Precisamos retomar a integração na fronteira

*Por Luiz Henrique Dias_

 

Dia desses, conversando com um leitor que encontrei numa cafeteria da cidade, fui alertado por ele, sabiamente, de que estávamos perdendo nossa capacidade de integração com as cidades da tríplice fronteira. Fiquei reflexivo sobre o tema.

No dia seguinte, ouvi um relato, de um amigo agora, sobre as dificuldades para se vencer a aduana argentina e chegar à Iguazú para tomar um avião rumo à Buenos Aires e, logo depois, vi em uma rede social uma confusão generalizada na Ponte da Amizade, envolvendo policiais e mototaxistas. Em seguida, na mesma postagem, vi comentários – de brasileiros – bem ruins, especialmente atacando paraguaios, com xingamentos.

A impressão que eu tenho é a de estarmos perdendo a noção de fronteira e, ao mesmo tempo, perdendo o bonde da história e uma oportunidade única de nos consolidarmos como uma região metropolitana trinacional, com cidades de três países diferentes, com fluxos econômicos mais integrados.

Todos nós que aqui estamos sabendo o quanto estamos imersos em línguas e culturas diferentes, mas somente isso é pouco perto do tamanho do potencial não aproveitado, perto da possibilidade de levarmos – como países – essas aduanas para mais longe, melhorarmos nossa mobilidade, frequentarmos as diversas cidades que compõem o território, tomarmos café no Brasil, almoçarmos na Argentina e jantarmos no Paraguai. Elevar nossa capacidade de receber turistas e deixarmos de ser algumas cidades médias e pequenas para vivermos em uma metrópole com quase 1 milhão de habitantes, três bons aeroportos, serviços diversificados de saúde, educação, gastronomia, protocolos, assistência social, saneamento, transporte público, compras e riquíssima cultura.

Para os pessimistas, isso não vai acontecer nunca. Sabe por que eles pensam assim? Porque pensam pequeno, são provincianos e flertam com a estagnação e com contínuo retrocesso. Não percebem o quanto é possível avançar e o quanto podemos ganhar muito – mas muito mesmo – avançando. A construção de Itaipu, por exemplo, foi um arranjo de engenharia diplomática inédito e mostrou que, quando os países querem, fazem acordos complexos e de futuro.

E, se vale um humilde pitaco, digo: em minha reflexão, pensei o quanto o começo de tudo pode estar na educação de nossas crianças. Se introduzirmos a cultura da integração na sala de aula, em alguns anos teremos uma geração mais sensibilizada sobre o tema e mais hábil nas relações culturais. Não adianta forçarmos por outros setores, como somente com o discurso do turismo ou da mobilidade, enquanto não mudarmos a forma de pensar das pessoas.

*Luiz Henrique é arquiteto e urbanista, coordenador do Instituto de Estudos Urbanos.