Votos longos em Brasília, discursos curtos no Paraná

Enquanto o STF escreve um capítulo histórico no julgamento de Bolsonaro & Outros, Ratinho Jr. circula entre pontes, encontros e cifras bilionárias, misturando política, economia e sinalização até no asfalto.

Fux em cena

Com 13 horas de duração, o voto de Luiz Fux no julgamento de Bolsonaro entrou para a lista dos mais longos da história do STF na última década. Superou o recorde anterior de Celso de Mello, que falou por 6h30 no julgamento da criminalização da homofobia e transfobia. No caso de Fux, foram 13 horas com intervalos, sendo 11 horas ininterruptas. Haja fôlego! Apenas dois votos foram mais extensos ao longo da história: Joaquim Barbosa (15h48) e Ricardo Lewandowski (15h04), ambos no mensalão, em 2012. Assim, Fux levou o bronze para casa. Em mais de 420 páginas, divergiu de Alexandre de Moraes e Flávio Dino e absolveu Bolsonaro de todos os crimes.

Sobrou para Cid e Braga Netto

Para muitos, a Ação Penal 2668 — o julgamento de Bolsonaro & Outros — parece uma partida de futebol sem emoção: a audiência troca de canal e volta só para conferir o placar. E ele ainda é parcial: 2 x 1 contra o ex-presidente. Já para Mauro Cid e Braga Netto, o resultado foi mais duro: 3 x 0 pela condenação. A tensão foi tanta que circulou a pergunta: “E se Fux pedir vista?” Se isso ocorresse, o julgamento poderia se arrastar até dezembro.

Um vácuo de tensão

Um pedido de vista criaria uma lacuna indigesta: daria oxigênio à defesa, mas passaria a imagem de um Supremo incapaz de concluir um caso histórico. Fux, no entanto, preferiu temperar a disputa: discordou em pontos da acusação, mas afastou a condenação de Bolsonaro por organização criminosa. No STF, cada voto é também uma encenação política — e o de Fux não fugiu à regra.

Fez o contraditório

No papel de árbitro de VAR, Fux causou euforia na defesa ao afirmar que a Corte não seria competente para julgar o caso. Virou rapidamente o “independente” da Primeira Turma. Nos bastidores, Silas Malafaia celebrou como se fosse gol de final: já falam até em esculpir o ministro em jacarandá para altar pentecostal.

O voto e o rabo do foguete

Mas a coerência do ministro tropeçou: ele já havia acompanhado Moraes e Dino no recebimento da denúncia que tornou Bolsonaro réu. Agora, ao dizer que o STF não tem competência, abriu uma fissura. Afinal, por que aceitar os “peixes pequenos” do 8 de janeiro e recusar o “peixe grande”? Para ele, a massa que invadiu Brasília não passaria de “turba desordenada”. O voto foi celebrado como corajoso por uns, mas soou como oscilação por outros.

Um dia trágico

Quem diria: a condenação de Bolsonaro pode sair em 11/09, data marcada pela tragédia nos EUA. Dependendo do voto de Cármen Lúcia, a maioria contra o ex-presidente pode se formar. O julgamento foi atrasado porque a leitura do voto de Fux se estendeu até perto das 23h. Nesta quinta (11), Cristiano Zanin pode votar, e, em caso de condenação, a dosimetria das penas deve ser definida já na sexta (12).

Dosimetria

O termo “dosimetria” tem cara de rebuscado, mas cabe até no balcão de boteco. Certa vez, o saudoso Gerson Aires dos Santos pediu ao barman: “faça uma dosimetria adequada à minha dose de uísque”. O juiz Marcos Frazon, ao lado, riu e explicou: trata-se do cálculo da pena justa. No caso da Ação Penal 2668, após a conclusão dos votos, o STF terá de fazer a sua: medir, ajustar e servir a sentença — sem gelo e sem diluição.

A engenharia da pena

No STF, o roteiro da dosimetria é meticuloso: primeiro, decide-se o mérito — se Bolsonaro e seus seguidores serão condenados. Confirmada a culpa, entra em cena o cálculo da pena, em três etapas. Tudo começa com a pena-base, definida dentro dos limites legais de cada crime, avaliando antecedentes, consequências e a posição de cada réu na trama. A chefia da empreitada — atribuída a Bolsonaro — pode pesar mais na balança. Depois vêm as circunstâncias agravantes ou atenuantes: reincidência, violência e motivação pesam contra; colaboração, como a de Mauro Cid, pode aliviar. Por fim, a lei prevê causas específicas de aumento ou redução — no caso, grupo armado ou danos ao patrimônio tombado. Como os crimes são múltiplos, as penas se somam, definindo também o regime de cumprimento. No xadrez da Primeira Turma, Moraes, Dino e Cármen defendem punições duras; Zanin tende ao meio-termo; e Fux aparece como o voto mais leniente.

No Paraná…

Em encontro que começou em Curitiba e terminou em Ciudad del Este, Ratinho Jr. se reuniu com o presidente paraguaio Santiago Peña. Quem acompanhou garante: parecia conversa de gigantes — de um lado, o PIB paranaense já roçando os R$ 800 bilhões; do outro, o Paraguai crescendo 4,5% ao ano. O governador lançou a ideia de uma “Opep do alimento”, bloco agroalimentar para ditar regras da segurança alimentar global. Belo discurso, mas o que conta são os números: só em 2025, o comércio bilateral já roça US$ 1 bilhão, segundo o Ipardes. Nada mal para vizinhos que dividem fronteira, energia e os mesmos aborrecimentos de logística e burocracia.

Troca-troca

Peña foi direto: o Paraguai tem energia barata, estabilidade econômica e espaço para empresários paranaenses. Os números ajudam: 6,5 milhões de habitantes produzindo comida para 100 milhões de pessoas. Paranaguá pode ser a porta de saída, Itaipu a bateria e Ciudad del Este a vitrine. Se a retórica virar prática, a nova ponte entre Foz e Presidente Franco será mais que concreto e aço — será a espinha dorsal de uma integração econômica.

Trem da alegria paranaense

E o ratinho voltou a dar expediente em Foz, desfilando pela Ponte da Integração como quem atravessa a varanda de casa. O nome oficial ainda não pegou, e já tem gente chamando de “Ponte Jaime Lerner”. Cercado por prefeitos e vereadores em romaria, o governador parece mirar voos mais altos. Mas cuidado: rato que voa não é ave — é morcego. E, nesse voo político, precisa evitar trombar nos fios de alta tensão.

Enquanto isso…

Como Ratinho Jr. não abre totalmente o jogo sobre seus planos, o tabuleiro local segue em compasso de espera. Pretensos candidatos a deputado federal e estadual ficam no observatório, cuidando para não embarcar em bonde errado. Quem não perdeu tempo foi o empresário Deoclécio Duarte, que já anunciou retorno ao PL e lançou-se como pré-candidato. Na manhã desta quarta, foi visto no Hotel Mabu, entre cafezinhos e prosas, ao lado do deputado Alexandre Curi e do próprio governador. “A conversa foi boa, agradável e terá continuidade em breve”, confidenciou a este colunista. No xadrez político, Duarte moveu o primeiro peão.

Mais encontros

Deoclécio Duarte aproveitou a manhã para circular entre amigos e conhecidos no 83º Encontro Nacional dos Detrans, sediado em Foz. Entre abraços, encontrou Santin Roveda, ex-prefeito de União da Vitória e atual comandante do Detran/PR. Santin não escondia o sorriso largo: minutos antes, o governador havia liberado R$ 100 milhões para reforçar a sinalização viária nos 399 municípios do Paraná. Como diria um amigo da fronteira: é verba que pinta o chão, ergue placas e garante fotografias de inauguração para muita gente.

Dados robustos

O programa Sinaliza Paraná prevê de R$ 345 mil a R$ 862 mil por cidade, proporcional ao número de habitantes. É dinheiro que dentre outras, refletirá, quem sabe, em menos acidentes. Ratinho Jr. aproveitou o palco para vender a ideia de que investir em sinalização é salvar vidas, além de organizar o trânsito. Roveda, animado, reforçou que uma sinalização moderna é pilar da segurança viária. O discurso é correto, mas no fundo também tem matemática eleitoral: faixas bem pintadas podem render tantos votos quanto quilômetros de asfalto.

Outros horizontes

Foz virou vitrine nacional e até internacional com o encontro. Autoridades dos 27 estados, países vizinhos e especialistas discutem mobilidade, sustentabilidade e custos dos acidentes. A escolha da cidade não é aleatória: além da integração regional, há simbolismo em sediar no coração do Mercosul um debate sobre trânsito. O prefeito Silva e Luna saudou a diversidade de pautas, lembrando que os problemas de tráfego amazônico não se parecem com os do Oeste do Paraná. No fim, todos concordaram: se há algo que une o Brasil de norte a sul, é a necessidade urgente de sobreviver ao trânsito.

Enquanto isso…

Como Ratinho Jr. não abre totalmente o jogo sobre seus planos, o tabuleiro político segue em compasso de espera. Pretensos candidatos a deputado federal e estadual observam de longe, atentos para não embarcar no bonde errado. Quem não quis esperar foi o empresário Deoclécio Duarte: anunciou retorno ao PL e já se lançou como pré-candidato. Na manhã desta quarta, apareceu no Hotel Mabu entre cafezinhos e conversas, ao lado do deputado Alexandre Curi e do próprio governador. “A conversa foi boa, agradável e terá continuidade em breve”, confidenciou a este colunista. No xadrez, o Deoclecio moveu o primeiro peão.

Mais encontros

O empresário aproveitou a manhã para circular no 83º Encontro Nacional dos Detrans, em Foz. Entre abraços, encontrou Santin Roveda, ex-prefeito de União da Vitória e atual comandante do Detran/PR. Santin sorria de orelha a orelha: minutos antes, o governador havia liberado R$ 100 milhões para reforçar a sinalização viária nos 399 municípios do Paraná. Como se diz na fronteira: é verba que pinta o chão, ergue placas e rende boas fotos de inauguração.

Dados robustos

O programa Sinaliza Paraná prevê repasses que variam de R$ 345 mil a R$ 862 mil por cidade, conforme o número de habitantes. Dinheiro que, espera-se, também reflita em menos acidentes. Ratinho Jr. usou o palco para sustentar que sinalização é sinônimo de vidas salvas e trânsito organizado. Roveda reforçou: sem sinalização moderna, não há segurança viária. O discurso é correto, mas no fundo há também matemática eleitoral: faixas bem pintadas podem render tantos votos quanto quilômetros de asfalto.

Outros horizontes

Foz virou vitrine nacional e até internacional com o encontro. Autoridades dos 27 estados, vizinhos sul-americanos e especialistas discutiram mobilidade, sustentabilidade e custos dos acidentes. A escolha da cidade não foi por acaso: além da integração regional, há o simbolismo de sediar, no coração do Mercosul, um debate sobre trânsito. O prefeito Silva e Luna lembrou que os gargalos da Amazônia nada têm a ver com os do Oeste paranaense. No fim, todos concordaram: se há algo que une o Brasil de norte a sul, é a necessidade urgente de sobreviver ao trânsito.

Até logo mais

Enquanto os votos se alinham em Brasília e a Primeira Turma do STF rabisca as últimas linhas do julgamento de “Bolsonaro & Outros”, nós aqui fechamos a coluna, de olho na cena final. O enredo pode ser de surpresas e dosimetria servida em copo americano. A você, leitor, fica o convite para acompanhar a provável postagem especial quando o martelo bater. Até lá, boa quinta-feira: que o trânsito seja mais leve, o café mais forte e a política menos barulhenta que o plenário do Supremo.