POLÍTICA DO RESSENTIMENTO FAZ DERROTADOS ANDAREM COMO OS CARANGUEJOS

Artigo de João Zisman

Há um tipo de comportamento que se repete, quase como um padrão patológico, em todo início de gestão, o dos derrotados que torcem contra. Não por discordância legítima, mas por incapacidade de lidar com a perda. Em vez de reconhecer a soberania do voto popular e se recolocar no debate público com maturidade, preferem sabotar, distorcer, plantar dúvida, como se a rejeição nas urnas pudesse ser corrigida no grito.

É um fenômeno recorrente, ainda que vergonhoso. A democracia oferece aos vencidos um espaço nobre, o da crítica responsável, da vigilância construtiva, da proposição alternativa. Mas há quem decline dessa oportunidade e se contente com o papel menor de sabotador de ocasião. Tornam-se comentaristas raivosos, analistas amadores, militantes da catástrofe alheia, numa espécie de torcida organizada pela falência do adversário, como se isso não atingisse, antes de tudo, a população.

Trata-se de uma distorção do papel da oposição, substituída por um tipo de guerrilha de bastidor, onde a histeria vale mais que a razão e a desinformação mais que o argumento. Não é raro que esses críticos profissionais se apresentem como os únicos detentores da verdade, embora nunca tenham tido disposição real para o diálogo ou para o enfrentamento maduro das divergências.

Esse tipo de conduta revela mais sobre quem a pratica do que sobre quem governa. Expõe o despreparo para o contraditório, o vício pelo controle e, sobretudo, a ausência de compromisso com o interesse público. A política, nesses casos, deixa de ser instrumento de transformação para virar instrumento de revanche. E quem perde é sempre o cidadão comum.

Enquanto isso, as cidades seguem sendo tocadas por quem se dispôs a governar. Com todas as limitações, sim, com erros pontuais, inevitáveis, mas com um projeto em mãos e a responsabilidade de entregá-lo. A crítica é bem-vinda, desde que venha com o mínimo de honestidade. O que não se pode normalizar é o uso da frustração eleitoral como combustível para o ataque gratuito.

A democracia exige convivência. A pluralidade é um valor, não um incômodo. Governar para todos inclui também os que votaram contra. Mas é preciso reconhecer, há quem, mesmo derrotado, escolha a dignidade. E há quem, diante da derrota, revele seu pior lado. E não há gestão pública que se deixe intimidar por chilique de quem não aprendeu a perder.

João Zisman é economista, jornalista e exerce o cargo de secretário de Comunicação da Prefeitura de Foz do Iguaçu.