A visão do paraíso?

Como um santuário convive com o desenvolvimento, tentando reparar os impactos ao longo de um século de colonização. 

 

Especial Meio Ambiente

 

É de se pensar quando os humanos desenvolveram o senso de contemplação da natureza. No relógio de sua existência, o homem mais explorou, exauriu e desperdiçou os recursos naturais, no lugar de conservar. Com o planeta em risco, a poluição, contaminação da água, enfim, os efeitos do aquecimento global forçaram um entendimento coletivo, de tentar reverter o estrago, mesmo assim, a vida segue ameaçada.

A discussão é mundial, uns levam o tema mais a sério que outros e a “conservação”, por meio da sustentabilidade, tornou-se um debate frequente, com os olhos voltados para quem faz a lição de casa. A proposta desta edição é passar a olhar o nosso quintal, em Foz do Iguaçu e no Extremo Oeste do Paraná, avaliando se estamos no caminho certo e colaborando com o futuro.

Antropólogos e historiadores, como Sérgio Buarque de Holanda (Raízes do Brasil) e Darcy Ribeiro (O Povo Brasileiro) escreveram e, tentaram descrever, como seria o Paraíso antes da chegada dos europeus, onde o “mundo era um luxo de se viver”. Há, no entanto, essa relação entre a Natureza e a raça humana, primitiva ou contemporânea, naquilo que foi convertido como habitat e depois em civilização.

Segundo Ribeiro, um dos maiores intelectuais que o Brasil já teve, “os nativos que habitavam a faixa litorânea, apontavam para o Oeste com satisfação, pois em terras avançadas, havia a fonte de toda a vida, matas sem fim, grandes rios, cachoeiras, cascatas e cataratas fabricando nuvens; farta pesca, animais convivendo em paz, clima agradável em todas as estações, e, tudo o que caía na terra, brotava ou frutificava. Os habitantes eram nômades e se revezavam, de maneiras que em nada a área fosse prejudicada e assim, guardada para as futuras gerações”. Assim era a foz do Rio Iguaçu, antes de se converter em ponto de parada na rota do Peabiru, em povoado e na cidade que conhecemos hoje.

Possivelmente ainda há a visão do paraíso, quando frequentamos o Parque Nacional do Iguaçu ou o corredor da biodiversidade literalmente plantado por Itaipu Binacional, fazendo renascer um pouco da Mata Atlântica em faixa de proteção com mais de mil quilômetros, onde pássaros e animais voltam a transladar até Ilha Grande. Em meio a isso, nos deparamos com lições ensinadas no Refúgio Biológico de Bela Vista, surgido da Operação Mymba Kuera, completando 40 anos em 2022.

Em cenário assim, existem também as cidades e elas se esforçam no desenvolvimento de programas ambientais, para gestão de resíduos, proteção de nascentes, cuidados com água, ar, com ruas e avenidas exuberantemente verdejantes. Nas salas de aulas, as crianças aprendem como lidar com os bens naturais, e compreendem o sentido da palavra “sustentabilidade”.

Foz é um exemplo desse entendimento entre o homem e a natureza, uma vez que abriga uma das maiores obras já construídas, em meio a um santuário de belezas, visitadas por todos os continentes.

O Almanaque Futuro – Especial Meio Ambiente inicia o suplemento com muitas perguntas e pretende oferecer resposta a cada uma delas: como era antes a Foz do Iguaçu? Quais foram os primeiros passos no entendimento ambiental? Qual a relação do homem ao se confrontar com a Natureza? O que é viver na cidade berço de uma civilização respeitadora da natureza? O que foi devolvido depois de encravar uma montanha de concreto? É possível ver uma floresta crescer? O que aprendemos com os bichos e ensinaremos às próximas gerações?

O fato é que há sim respostas e se levadas a sério, cada uma desempenhando o seu papel, nos certificaremos de trilhar um caminho certo e mais: buscamos com responsabilidade o nosso destino.

Foto de Martin St. Amant