Da simplicidade à grandiosidade: Foz do Iguaçu e a sua transformação

Desde sua fundação, a cidade tem sido marcada por grandes impactos. O marco inicial ocorreu em 1889, com a chegada dos militares do Exército, que encontraram uma população de pouco mais de 300 habitantes..

Era uma localidade “estacionada”, segundo José Maria de Brito, nos anos 1930. Mas, na década seguinte recebeu o primeiro grande projeto: o Parque Nacional do Iguaçu. No final de 1940 já havia 2.600 habitantes.

Em 1957, no icônico Hotel Cassino Iguaçu, os presidentes do Brasil e Paraguai lançaram a pedra inaugural do maior projeto arquitetônico da região: a Ponte Internacional da Amizade, concluída em 1965. Nessa época, a população de Foz já superava 20 mil pessoas.

Entre 1940 e 1960, Foz do Iguaçu experimentou um grande salto populacional, mas nada comparável ao que aconteceria com o início das obras de Itaipu. Em 1980, a cidade já contava com mais de 136 mil habitantes.

“As pessoas não sabiam e não imaginavam como receberiam algo tão grande, elevados os comentários em jornais e emissoras de rádio. Um homem simples, comerciante, me disse: tenho a mesma sensação de uma tempestade se aproximando, com o céu enegrecido, ventania e raios riscando todo o horizonte”, relatou o ex-deputado federal Lyrio Bertoli, falecido em 2018.

Se por um lado muitos temiam a chegada de Itaipu, por outro, acreditavam no desenvolvimento, imaginando prosperar com o advento. O município, com área bem maior, ocupada pela agricultura e pecuária, mantinha uma população de 36 a 40 mil habitantes; com os bairros distantes, as ruas eram estreitas, muitas sem calçamento. O comércio se concentrava na Avenida Brasil e arredores, predominando empórios, artigos de armarinho, vestuário, e ainda as casas de caça e pesca, com a venda de armas e munições. Eram poucos os postos de combustíveis, distribuidoras de bebidas e alimentos.

Nos anos 1970, o turismo já movimentava excursões às Cataratas e ao Paraguai. A cidade contava com a BR-277, a Ponte da Amizade e um novo aeroporto, que substituiu o antigo localizado na área central. A vida social incluía um único cinema, bailes nos clubes Country, Oeste Paraná e Gresfi (fundado em 1972), além dos tradicionais desfiles cívicos.

A Rádio Cultura de Foz do Iguaçu mantinha uma programação ativa, transmitindo concursos de canto, declamações de trovas e poesia, com audiência total no Jornal do Meio Dia. A emissora enfrentava a feroz concorrência do serviço de autofalantes de Estanislau Zambrzycki. Não havia ainda jornais, nem antenas para atender as transmissões televisivas. Para assistir aos jogos das Copa do Mundo do México (1970), os moradores se organizavam para percorrer os 137 km até Cascavel.

A travessia para Puerto Iguazú, na Argentina, era feita por catraias ou ferryboat. Já o acesso ao Parque Nacional do Iguaçu era facilitado pela nova BR-469, inaugurada em 1968.
Foz ostentava uma rede hoteleira tímida, mas considerada eficiente para os padrões da época, e os atrativos apareciam nos comerciais de Tv, nos grandes centros. O setor de gastronomia mantinha poucas churrascarias.

“Eu conheci a cidade porque a minha empresa, a Gatti Turismo, realizava excursões até Assunção. Foz era o dormitório, devido à distância. A parada incluía a visita aos atrativos, e, no outro dia, os passageiros seguiam viagem até a capital do Paraguai. Alguns anos depois, fazendo um desses passeios, resolvi comprar o Hotel Carimã e jogar a âncora na fronteira”, lembrou o empresário Ermínio Gatti, falecido em dezembro de 2022. Com o início das obras da Binacional, ele instalou uma empresa de transporte público, a Viação Itaipu. Os ônibus urbanos, aliás, eram um negócio de família e os Gatti trabalhavam linhas em São Paulo desde o início do século passado.

A população tinha conhecimento sobre Itaipu e até mesmo onde seria construída, na localidade próxima de uma ilhota conhecida como “pedra que canta”. A cidade foi palco de muitas reuniões entre autoridades brasileiras e paraguaias desde 1966, com as reuniões abrigadas no então Hotel das Cataratas. Foi onde os chanceleres Juracy Magalhães, do Brasil e Sapena Pastor, do Paraguai, assinaram a histórica Ata do Iguaçu.