De geradora de energia a referência em inovação: como foi a trajetória de sucesso da Itaipu Binacional?
O monumental empreendimento não apenas compensou os impactos de sua construção, mas também foi além, destacando-se em projetos ambientais, no apoio às cidades de seu entorno, alinhando-se aos objetivos de desenvolvimento sustentável, promovendo inovação e incentivando o progresso humano.
As respostas não foram construídas apenas pelo tempo. Ao longo de 2023 e 2024, com o início das celebrações dos 50 anos do Tratado de Itaipu Binacional, não faltaram balanços, reflexões, declarações, estudos acadêmicos, retrospectivas e a reconstrução da memória por meio de fotos e vídeos. A história recontada serve como um molde para ajustar as contas. O fato é que Itaipu, um empreendimento grandioso em dimensão e ambicioso em intenções, se justifica pelos resultados, que são altamente expressivos.
Em que resulta e resultará Itaipu Binacional, desde sua construção até o fim de sua vida útil? O balanço que realizamos hoje, e que nos traz convicção, é que a iniciativa, considerada audaciosa ao ser apresentada ao mundo e vista por muitos como causadora de devastação e danos irreparáveis, devolveu mais do que tirou.
Algo ainda mais difícil de responder ou imaginar é como seriam o Brasil e o Paraguai se não tivessem decidido construir Itaipu. Como se desenvolveriam as cidades e povoados situados na margem esquerda, ou seja, no lado brasileiro do Rio Paraná, uma região então marcada pelos impactos dos ciclos extrativistas? Quais alternativas poderiam suprir as necessidades energéticas dos dois países e de que forma existiriam sem causar ainda mais problemas ambientais?
O fato é que Itaipu existe, e pouco adiantará conjecturar sobre o que poderia ter sido após meio século da assinatura do tratado. A construção da usina causou impacto regional, alterou a geografia, ergueu-se como uma montanha que não existia, desviou um dos maiores rios do planeta e formou um lago. No entanto, o resultado contrariou previsões consideravelmente pessimistas. É isso que esperamos mostrar com clareza e equilíbrio nesta edição.
Além de gerar energia limpa, em uma área alagada menor do que a de outros empreendimentos similares, o projeto binacional contribuiu para o surgimento de novas cidades e fez com que outras se adaptassem ao que estava por vir, como no caso de Foz do Iguaçu. Criou um laboratório de ideias, iniciativas e práticas inovadoras, consolidou-se como um polo educacional e, enfim, expandiu sua atuação para uma série de atividades muito além de sua premissa original: a produção de eletricidade.
A quase epopeia também trouxe transformações em um elemento fundamental e, por vezes, imperceptível dependendo da distância do registro fotográfico da usina e sua barragem: o ser humano.
O homem praticamente desaparece em meio ao concreto, revelando a dimensão do esforço humano envolvido. Sob esse prisma, é importante refletir sobre como os habitantes foram influenciados, de que maneira se moldou o cidadão iguaçuense e qual foi o impacto na formação de seu perfil — ético, cultural, filosófico e racional — ao longo desse processo impressionante, marcado por aprendizados. Quais lições antropológicas, sociais e econômicas foram transmitidas às novas gerações?
Informações e reflexões como essas podem ser encontradas em uma visita ao Ecomuseu, onde é possível compreender, passo a passo, a trajetória de um empreendimento tão notável como a Itaipu Binacional. O espaço revela as origens da região e as mudanças provocadas pela existência da usina. Um capítulo de destaque nessa história é a chegada dos trabalhadores vindos de todas as partes do país. A memória dos barrageiros permanece viva e presente em Foz do Iguaçu.
Ao reunir um pequeno grupo de pessoas, é provável que alguém tenha vínculos com um barrageiro — seja pai, irmão, avô ou, mais recentemente, filhos, netos e bisnetos. Essas famílias simbolizam a grande transformação pela qual a cidade passou nas décadas seguintes.
Por esses e outros motivos, fica evidente onde e como Itaipu se tornou muito mais do que uma geradora de energia.