Debate sobre doenças neurodegenerativas expõe necessidade de ampliar políticas públicas

Envelhecimento da população é apontado como um dos principais fatores apontados para a urgência de ações do Poder Público

O envelhecimento da população evidenciou a necessidade urgente de elaboração de políticas públicas para pessoas com doenças neurodegenerativas. Esse foi o ponto central da audiência que discutiu o assunto na noite desta quarta-feira, 29 de outubro, no plenário da Câmara de Foz. Com intuito de criar políticas públicas mais específicas para pessoas com doenças neurodegenerativas, como Doença de Alzheimer, Parkinson e outras demências, a Câmara promoveu um debate sobre o tema. A audiência foi aberta pelo presidente da Casa, vereador Paulo Debrito (PL) e conduzida pela proponente, vereadora Marcia Bachixte (MDB).

A proponente do debate, Marcia Bachixte, enfatizou: “Essa audiência reafirma nosso compromisso com o envelhecimento da população com dignidade e suporte e, por isso, reafirmamos a importância da parceria com as universidades. Só poderemos fazer política municipal alinhadas às preconizadas pela legislação federal”. A vereadora ponderou, ainda, que já tem encaminhamento de projeto de criação de pulseira de identificação da pessoa com Alzheimer.

Também participaram do debate: a Vereadora Anice Gazzaoui (PP); Dr. Rafael Arguello, Procurador do Município; Dr. Luiz Javier Mc Nally, Diretor do CRM – Delegacia Regional de Foz; Juraci Audibert, do Comus; Maicon Schneider, do Lar dos Velhinhos; Pabla Jungblut, da 9ª regional de saúde; Edson Kurtz, vice-presidente da Associação Cannábica de estudo e terapias integradas.

Jaqueline Tontini, da secretaria de saúde, comentou que a rede conta com neurologistas credenciados. “Mas, estamos tentando credenciar mais profissionais e também ter parcerias com universidades e fortalecer atendimentos. Hoje temos quase 8 mil idosos estratificados, isso é um avanço”.

Maicon Scheneider, do Lar dos Velhinhos, comentou que “hoje temos 72 idosos que estão sendo cuidados na instituição. Fizemos mais de 20 reintegrações familiares”.

Ministério da Saúde

Luiza Callado, Assessora Técnica da Coordenação de Atenção à Saúde da pessoa idosa do Departamento de Gestão de cuidado integral da secretaria de atenção primária à saúde do Ministério da Saúde, que participou por videoconferência, pontuou que “segundo dados do último censo, temos 15 milhões de pessoas idosas no Brasil. Também temos os fatores de risco para desenvolvimento de demência: diabetes, alcoolismo, perda de acuidade visual, dentre outros. Fazemos a estratificação dos idosos, temos a questão dos medicamentos para Parkinson na farmácia popular”.

Secretaria de saúde do município

Ricardo Zaslavski, médico da família e supervisor Técnico da linha de cuidado da saúde do idoso, relatou que “durante o ano de 2025 houve : 416 atendimentos de pessoas com Alzheimer; 13 atendimentos de pessoas com doença vascular e 182 atendimentos a pessoas com outras formas de demência. A maior parte do trabalho de atenção primária dos idosos é realizado pelo esporte nos centros de convivência. Sabemos que todas as atividades que envolvem ginástica, dança, contribuem para prevenção de quadros demenciais”.

Além disso, ele acrescentou a importância do acompanhamento multidisciplinar para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. “A gente vive um momento de transição demográfica, em que temos cada vez mais idosos na sociedade. Precisamos pensar em formas de alocar recursos suficientes para ações em saúde para essas pessoas e formar equipe multiprofissional para dar conta”.

Nelson Trindade, Coordenador do CER IV, disse: “temos expectativa de aumento de idosos e isso aumenta a prevalência de Parkinson”.

Estigmatização da doença do paciente

Nilton Bobato, ex-vice-prefeito de Foz e paciente Parkinsoniano, falou como expositor no debate e deu seu relato pessoal sobre a doença. “Após o diagnóstico, comecei a ter gagueira, algumas dificuldades de raciocínio, muita saliva na boca. Uma pessoa da secretaria de saúde, que trabalhava comigo, me pediu desculpa que havia julgado mal o meu tremor, e aí pensei que devia assumir publicamente a doença; algumas pessoas acharam que eu era alcoólatra. Eu não conseguia fazer o tratamento de forma contínua; com isso minha face enrijecia. Então a gente entrou na pandemia, aí chegou o cansaço, os sintomas da doença e algumas pessoas na internet tirando sarro da minha condição. Isso vai fazendo mal pra gente. Não basta só se medicar, você precisa fazer fono. Eu faço pilates, caminhada e faço fisioterapia neurológica, que tem a questão do equilíbrio. É possível viver”.

Médico neurocirurgião e professor de medicina da Unila

O Dr. Elton Silva comentou que “há um número muito pequeno de pacientes que recebem medicação do Estado, que recebem tratamento mais adequado e atualizado, e isso se deve à falha no atendimento, com relação ao número de profissionais que conseguem fazer o diagnóstico. Hoje fazemos pesquisa na Unila junto com os cuidadores dos pacientes. A Universidade está aberta para ajudar o município a melhorar a qualidade de vida do paciente, do cuidador e da família”.

Médica especialista em geriatria

Dra Tatiana Consciência falou sobre o envelhecimento da população brasileira e da importância de que as políticas públicas estejam preparadas para responder às demandas, bem como da relevância de se trabalhar na prevenção, no diagnóstico precoce e no atendimento especializado às pessoas idosas com doenças neurodegenerativas.

Tribuna livre

Doli Costa afirmou: “Eu sou cuidadora e tive de aprender na prática. Cuidei da minha mãe com Alzheimer durante oito anos; ela faleceu há 4 meses. Mas foi muito difícil ver a pessoa que você ama, que te criou não sabendo nem nosso nome mais. Gostaria que essa Casa pensasse nas pessoas com essas doenças que precisam de ajuda financeira”.

Elza Mendes pontuou que “a equipe da UBS do meu bairro não faz o trabalho de identificar as vulnerabilidades. Isso é sério porque estamos envelhecendo e precisamos de políticas públicas. Precisamos melhorar a qualidade do Cer IV, e também que a rede de neurologia do município é frágil. Precisamos garantir os direitos dos idosos e das crianças. Então, minha angústia é: quais os próximos passos para uma atenção básica de qualidade?”.

Maria de Lurdes Betamin, filha de paciente com Alzheimer que faz parte do projeto da Unila, disse: “Minha mãe melhorou muito depois do tratamento; ela começou a ler, ficar mais acordada, lê a tarde toda, adora passear e conversar. Quero agradecer à Unila pelo trabalho, porque antes minha mãe já tinha ido ao médico do SUS, mas não estava evoluindo muito”.

 

DC CMFI