Van Gogh impressiona, literalmente

Em sua coluna, Rogério Bonato reflete a obra do genial neerlandês que viveu apenas 37 anos e morreu na pobreza. Seus quadros batem recordes em leilões.

A vida é mais importante

É difícil, mas às vezes é preciso se distanciar do clima eleitoral, sobretudo na fervência dos tantos acontecimentos. A política se incorpora ao cotidiano de tal maneira, que parece nos faltar oxigênio. Muitos leitores se manifestam entediados e desconfortáveis, afinal de contas, a vida segue.

 

Escape importante

Então vamos seguir com a vida e dar uma escapada da tensão, nem que seja por algumas notas, ou algumas horas. Deve haver um pouco de espaço para outras coisas, neste período que precede a escolha de representantes ao Executivo e Legislativo Municipal.  Não houve como deixar de conhecer a exposição imersiva, inaugurada na noite de sexta (30/08), no Shopping Catuaí Palladium, trabalhando por meio de audiovisuais a obra do genial Vincent Willen Van Gogh e também de outros impressionistas. Foi emocionante; uma viagem que nos põe a pensar em muitas coisas. O tour pelo espaço de 1.200 m2 inicia com a história do pintor, narrada por meio de trabalhos desde a infância, se misturando com a têmpera da vida, que talhou o neerlandês, em sua breve jornada. Viveu apenas 37 anos.

 

Além do quarto

Pensamos: será que Van Gogh imaginou, em algum momento de inquietude, que um dia “impressionaria” o mundo, com a sua revolução do azul, estrelas fumegantes, girassóis, retratos e, que, faria tantas pessoas pensarem na paz do seu quarto em Arles? Certamente não. E jamais poderia pensar, que ao apreciarmos a sua obra, nos sentiríamos tão insignificantes.

 

Insignificância e humildade

Saber-se insignificante não é somente uma virtude, é mais, é a expressão de humildade, frente aquilo que atiça e supera os nossos sentimentos e capacidade. Às vezes pecamos com difícil indulgência, ao acreditarmos que sabemos mais que outros e que o nosso conhecimento é insuperável. Isso serve inclusive de recado aos queridos políticos, é falível subestimar quem nos desafia.

 

Reconhecer é bom e faz bem

Eu por exemplo, às vezes, acredito que sei escrever e, ao reler Machado de Assis, Graciliano Ramos, Thomas Mann, João Guimarães Rosa, ou em esbarrar em textos de Rui Castro, Zuenir Ventura, e outros, concluo rapidamente e, humildemente, o grau de insignificância. Isso também acontece na arte, de frente com os grandes mestres da pintura, no cinema, dramaturgia, na música. É daí, dessa admiração, de onde surgem as portas para um importante aprendizado, que muitas vezes, sem perceber, desprezamos. Vamos cair “na real” e assumir o quanto nos falta. Isso pode nos tornar um pouco melhores.

 

História e estória

Empreendimentos culturais como a imersiva em Van Gogh são importantíssimos para a formação do indivíduo e além disso, provocam uma introspecção necessária, de reflexão e autoanálise. Entendemos, por exemplo, que muitos são vítimas da sociedade, incompreendidos, rotulados equivocadamente e os julgamos sem chance de defesa. Vincent é um ensinamento, porque não foi reconhecido em seu tempo, diziam que era “louco e fracassado”, bêbado, largado, drogado. Em verdade era depressivo e isso o levou a decepar uma das orelhas e depois a disparar um revólver contra o próprio peito. Há controvérsias, mas não vem ao caso agora. Passou muito tempo até se tornar a essência do génio incompreendido, alguém entre a “loucura e criatividade”. Pensem isso?

 

Olhar em volta

Algo que devemos praticar e continuamente, é olhar além do umbigo e entender que estamos cercados de talentos e pessoas que só precisam um empurrãozinho para se acertarem com a vida, em muitas atividades. Para isso a política pública é essencial, porque somente com investimentos sérios vamos causar o reconhecimento esperado por tantas pessoas. Cultura gera mais recursos do que imaginam as pobres mentes empoeiradas das mesmices.

 

Cultura é importante?

“Creio que entretenimento faz parte da vida, e, ir ao teatro, cinema, ouvir recitais é bom, mas andar em ruas esburacadas, escuras, inseguras, pegar fila nos postos de saúde, pagar impostos altíssimos, não ter vaga para o filho na creche, tudo isso fala mais alto. Não está errado deixar de debater a ‘cultura’ quando existem tantos outros problemas”. Foi o que escreveu J.M.D, que pediu para não ter o nome publicado. Respeitando a leitora, cujo pensamento acompanha a maioria, cabe um comentário, esperando ser compreendido: povo culto, escolhe melhor os representantes e isso ajudará a encurtar as filas nos serviços públicos; a resolver os problemas de pavimentação; diminuir a insegurança; discernir a cobrança de taxas e impostos, afinal elas são o rateio entre contribuintes; haverá Justiça social com os menos afortunados, os excluídos; a renda será melhor distribuída por meio de mais atividades, no fomento do artesanato, arte, espaços contemplativos e educacionais, criando um laço com a atividade turística; Cultura é desenvolvimento e para muitos, parece ser o rabo mordendo o cachorro. Vamos descomplicar.

 

Discussão

Há muito de fora da lista de discussão entre os políticos. Nenhum deles, até o momento, falou em esporte, outra ponta que colabora bastante em diminuir os problemas com a saúde. Poucos se preocupam com a “sustentabilidade” e se há progresso na cidade com os “ODS” da ONU, ou, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Um exemplo é quando se matam falando em Transporte e não apresentam soluções inovadoras como o uso de biocombustíveis, VLTs, e até mesmo ônibus elétricos. A palavra “Planejamento” é apenas “ventilada” e, todos deixam de lado a importância de recuperar projetos importantíssimos como é o caso dos Parques Lineares. Não é porque isso surgiu o governo Chico, que deve ser sepultado, “oras bolas”, dizia a minha avó!

 

Que cidade teremos?

Os políticos também falham quando deixam de imaginar qual cidade haverá depois de tantas obras concluídas. Ao que parece, em 2026, Foz será outra, com a Perimetral Leste desviando o trânsito das ruas centrais; o cidadão contará com um belo escape de lazer, utilizando ciclovias até os portões do Parque Nacional; uma JK revitalizada, haverá mais facilidades para os visitantes. Se cumprirem a tabela, as promessas e melhorando os serviços públicos, já será de grande valia.

 

Gastronomia

Um amigo relacionou serviços de restaurantes e bares e há um leque formidável de opções. O fato é que muita gente não se dá conta. Em maioria, os empresários se queixam da falta de incentivo e a moralização por parte de alguns órgãos, porque há gente sendo ameaçada de sofrer, caso não se submeta ao pagamento de “propina” à “piranhagem”. Isso é um absurdo.

 

Precedentes

Não são poucos os casos e “causos” de bons restaurantes que naufragaram diante de uma pressão assim. E cadê a mão que deveria controlar e fiscalizar essas aberrações, de gente querendo ganhar 40 a 50% do serviço de uma mesa, do contrário não levará mais turistas? Que barbaridade! Isso está para estourar em oportunidade próxima e é caso de polícia. Donos de restaurantes e bares já sofrem muito com essas máfias. Claro, assuntos assim não vão parar em programas eleitorais, porque o mafioso vota. Estima-se que há centenas de pessoas atuando nessas práticas.

 

Tá de bom tamanho

Voltando à política, não deu tempo de olhar, portanto não comentar o produto dos horários políticos, ou a famosa Propaganda Partidária Eleitoral, que leva alguns minutos do nosso dia e é difícil escapar, porque vai ao ar nos horários nobres. É melhor ver, do que ignorar. Assistir ao horário eleitoral é uma maneira de estudar os candidatos e, saber, se realmente darão conta do recado.

 

Sem impressionar

Programas políticos deixaram de ser uma arapuca de eleitores fracos. A população está muito antenada e surrada pelos eventos contemporâneos, como o confinamento em razão da pandemia e a polarização. A política invadiu e permeou todos os lares, grupos de amigos, botecos, igrejas, associações, logo, o cidadão aprendeu a entender que encheção de linguiça e plástica bonitinha podem não resultar em eficiência na área pública. Semana que vez publicarei um comentário. A todos uma boa semana!

Rogério Bonato escreve regularmente ao Almanaque Futuro