Nacional do Iguaçu, administrado pelo ICMBio, com visitação gerida pela Urbia+Cataratas, permanece como referência internacional em turismo sustentável, reconhecido como Patrimônio Mundial Natural pela UNESCO e eleito principal atração da América Latina pelo Tripadvisor. Em meio às urgências urbanas, ao esgotamento das cidades e ao avanço das fronteiras humanas, o nascimento dessa onça nos lembra que, onde a floresta respira, a esperança permanece intacta.
E há ainda outra dimensão que merece destaque: as onças-pintadas, assim como inúmeras outras espécies do parque, tornaram-se fonte permanente de inspiração para o artesanato regional. Hoje, milhares de pessoas vivem dessa atividade criativa, que transforma a fauna local em identidade cultural, renda e oportunidade. O artesanato cresce, se profissionaliza, movimenta a economia e projeta a imagem de Foz do Iguaçu para o Brasil e o mundo. O nascimento de novos filhotes certamente ampliará essa inspiração, alimentando a criatividade de quem transforma a vida da floresta em arte, sustento e futuro.
Mais informações em cataratasdoiguacu.com.br e contato@catarataspni.com.br
