Água e Energia: A nova geopolítica do Século XXI

A gestão conjunta do Rio Paraná transforma Itaipu em um modelo global de diplomacia hídrica e energética em tempos de escassez e mudanças climáticas.

Se o século XX foi marcado por disputas territoriais e pelo domínio do petróleo, o século XXI aponta para um novo eixo de poder: a água doce e a energia renovável. Nesse cenário emergente, Itaipu Binacional consolida-se não apenas como uma usina hidrelétrica de grande porte, mas como um ator geoestratégico em uma das regiões mais sensíveis e valiosas do planeta — a tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, abastecida por uma das maiores reservas hídricas do mundo.
A usina ocupa uma posição única: controla um dos principais pontos de conversão entre água e energia da América Latina, com uma produção anual capaz de alimentar economias inteiras e uma bacia hidrográfica essencial para o equilíbrio ecológico da região. Mais do que isso, sua operação envolve dois países com culturas, legislações e sistemas energéticos distintos, unidos por um tratado bilateral que exige equilíbrio, diplomacia e corresponsabilidade.

A água como ativo de poder

A Bacia do Paraná, onde Itaipu está inserida, é responsável por uma parcela significativa do abastecimento hídrico do centro-sul brasileiro, do leste paraguaio e do norte argentino. Além disso, abriga importantes polos agroindustriais e centros urbanos, bem como também é hidrovia para escoamento da produção agrícola do Paraguai. Em um cenário de mudança climática, as disputas por uso da água — seja para geração de energia, irrigação ou consumo humano — tendem a se intensificar.

Nesse contexto, Itaipu assume o papel de moderadora de usos e garantidora de estabilidade hídrica e energética, utilizando tecnologia, monitoramento ambiental e uma estrutura binacional de governança. A gestão do reservatório, por exemplo, não visa apenas a máxima geração, mas também o respeito aos limites ecológicos, a previsibilidade da vazão e o cumprimento de protocolos internacionais de cooperação.

Em tempos de seca severa, como a registrada em 2021, Itaipu manteve mais de 80% de sua capacidade operacional ativa, justamente por ter implementado, ao longo dos anos, ações de conservação de nascentes, reflorestamento e controle do uso da terra nas margens do lago. Essa “resiliência hídrica” tornou-se um diferencial estratégico da usina. Soma-se a isso a localização privilegiada do seu reservatório, que se beneficia da vazão de expressivo número de barragens a montante, sob gestão coordenada do Operador Nacional do Sistema – ONS.

Energia como ferramenta de integração

A produção de energia de Itaipu está dividida em partes iguais entre Brasil e Paraguai, conforme o Tratado assinado em 1973. O excedente da cota paraguaia, que não é consumido internamente, é comprado pelo Brasil, conforme previsto no Anexo C — atualmente em processo de revisão.

Esse mecanismo cria uma relação de dependência positiva e interdependência equilibrada. O Paraguai tem em Itaipu sua principal fonte de receita em energia e infraestrutura. O Brasil, por sua vez, garante um fornecimento constante de energia limpa e estável, vital para o sistema interligado nacional.
Além de ser um contrato, esse arranjo consolidou um modelo diplomático singular, em que interesses econômicos, ambientais e sociais convergem para um bem comum.

Um laboratório de paz e sustentabilidade
A partir de sua experiência binacional, Itaipu tornou-se também plataforma de soluções para conflitos potenciais, como os que envolvem o uso de aquíferos subterrâneos, a distribuição de água em períodos de escassez e o transporte de energia entre fronteiras. Com suas ferramentas de previsão, operação inteligente e coordenação binacional, a usina demonstra que é possível transformar um bem natural sensível em vetor de cooperação — não de disputa.

Nos próximos anos, a água e a energia continuarão a moldar os rumos da geopolítica global. Em vez de esperar que as crises definam as regras, Itaipu já atua como agente de antecipação, planejando com base em cenários climáticos, políticas públicas e acordos sustentáveis.
Ao se posicionar como guardiã da água e produtora de energia limpa, a Binacional oferece mais do que megawatts: oferece um modelo de convivência internacional, onde a força do rio move não só turbinas, mas também pontes de entendimento, segurança e futuro compartilhado.

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