Ações de Itaipu contribuíram para a recuperação de rios, florestas e da fauna da região

A faixa de fronteira do lado brasileiro estava 80% devastada, com poucos locais sustentando a fauna, constataram os levantamentos nos anos 69 e 70; as madeiras foram retiradas e levadas pela correnteza até serrarias em território argentino e paraguaio.

O que fora uma densa floresta, até onde se estendia a Mata Atlântica, restou devastada em menos de meio século. Primeiro com o ciclo da erva-mate, um extrativismo invasor, patrocinado por empresas estrangeiras, instaladas em território argentino. Em condições desumanas, mensus e colonos exauriram os recursos naturais e, em seguida, com os obrageiros, deu-se a brutal retirada da madeira, beirando a extinção da fauna e da cobertura vegetal na margem brasileira do Rio Paraná. Grandes áreas foram convertidas em pastagens e desta forma se deu a expansão rural e pecuária.

Os resultados do “levantamento das possibilidades econômicas e potencial hidráulico do rio Paraná”, e, adiante, em 1970, por meio de um “convênio para a avaliação técnica do Projeto Itaipu”, apontaram a extensão de terra parcialmente degradada entre Foz do Iguaçu e Guaíra, ao contrário do lado Paraguaio, ainda com a cobertura florestal original.

Segundo documentos, na íntegra, um Relatório Especial intitulado “Reconhecimento dos Efeitos Ecológicos do Projeto”, com “o objetivo principal coletar informações baseadas em fatos, sobre efeitos físicos, biológicos e sociais…” faz menção aos Aspectos Biológicos Terrestres e Florestais, informando que na área do projeto (Itaipu), “a vegetação natural é densa e sub-tropical, cujas arvores atingem 20 a 40m, de altura. Na margem oriental do Rio Paraná resta apenas 10 a 20% da floresta original e na margem ocidental, a floresta e praticamente virgem”.

No parágrafo que aborda os “Aspectos Sociais”, “Sócio –econômicos” e o Uso da Terra, a constatação foi que “80% da floresta foi derrubada e a terra cultivada…com o povoamento escasso. A população na área do projeto é de cerca de 10.000 pessoas”. O relatório avaliou ainda, que as cidades próximas e que não seriam afetadas, somavam cerca de 100 mil habitantes. Tais apontamentos fariam parte do Plano Básico para a Conservação do Meio Ambiente, redigido em 1975.

O “Relatório Especial nº 4” foi assinado, dentre outros técnicos, por Robert Goodland, que fora consultor do Banco Mundial. O estudo já vislumbrava as ações atuais, como os serviços ambientais e entende-se que deu forma aos planos diretores, gestão e os procedimentos com as espécies ameaçadas. O documento concluiu que apenas duas mudanças inevitáveis ocorreriam no meio ambiente, com a construção de Itaipu: o alagamento de “um trecho de 170km de rio, sendo a maior parte constituída por uma garganta estreita e profunda, de acesso muito limitado”, sendo que isso deixaria de existir; “os Saltos do Paraná”, conhecidos como Sete

Quedas, ficariam submersos. Na avaliação de Goodland, o atrativo turístico, foi considerado como “de difícil acesso e pouco conhecido. O aspecto visual dos Saltos era menor que o de muitas outras cataratas já que não haviam quedas altas e ininterruptas”.

Revelaram ainda outras mudanças consideradas de “caráter secundário”, de menor importância, “por não representarem distúrbios ecológicos ou ambientais que viessem ameaçar qualquer espécie da fauna e flora ou consumir substancialmente recursos naturais insubstituíveis”. Na avaliação dos especialistas da época, as ocorrências secundárias seriam a redução de habitat de animais; eliminação de 700 km2 de florestas; inundação de mais de 600 km2 de terras agrícolas; submersão de depósitos minerais desconhecidos e a possível submersão de alguns locais de interesse arqueológico.
Por meio de uma postura até então inédita no contexto do setor elétrico brasileiro, que até hoje tem servido de referência para outros empreendimentos, várias diretrizes foram propostas para minimizar ou compensar os efeitos adversos sobre o meio ambiente. Elas seriam implementadas nas fases de construção e operação do empreendimento.

A avaliação global do projeto foi resumida assim: “Considerando o enorme benefício em potencial energético a ser derivado deste projeto, é provável que a soma global de todo o impacto negativo sobre o meio ambiente venha a ser relativamente inexpressivo. A inexistência de uma grande população nativa, a atual carência de silte e peixes, e a utilização do curso de água ao longo do rio, combinam-se para fazer deste aproveitamento uma proposta ecologicamente atrativa”.

Com um arcabouço de informações assim, o Brasil se antecipou para defender a construção da maior hidrelétrica do mundo, marcando presença na Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, convocada pela Organização das Nações Unidas (ONU), realizada em 1972, em Estocolmo.