Uma reflexão sobre o Turismo

 

*Por Yuri Benites_

Há cinco anos, o mundo desacelerou e o setor de turismo enfrentou uma das crises mais intensas de sua história. Em contrapartida, esse período também trouxe reinvenção. Todos entenderam, definitivamente, que o turismo vai além de promover viagens, ele movimenta uma cadeia produtiva completa, impacta famílias, gera renda, cria empregos e transforma vidas.

Os impactos da pandemia foram devastadores para o setor de turismo, que hoje vive uma fase de notável expansão, evidenciada pelos excelentes resultados de 2024, já considerado o melhor ano da história para o turismo internacional no Brasil. O país recebeu mais de 6,7 milhões de turistas estrangeiros, um aumento de 14,6% em relação a 2023, segundo dados do Ministério do Turismo, Embratur e Polícia Federal. Ainda de acordo com a Embratur (2024), os visitantes internacionais deixaram no Brasil um total de US$ 7,341 bilhões, estabelecendo um recorde na série histórica iniciada em 1995. Esse desempenho superou, inclusive, a receita de importantes produtos de exportação do país, como o algodão (US$ 5,2 bilhões) e o minério de cobre e seus concentrados (US$ 4,2 bilhões).

Apesar dos motivos para comemoração, é importantíssimo refletirmos sobre outros números e desafios. Estamos, de fato, às portas de uma urgência: a necessidade de cumprir as metas da Agenda 2030, a agenda global que inclui os 18 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) como diretrizes fundamentais.

E, bom, o turismo está entrelaçado aos desafios globais destacados pela Agenda 2030 da ONU, especialmente aqueles relacionados às mudanças climáticas. O setor, embora promotor do desenvolvimento econômico e cultural, também é responsável por uma parcela significativa das emissões de gases de efeito estufa — com destaque para o transporte aéreo, uma das principais fontes dessas emissões na atividade turística. Por isso, hoje já se discute um turismo mais resiliente, abordado sob a perspectiva do Turismo Regenerativo — um conceito que vai além da sustentabilidade. Ele busca restaurar e regenerar os ecossistemas sociais, culturais e ambientais impactados pelas atividades turísticas. Trata-se de um modelo que não apenas minimiza os danos, mas promove ganhos para os territórios visitados, envolvendo as comunidades locais como protagonistas do desenvolvimento.

Neste cenário, o Brasil terá um papel fundamental ao ser anfitrião da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30) em Belém. O evento será um espaço de discussão abrangente e abrirá brechas para se pensar em como o turismo pode transformar práticas, repensando o modelo de desenvolvimento que frequentemente prioriza o crescimento em detrimento da preservação ambiental e social. A Organização Mundial do Turismo (OMT) já aponta que práticas sustentáveis, quando integradas a estratégias nacionais, aumentam a resiliência econômica e reduzem desigualdades (2022). Por isso, na COP, além de discutir clima e meio ambiente, também falaremos sobre gente, sobre vida digna, emprego justo e comida na mesa. Afinal, o turismo é um agente de inclusão social, que valoriza culturas, histórias e patrimônios, empoderando comunidades vulneráveis e gerando oportunidades econômicas mais justas. Enfrentar a crise climática também implica abordar desigualdades estruturais que perpetuam injustiças sociais. Por isso, Belém, como sede do evento, carrega um simbolismo significativo.

O setor também deve priorizar a produção e o uso de dados atualizados sobre os impactos ambientais do turismo – uma recomendação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2022), que destaca o turismo como uma atividade simultaneamente vulnerável e transformadora diante da crise climática. Além disso, é indispensável fomentar a pesquisa acadêmica e a articulação entre universidades, governos e setor privado, para que a sustentabilidade deixe de ser apenas um discurso e se converta em uma prática mensurável, com foco no bem-estar das pessoas e do planeta. Foi a partir dessa visão que construímos, em parceria com o Ministério do Turismo, o Observatório Nacional de Turismo Sustentável, com atuação voltada ao fomento à pesquisa e à produção de dados para o desenvolvimento de um turismo mais sustentável.

A pandemia “ficou para trás”, a Agenda 2030 “parece distante”, mas está logo ali, virando a esquina. Neste Dia Nacional do Turismo, pensemos que nosso setor é muito mais do que um “check” no mapa. Ele é um agente de transformação, um passo rumo a um mundo mais sustentável e equitativo. Para isso, precisamos aprender a pensar o turismo e a viajar não apenas com a emoção, mas com consciência, mente aberta e coração comprometido com o futuro.

Yuri Benites é Diretor de Turismo do Itaipu Parquetec