Por Domingo Rodriguez Fernandez
Especial Meio Ambiente
O Canal da Piracema foi desenvolvido pela Itaipu Binacional para permitir a Transposição de Peixes entre a jusante e a montante no Rio paraná. O sistema foi desenvolvido entre os anos de 1992 a 1996 por meio de um canal experimental localizado junto a ilha do Canal de Desvio logo abaixo de Itaipu, próximo a saída da Unidade 15 (Foto).
Lá foram testados a velocidade da água e nível de declividade aceitável para espécies migradoras. Com os resultados, o sistema foi levado a cabo, aproveitando o Rio Bela Vista, cerca de 4 a 5 km a jusante de Itaipu e conectando-o ao Reservatório por meio de um canal artificial de 6 km, intercalado por lagos artificiais que servem de área de descanso.
A água para atração e migração de peixes é captada no Reservatório por meio de suas comportas, que chegam a 12 m3 por segundo.
A altura média entre o Rio Paraná e o Reservatório é de 120 metros e tem sido transposta por praticamente todas as espécies migradoras conhecidas para o Rio Paraná na região de Itaipu, ou Médio Rio Paraná. Em geral as espécies de escama como o dourado, curimbatá, piaus e piaparas, levam cerca de duas semanas para ascender ao sistema, enquanto as espécies de couro um pouco mais, ao redor de 3 semanas. Cerca de 5% dos peixes marcados no sistema, por meio de telemetria, migraram para águas abaixo, sugerindo que há uma certa eficácia também para a passagem do Reservatório de Itaipu para o Rio Paraná, embora a grande maioria dos exemplares fazem o caminho contrário.
Com isso, o isolamento entre as populações de peixes, causada pela formação da Barragem de Itaipu pode ser motivada, permitindo a troca genética entre as populações de migradores do rio com o reservatório.
Mas o fato de se permitir a passagem com boa eficácia é apenas parte das necessidades das espécies, para manter uma população saudável águas acima de Itaipu.
Muito importante é manter o sistema preservado com trechos livres do Rio Paraná, onde podem se formar lagoas marginais e várzeas, que são o ambiente propício para o desenvolvimento inicial das larvas recém eclodidas e dos alevinos, pois nesses ambientes é que encontram o alimento propício e estão mais protegidos de predadores. Quando eles chegam a uma idade mais avançada, já são jovens, adultos, e, podem viver no Rio Paraná propriamente dito. Ou seja, é importante manter a área de rio não represado acima do reservatório, entre Guaíra e Porto Primavera (200 km) e água abaixo, entre Foz do Iguaçu/Ciudad del Este e Posadas/Encarnación a aproximadamente 170 km, o que permite manter a reprodução natural das espécies.
Sem dúvida o desenvolvimento de sistemas eficazes de transposição de peixes como o Canal da Piracema foi muito importante para permitir a continuidade da reprodução natural dos peixes migradores. Mas manter trechos livres de represamento e com boa qualidade ambiental é fundamental para manter a população dessas espécies.
Domingo Rodriguez Fernandez é Médico Veterinário, formado pela UFPR, Mestre em Ciências da Pesca pela Universidade de Nagasaki) e Doutor em Zoologia pela UFPR – Universidade Federal do Paraná.