Paulo Betti visita Foz do Iguaçu e resume: “Por favor, quero voltar!”

Ator se apresentou em Toledo, mas “fez escala para rever atrativos e renovar as energias”

 

Eliane Luiza Schaefer

Foto de Ismael Filadelphi e Fabrício Chianello

 

Foz é o palco dos grandes atrativos e onde celebridades das artes aplaudem a atuação da Natureza, como a abundância das águas, os bichos, as matas e tudo o que mais há para se admirar. O premiadíssimo ator, diretor e autor Paulo Sérgio Betti fez um rápido tour pela cidade e gentilmente atendeu o Alamaque Futuro, que sempre faz questão de um bate-papo agradável com quem enriquece a cultura brasileira e de alguma maneira faz a diferença.

Paulo foi o Giovanni Rossi de “Colônia Cecília”, Timóteo D’Alamberti em “Tieta”, o Carlão de “Pedra sobre Pedra”, o Cícero Branco de “Incidente em Antares”, o Dr. Odorico Quintela em “Engraçadinha”; deu vida ao Delegado Renciso Figueira em “Hilda Furacão”, brilhantemente interpretou o Téo Pereira em “Império”, e foi até o Coelho, cantando e dançando no “The Masked Singer Brasil”. Incontáveis e impagáveis os papeis por ele assumidos e que fizeram a diferença em produções de televisão, teatro e cinema, como em Lamarca, Cafundó, dentre outros, mas em Foz, desempenhou o um papel genial, o de se mostrar como Paulo Betti, em carne e osso, sem maquiagem, roteiro e marcação de palco. Ele não concedeu uma “entrevista” e, sim, conversou sobre sua história e performances, adoradas por todos os que assistiram e de alguma maneira compartilharam o seu trabalho.

Paulo resume a sua carreira e pontua a importância nas artes da dramaturgia, seja nas telinhas, telonas e palcos. Para ele, se for “pensar economicamente, a televisão é o número um, o teatro o dois e cinema ficaria na posição três”, disse. “Aonde eu ganho meu sustento é na televisão. O teatro tem sido uma forma de movimentar uma equipe, e, de eu estar aqui, portanto é a atividade de número dois; não creio que sobrevivesse só do teatro, então o meu lugar é na TV, e eu gosto da TV. Eu gosto de fazer, de interpretar, eu gosto de estar nessa atividade. Cinema eu tenho feito muito esporadicamente”, ressalta.

Interpretando tantos papéis de destaque, há uma certa curiosidade em saber qual dos personagens é o favorito do ator, ou o que ele considera um de seus melhores desempenhos. Segundo o Paulo, o dramaturgo Domingos de Oliveira disse que a sua melhor performance foi no papel de Odorico, na minissérie “Engraçadinha, seus Amores e Pecados”, obra original de Nelson Rodrigues. Na opinião de Betti, o Timóteo de “Tieta” (Jorge Amado) foi mais marcante em sua carreira. Ele lembra que na época, estava muito empenhado em tudo e a novela se passava em pleno período de campanha, 1989. “Eu estava encerrando o trabalho e, ao mesmo tempo, empenhado na campanha. Numa novela você desenvolve uma sinergia, mas os bastidores pegavam fogo quando o assunto era política. Apesar de um momento sério, era também divertido, entre discordar e concordar. Mas ainda sobre papéis, o Theo Pereira também foi importante.

O ator Paulo Betti concedeu entrevista para Eliane Luiza Schaefer, Ismael Filadelphi e Fabrício Chianello (Autor desta foto)

Mas o que Paulo não escondeu o tempo todo, foi a sua necessidade de “exercer militância”, sobretudo quando o assunto foi Leis de Incentivo e como são aplicadas, os desvios recentes na valorização artística e como o exercício cultural foi desprestigiado. Segundo ele, “temos que agradecer aos pobres, nordestinos, negros e as mulheres, por banirem os inimigos da cultura do poder. Porque realmente, o que houve em quatro anos, foi um desmonte absoluto de tudo na estrutura para o incentivo. Houve um método criminoso, a meu ver; uma campanha contra os artistas. Foi o que Chico Buarque falou em Lisboa. Ele dedicou o Prêmio Camões a todos aqueles que tinham sido ofendidos, perseguidos e humilhados. Como se nossa profissão além de ser desnecessária, fosse até desonesta. Nós fomos pintados de uma forma grosseira, como fôssemos “mamadores” da Lei Rouanet, que não foi invenção do Partido dos Trabalhadores, ou outra agremiação; ela estava funcionando muito e razoavelmente bem. O que acontece é que a Lei possui essa questão de que as grandes empresas querem patrocinar os atores mais conhecidos para terem retorno”

Explicando a legislação

A maioria dos brasileiros, se consultados, não entendem as Leis de Incentivo e isso, quando é usado com intenções deturpadoras da realidade, causa sérios prejuízos a uma série de atividades que são pautadas pela legislação. As leis de incentivo não distribuem “recursos” e sim, eles precisam ser captados e depois passam por um processo de prestação de contas que requer muita responsabilidade.  Segundo Paulo Betti, “quando você explica para uma pessoa o que é a Lei Rouanet, por exemplo, se ela tiver o mínimo de boa-fé, entenderá. O que acontece é que muitas pessoas são dotadas de um ponto de vista absolutamente contrário e que no fim, distorcem a realidade. É quando prevalece a má-fé e ela acaba se tornando coletiva”. Explica.

“As leis de incentivo são de muito rigor. Veja, quando mencionam a Claudia Raia, não sabem o que estão dizendo. Ela não ganhou dois milhões para fazer duas apresentações. Estão completamente equivocados. Cláudia possui sim, dois projetos grandes, de muita consistência, porque ela e o marido são competentes, entendem muito do teatro musical. Uma peça assim necessita de orçamento alto e ainda mais na proposta deles, para duas montagens diferentes. Cada montagem conta no mínimo com cerca de 30 pessoas. A todo momento ficamos explicando essas coisas, o que é um absurdo; bom, precisamos até explicar que o Planeta Terra é redondo; que a vacina é boa, e que se vacinar faz bem. No fim, somos heróis, no sentido de combater essas deformidades, esse mal que causam, distorcendo a realidade”.

O início e a formação de um grande ator

“Eu venho de um meio muito pobre em Sorocaba e tive a sorte de viver um momento em que o ensino público era muito bom. Minha mãe era empregada doméstica; meu pai servente de pedreiro; eles criaram 15 filhos e eu era o mais novo. Passei cerca de 20 anos em uma sociedade absolutamente negra, um quilombo. Lá tive a sorte de vivenciar um mundo fascinante e de muita profundidade, onde há a cultura dos povos afro-brasileiros, e veja, isso mesmo pertencendo a uma família italiana. Sorocaba era uma cidade industrial, chamada a “Moscou do Brasil”. Havia uma movimentação política muito forte; meus avos eram imigrantes, meu pai camponês, não havia como escapar daquela condição, ou seja, da minha classe social. Então isso me faz ser militante o tempo todo, no sentido de tentar fazer alguma coisa para retribuir as oportunidades que tive em relação ao ensino público, a possibilidade de contato com artistas, e, a minha cidade, Sorocaba, propiciava isso”, lembrou Betti.

A militância ativa

“Tive boas chances na minha adolescência e me tornei um militante. Me orgulho muito disso. Aprendi desde cedo e gosto de militar. Explico para as pessoas o que penso sobre muitas coisas, gostem ou não. Digo que Cuba é um bom país, que os médicos cubanos são ótimos, e o que estavam fazendo aqui no Brasil era maravilhoso, qual a razão de mentir sobre isso?”, conta o ator.

Artistas e cargos públicos

A sociedade em geral analisa a performance de gente do meio artístico nos cargos públicos. Há desempenhos contestáveis, mas para Paulo Betti, isso é importante. “Antônio Gracci foi presidente da Funarte, Gilberto Gil ministro da Cultura, quando pessoas assim se dispõem a fazer isso, estão em verdade se voluntariando. Eu não teria essa paciência. Quando a Margareth Menezes foi indicada para o ministério, havia uma corrente contrária. Logo que soube da indicação considerei excelente”, afirma Paulo Betti.

Foz e suas belezas

O ator fez questão de descrever a emoção ao visitar a cidade. “A descida de avião já é emocionante. Que floresta é aquela? Gente… que coisa linda! Lá de cima vi o encontro dos rios, aquele verde todo, fiquei emocionado. Quero voltar! Eu já estive em foz vendo as cataratas, faz tempo, mas é uma energia que se renova”, elogiou.

Paulo Betti foi hospedado pelo DoubleTree by Hilton Foz, um novíssimo empreendimento hoteleiro de grande porte, e, que tem sido parceiro em diversas atividades culturais do Iguaçu. Ao longo do bate-papo, não faltaram sugestões para a realização de eventos culturais. “Se não há ainda um teatro, sei que existem locais em hotéis, como deve haver em escolas, o que importa não é o espaço físico e sim a vontade, o movimento, a intenção de realizar peças e eventos culturais”, afirmou. Ser depender da vontade no ilustre visitante, ele sempre estará disponível para Foz do Iguaçu.