Cabeza de Vaca e o caminho para Assunção
Em 1542, o explorador espanhol teria atravessado as terras onde hoje está Foz, seguindo rumo ao Paraguai. Sua jornada é considerada o primeiro registro europeu da região.
Entre os muitos marcos históricos atribuídos à região onde hoje está Foz do Iguaçu, um dos mais citados — e ao mesmo tempo mais envoltos em lacunas — é a passagem do conquistador espanhol Álvar Núñez Cabeza de Vaca, em 1542. Designado governador do Paraguai pela Coroa de Castela, ele liderou uma expedição por terra desde o litoral atlântico até Assunção, numa travessia considerada épica e, para muitos, o primeiro contato documentado de europeus com as Cataratas do Iguaçu.
Segundo seu próprio relato, o grupo seguiu por trilhas indígenas, enfrentando selvas densas, pântanos, rios caudalosos e uma fauna hostil. Cabeza de Vaca teria atravessado o atual território do Oeste paranaense por meio de muita diplomacia com os grupos indígenas, doenças tropicais e carência de suprimentos. Durante essa travessia, afirma-se que o grupo teria avistado — e registrado — as quedas d’água do rio Iguaçu. A descrição deixada por ele fala de “tanta água que o céu parecia desabar” e de um ruído ensurdecedor que dominava a paisagem. Muitos estudiosos identificam esse trecho como a primeira menção às Cataratas.
O que torna essa narrativa relevante, além de pioneira, é o seu valor simbólico: marca o início da presença europeia em terras do que viria a ser o Paraná, ou Província de Vera, assim batizada, ainda que precariamente descritas nos mapas da época. Foz do Iguaçu, então, estava inserida em um contexto de travessia — um território em meio ao caminho, entre a costa atlântica e os primeiros núcleos de colonização espanhola no interior do continente.
No entanto, a precisão histórica da rota ainda é alvo de debates. Não há documentação cartográfica definitiva que comprove a exata localização dos passos de Cabeza de Vaca. Parte da jornada foi reconstruída por meio de relatos indiretos, crônicas coloniais e pesquisas arqueológicas recentes, que ainda estão em andamento. A região era, à época, território de nativos guarani, que reagiam com hostilidade às invasões, forçando as expedições a alterarem seus caminhos. Há que diga que a expedição de Álvar Nuñes tenha encontrado pelo caminho a região de Guaíra, e as Sete Quedas.
Mesmo assim, a simbologia permanece: 1542 é tido como o ano da “descoberta europeia” da região de Foz do Iguaçu, o que confere ao território quase 500 anos de inserção nos mapas mentais e estratégicos dos colonizadores. Cabeza de Vaca não fundou cidade, não deixou monumentos, nem nomeou lugares. Mas sua passagem representa o ponto de partida da longa e conflituosa relação entre os interesses coloniais europeus e os povos originários do Cone Sul.
Recontar esse episódio com honestidade historiográfica é também reconhecer que a história de Foz começou muito antes da cidade. E que, mesmo sob os olhos dos cronistas da conquista, a região já pulsava com vida própria.
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