Mulheres marcham em Foz do Iguaçu contra a violência e por igualdade de direitos
O enfrentamento a todas as formas de violências de gênero e a retomada da agenda de políticas públicas com a participação da sociedade foram a tônica da Marcha das Mulheres em Foz do Iguaçu nessa quarta-feira, 8. A mobilização reuniu centenas de pessoas, que seguiram por ruas e avenidas do centro da cidade, marcando a abertura da programação alusiva ao Dia Internacional da Mulher e que se estende pelo mês de março.
A concentração foi no Bosque Guarani, com falas de lideranças de sindicatos, organizações populares, professoras, estudantes, trabalhadoras rurais e representantes de partidos, coletivos, conselhos e centros de serviços. Na frente do 34.º Batalhão, ato simbólico enfatizou a defesa da democracia e da vontade popular, com o acendimento de um bastão de fumaça lilás. A passeata terminou com apresentação musical da artista Manu Cândido, na Praça da Paz. Cartazes resgataram a trajetória e homenagearam, em memória, mulheres que aturam pelos direitos coletivos nas Três Fronteiras, entre as quais a professora e sindicalista Viviane Jara Benitez, a artesã e ativista Marilu Camargo e a estudante e realizadora cultural Martina Piazza Conde. O machismo estrutural, que alimenta a cultura da violência contra mulheres e meninas, assim como as desigualdades de gênero, foi veementemente denunciado. As participantes da marcha apontaram retrocessos nas ações governamentais para mulheres em âmbito federal nos últimos anos. O Brasil figura em quinto lugar no ranking de violência de gênero, conforme as Nações Unidas. Uma mulher sofre assédio a cada segundo, mostra o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Ocorrem dois estupros por minuto, diz o IPEA. Mulheres ganham cerca de 20% menos que os homens na mesma função, revela o IBGE. A professora da rede estadual e presidente da APP-Sindicato/Foz, Janete Batista, salientou que o momento é de retomada e reconstrução de políticas públicas para enfrentar a violência e promover a igualdade de direitos entre mulheres e homens. “O último período foi muito difícil para todas nós, mulheres, com o machismo sendo sustentado pelo discurso oficial, o que levou ao aumento da violência e a perdas incontáveis”, pontuou. Para ela, a marcha iguaçuense reflete o protagonismo feminino em torno da extensa pauta que unifica diferentes segmentos. “Precisamos prestigiar sempre essa história de luta das mulheres, que é contínua, diária e em todos os espaços da vida social. Após um período muito difícil, estamos fortificadas para retomar direitos perdidos e conquistar tantos outros que pleiteamos”, avaliou Janete. Pauta ampla, mulheres unidas Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (CMDM) e coordenadora da Patrulha Maria da Penha, Iraci Pereira Conceição frisou que a marcha é importante para relembrar as conquistas e reforçar o que falta avançar. “Ainda há desigualdade salarial, nas tarefas domésticas e no mercado de trabalho. E uma das pautas principais é o combate à violência contra a mulher, porque os números, ano a ano, têm aumentado”, lembrou. A professora universitária e coordenadora do curso de Promotoras Legais Populares da Fronteira, Danielle Araújo, contextualizou que, após um período de retrocessos, o momento ainda é de grandes desafios, porém mais favorável à agenda reivindicatória das mulheres. “O ânimo é maior para lutarmos por saúde, educação, segurança e, principalmente, contra a violência, que é diária, e a sociedade masculinista, machista e misógina”, expôs. Representante da Marcha Mundial das Mulheres, Janete Rauber ressaltou que a pauta contra o machismo, a violência e por direitos é de todos. “A sociedade tem que estar envolvida, e a educação é uma aliada nessa construção. Há muitos retrocessos a enfrentar, pois as políticas públicas foram enfraquecidas pelo governo federal anterior e a narrativa machista fortaleceu o aumento da violência”, refletiu. Marcha das Mulheres Realizada anualmente em Foz do Iguaçu pelos movimentos sociais, com apoio de instituições públicas, a Marcha das Mulheres demarca que o mês de março é de reivindicação e organização feminina pela efetivação de políticas públicas em todos os níveis governamentais e pelo enfrentamento às violências. É um contraponto a comemorações que não discutem o machismo estrutural e a ações que reproduzem a objetificação da mulher.Assessoria