Oswaldo Loureiro – Advogado, amigo e personagem

Por Rogério Romano Bonato

Eu o chamava assim: Oswaldinho Loureiro. Para os menos íntimos — e talvez mais cerimoniosos — era o respeitado Dr. Oswaldo Loureiro de Mello Júnior, um dos mais notáveis advogados criminalistas do Paraná, referência de cátedra nas rodas de júri, um desses profissionais que fazia o tribunal virar palco, sem jamais perder a toga do respeito. Um advogado de alma incendiária e verbo encantador.

Causídico de primeira grandeza, como diriam os antigos, Osvaldinho era daqueles que, quando falava, paravam-se as xícaras de café, silenciavam-se os estagiários, e até os juízes prestavam mais atenção do que o protocolo mandava. Era aula ao vivo: eloquente, ácido, culto, com uma ironia afiada que fazia rir e pensar ao mesmo tempo.

Tinha o tipo físico rotundo de quem apreciava a boa mesa — e como apreciava. Até que um dia se submeteu a uma bariátrica. Perdeu a barriga, mas nunca perdeu o bom humor nem o gosto pela vida. Continuava a saborear os vinhos, as histórias e as amizades com a mesma intensidade de antes, só que com porções mais comedidas (às vezes). Cansei de salvá-lo do alho, que lhe causava imediata alergia, com a necessidade de ambulância inclusive.

Construiu um belo consultório jurídico na Rua Edmundo de Barros e aos fundos, uma excelente habitação, onde a cozinha era coisa de cinema. Bem em frente acabei inaugurando o bistrô Cyrano, onde o Loureiro foi a companhia de fechar o estabelecimento em inúmeras ocasiões.

Era querido por todos: por advogados, jornalistas, juízes e até por adversários — porque respeitava o duelo da palavra e a inteligência do contraditório. Defendeu-me como cliente, mas muito mais como amigo. E ganhou todas, porque antes de tudo defendia a lealdade.

A sua biografia daria um livro daqueles que a gente lê de uma vez só. Teve como marco fundador uma origem que não se esconde: formou-se em Direito durante a prisão, condenado por atos que hoje chamaríamos de resistência política, ou simplesmente: coerência com suas convicções. Um advogado que nasceu da cela e chegou ao altar da advocacia com honras, sem pedir desculpas por sua trajetória.

Nos últimos anos, a vida, que tantas vezes ele desafiou com altivez, resolveu agir com crueldade. O homem vivaz, contador de piadas e de pareceres, conhecedor do mundo, gourmet dos vinhos e das viagens, foi imobilizado pelo destino. Ficou sem palavras, sem reações, sem rebeldia — aquela rebeldia que fazia dele uma figura encantadora e inquieta. Era triste vê-lo sem reconhecimentos, ele, que sempre foi presença marcante nos almoços, nas salas de audiência e nas rodas de amigos.

Partiu nesta segunda-feira, 26 de maio, aos 80 anos. Foi cremado discretamente, em Curitiba, como quem encerra um livro sem prefácio final. Mas sua memória ficará acesa entre nós — como um bom vinho decantado, que mesmo sem mais ser servido, deixa seu aroma no ambiente e no coração de quem conviveu.

Valeu, Osvaldinho. O júri agora é com os anjos ou quem encontrar do outro lado. Mas, se tiver apelação no céu ou para onde for, sei que o recurso está em boas mãos.

Rogério Bonato escreve ocasionalmente, mas com frequencia, ao Almanaque Futuro