Canja do Galo Inácio: um evento que se renova a cada ano

A ação é voluntária e beneficente, mas nunca perdeu o espírito carnavalesco, ao transmitir união e alegria.

O evento atravessa décadas e atinge números surpreendentes. Estima-se que pelo número de entidades assistidas, a Canja tenha ajudado direta e indiretamente milhares de crianças e adolescentes.

No final do ano 2000, o prefeito recém-eleito, Sâmis da Silva, queria devolver o Carnaval para a terceira pista da J.K., uma vez que a festa popular foi abolida no governo anterior. Ainda antes de assumir o governo, em período de transição, ele pediu que algumas pessoas dessem uma nova cara ao Carnaval da cidade, com mais atrações além dos blocos e apresentações de artistas. A Canja do Galo Inácio surgiu como uma das novas atrações daquele ano. A ideia surgiu dos tempos em que os bailes eram realizados nos clubes; um dos pontos altos era quando serviam as canjas com a intenção de repor a energia dos foliões.

O personagem Galo Inácio surgiu do cartunismo, um elemento crítico, a distribuir bicadas nos políticos. Ele foi adaptado para dar nome ao novo evento.

Os elementos para realizar uma “novidade carnavalesca” estavam se juntando. Primeiro a ideia de uma canja, de galo, com nome e tudo o mais. O que faltava era uma justificativa que agregasse valor institucional. Foi quando surgiu a ideia de reverter os possíveis lucros da empreitada para entidades filantrópicas.

Sempre de olho nos acontecimentos, o padre Germano Lauck pediu para chamar os responsáveis e quis saber se poderia colaborar na escolha das entidades beneficentes, uma oferta irrecusável, levando em conta a importância e credibilidade do líder religioso.

Na virada do milênio a Pastoral da Criança, criada por Zilda Arns, necessitava de uma ajuda, em Foz e por esta razão, foi indicada pelo padre Germano, como a primeira beneficiada do evento.

A realização daquela canja serviu como fundamento para as demais. Os padres Germano e Giuliano Inzis, começaram a mencionar o vento nos encontros e missas; os idealizadores juntaram uma porção de amigos, pediram emprestados os fogões, panelas, e, contaram com a ajuda de uma rede supermercadista na lista de produtos. Cabia à prefeitura fornecer o espaço com tendas, água e energia elétrica. Paralelamente, sabendo da ação e das pessoas envolvidas, toneladas de alimentos começaram a ser doados, inclusive frangos vivos. “A gente não sabia o que fazer com aquelas galinhas que escapavam e corriam pelo jornal; faltou depósito para guardar tantos alimentos e sacos de batatas. A solução foi começar a distribuir para outras entidades também”, relembram os organizadores.

Celebridades do cartum toparam elaborar versões do Galo Inácio, o que ajudou bastante no incremento da renda, por meio da venda de camisetas estampadas. O primeiro galo foi “rabiscado” por ninguém menos que Millor Fernandes. Nos anos seguintes, vários cartunistas de renome fizeram questão de desenhar o galo para o evento.

 

Em branco e preto, o traço original do Galo Inácio criado pelo jornalista Rogério Bonato, ao lado a versão finalizada a partir de um esboço cedido pelo genial Millor Fernandes e que foi utilizada no primeiro evento, em 2001.

Aconteceu, afinal, a derradeira estreia, na terça-feira de Carnaval e a Pastoral da Criança cedeu mais de uma centena de voluntários para ajudar no feitio de milhares de porções, que foram vendidas ou distribuídas gratuitamente em plena área onde acontecia o Carnaval, em meio aos foliões. Soldados do Corpo de Bombeiros e do Batalhão do Exército ajudaram na segurança e supervisão, no uso do gás, na cozinha a céu aberto e, levando as sobras para o Lar dos Velhinhos. Pessoas que testemunharam a ação dizem que além do arrecadado, impressionou a atenção que a entidade passou a receber por parte da cidade, o que valeu muito mais do que o evento em si.

O sucesso foi tanto, que a Canja acabou repercutindo nacionalmente, atravessando a madrugada e servindo de pano de fundo no encerramento do telejornal Bom Dia Brasil, roubando a cena do famoso bloco Bacalhau do Batata, em Olinda.

Os organizadores foram convidados a prestar contas ao padre Germano; falaram sobre a necessidade de um estatuto, de deixar as entidades controlarem a venda dos ingressos e camisetas, do destino aos alimentos excedentes, sobras e outros aspectos importantes, como a segurança alimentar. Germano disse: “faço questão de provar a primeira canja todos os anos, para saber se está bem-feita, porque vocês quase mataram o padre, com a quantidade de sal que despejaram”. E a ordem foi cumprida. Acontece que em 2001, com a falta de experiência e a bagunça que se formou para dar conta do caldo, cada um que passava foi colocando um pouco de sal e algumas panelas precisaram ser descartadas. Dentre outras, a cozinha passaria para as ordens de um chefe de cozinha, cedido por hotéis e restaurantes.

O estatuto do evento foi redigido mais tarde por Wilson Stank Batista e seus pontos fundamentais persistem até a atualidade. A Canja do Galo Inácio consiste em ajudar entidades voltadas para a infância, juventude e nutrição; descontrair o ambiente carnavalesco, trabalhar a divulgação da cidade, e, repor a energia aos foliões. Um dos aspectos curiosos do evento, é a enorme fila que se forma – todos os anos – por pessoas que vão buscar o alimento para depois consumi-lo em casa, em família. Isso se deve à aura emanada pelo padre Germano, um líder de grande força espiritual. Germano Lauck faleceu em 2009, aos 76 anos.

Após o recesso pandêmico, a Canja do Galo Inácio volta se ser realizada, atendendo em 2023 a Associação “Um Chute Para o Futuro”. O evento passou a ser coordenado nos últimos cinco anos pelo Rotary Club Foz do Iguaçu – Grande Lago.

A Canja do Galo Inácio é cercada de boas histórias. Alguns fatos merecem ser lembrados e o Almanaque Futuro se dedicará a isso até a realização do evento.

A Associação “Um Chute Para O Futuro” receberá o resultado da Canja do Galo Inácio de 2023