Os julgamentos e novas apostas na política; tudo ainda não saiu do campo da observação

De Pedro, o Grande, ao julgamento de Bolsonaro; da viagem silenciosa das Voyager às articulações políticas em Foz: um dia 5 de setembro que revela como a humanidade avança entre tradições, disputas e reinvenções. Tudo isso na coluna de Rogério Bonato.

A humanidade e os séculos

Hoje é 5 de setembro de 2025, a 249ª jornada do ano — restam 116 dias até o réveillon. No calendário religioso, a Igreja Católica lembra São Lourenço Justiniano, primeiro Patriarca de Veneza, exemplo de vida austera, e também Santa Teresa de Calcutá, ou simplesmente Madre Teresa, canonizada em 2016 e transformada em ícone universal da compaixão. Dois nomes que nos recordam de que solidariedade não é invenção moderna. A história, claro, tem seus caprichos. Em 1698, o czar Pedro, o Grande, decidiu que os russos deveriam viver sem barbas. Imagine a cena: fiscais distribuindo navalhas e cobrando taxas para quem insistisse no cavanhaque. Modernização à força! Em 1836, nascia em Morretes (PR) José de Alencar, autor de “Iracema” e “Senhora”. A casa natal ainda existe e visitar Morretes é uma boa desculpa para revisitar também um pedaço da história literária. Já em 1905, foi assinado o Tratado de Portsmouth, que encerrou a guerra russo-japonesa e deixou claro que o Japão havia chegado para disputar espaço entre as potências. Quarenta anos depois, em 1946, o Brasil ganhava um de seus maiores instrumentos de conhecimento: o IBGE, que até hoje nos ajuda a medir o país — embora muitos ainda prefiram se guiar por “achismos”. O dia 5 de setembro também carrega memórias pesadas: em 1972, o atentado contra a delegação israelense em Munique expôs ao mundo a face mais cruel do terrorismo. E, em 1997, milhões acompanharam o funeral da princesa Diana, transformado em espetáculo global de dor e idolatria. E para fechar, um feito que prova como o ser humano gosta de se lançar ao desconhecido: em 1977 partia ao espaço a Voyager 1, hoje o objeto mais distante da Terra. Lá vai ela, carregando mensagens sobre quem somos, como se estivéssemos tentando deixar um bilhete na porta do universo.

 

Pelas estrelas…

As sondas Voyager são personagens dessa epopeia. A Voyager 1 atravessou a heliosfera em 2012 e a Voyager 2 seguiu em 2018, ambas alcançando o espaço interestelar. Continuam ativas, embora em ritmo cada vez mais lento, já que a energia de suas baterias se aproxima do fim. Prestaram, de fato, um serviço exemplar: nos ensinaram a ver a Terra como um pálido ponto azul perdido na imensidão. Para quem quiser acompanhar a viagem silenciosa dessas mensageiras, a Nasa mantém um site dedicado: Para quem quiser acompanhar a viagem silenciosa dessas mensageiras, a Nasa mantém um site dedicado: Where Are Voyager 1 and 2 Now?

 

Julgamento canseira

O julgamento de Bolsonaro e seus sete anões — ou melhor, aliados — no STF já nasceu com cara de maratona: delação, traição, confusão, ameaça, suposição… e nenhuma novidade. O brasileiro já decorou essa missa de trás para frente. O espetáculo só deve esquentar mesmo a partir do terceiro voto, quando o chão vai tremer entre absolvição e condenação. Até lá, é muito tédio revestido de juridiquês. O problema é que o tribunal não é assim uma novela que dê para trocar de canal ou esperar o resumo. O país tem que assistir inteiro, capítulo por capítulo. Aí sim saberemos e formaremos opinião se houve golpe ou foi só delírio de poder. Avaliaremos também a realidade documentada em atas, agendas, decretos de gaveta e afins.

 

Patentes em jogo

Apenas um comentário à parte: entre umas e outras, se condenado, Bolsonaro pode até perder a patente de capitão reformado. Nada seria mais irônico do que o capitão cair em desgraça pela própria tropa, não por um ato heroico de guerra, mas por uma papelada golpista com nome de operação de botequim: Punhal Verde e Amarelo. Barbaridade! O detalhe é que, ao contrário da farda, a memória não se lava no quartel. Se as Forças Armadas o descredenciarem, perderá benefícios e honrarias — e talvez descubra que quem brinca de golpe pode acabar levando golpe de volta, agora na forma de processo disciplinar. Afinal, hierarquia e disciplina não costumam ser amigas da fanfarronice. Fora esse pequeno detalhe, há a lista de supostas irregularidades no comando da Nação. Bom, não dá para antecipar resultado. Vamos esperar.

 

O mundo gira… “A Lusitana” roda

Sempre que escrevo essa frase, alguém no dia seguinte pergunta o que quero dizer ou critica, achando que escondo algum mistério. Nada disso: é só uma expressão coloquial para lembrar que a vida não para, há muito mais acontecendo além do julgamento em Brasília. No fundo, a frase vem de um antigo slogan publicitário de uma transportadora portuguesa que fez sucesso nos anos 60 e 70 — tão icônico quanto dizer “la nave vá”, ou outras tiradas que simbolizam movimento. É essa a ideia: enquanto a política faz seus giros infindáveis, seguimos rodando por outros assuntos. E o primeiro deles é a proposta de criação de duas novas agências desenvolvimentistas em Foz do Iguaçu.

 

Observatório e Desenvolvimento

Ainda nem concluíram a articulação e já tem gente resmungando: “Mas pra quê criar Observatório Econômico e Agência Municipal de Desenvolvimento se já existem o OSFI e o Codefoz?”. Santa ingenuidade. Melhor ainda, como diria o Robin, parceiro do Batman: “santa paciência”. Justamente para conversar de frente com essas instituições é que o governo precisa de novas ferramentas. A diferença está em alinhar as demandas, dar método ao debate e preparar a cidade para um modelo de gestão mais claro, onde sociedade civil e poder público não falem línguas diferentes.

 

O fator político

Poucos perceberam, mas a movimentação abre até mesmo espaço para um futuro redesenho da própria estrutura de governo municipal. Em outras palavras: pode ser a semente de uma reforma administrativa. Foz tem buscado, há anos, um modelo que não fique ao sabor da maré eleitoral e que envolva entidades e sociedade civil organizada no planejamento. Essa é a tentativa: criar base técnica mais forte e maior que a política.

 

Turismo na linha de frente

Chamou atenção o secretário de Turismo, Jim Petrycoski, estar na linha de frente dessas articulações. De início, pode parecer estranho ver o Turismo puxando a fila em temas de desenvolvimento econômico. Mas, olhando de perto, faz sentido: turismo é motor transversal e acaba potencializando comércio, indústria, serviços e até agricultura. A mensagem é clara: ou Foz diversifica suas bases de desenvolvimento com diálogo e planejamento, ou continuará patinando entre promessas de campanha e improvisos administrativos. O fato é muita gente sabe berrar no imediatismo e poucas pensam em fortalecer o conjunto para o que virá.

 

Não deixaram eu molhar o bico…

A pressa em julgar certas iniciativas parlamentares é um traço bem brasileiro. Basta um vereador propor algo diferente e já vem a ventania de críticas, antes mesmo de se entender a ideia. O caso mais recente é a proposta do vereador Bosco Foz: criar um espaço para quem gosta de empinar motos e bicicletas. Quem nunca se deparou com esses malabarismos no meio do trânsito? O risco de acidente é óbvio, e a proposta, simples: tirar os praticantes das ruas e oferecer um local seguro para essa prática. Faz sentido. Quando surgiram pistas de skate, caiu bastante o número de acidentes com garotos tentando manobras em avenidas. Skates, motos, bikes… todas já são modalidades esportivas e até olímpicas. Em vez de torcer o nariz, vale reconhecer que a iniciativa busca organizar o que já existe nas ruas, reduzindo riscos e transformando problema em oportunidade.

 

E a política, hein?

O ambiente eleitoral anda estranho, como se houvesse uma bolha de silêncio à espera do desfecho do chamado “Julgamento do Século”. Só depois desse capítulo é que o jogo deve começar de verdade. No tabuleiro nacional, Lula tenta remendar desgastes internos e, ao mesmo tempo, mostrar força nas relações externas. Do outro lado, Tarcísio de Freitas, até então visto como um candidato moderado ao centro, resolveu queimar a largada: antecipou que, se eleito, concederia indulto a Bolsonaro. A fala, paralela ao julgamento, embaralhou apoios e até deixou analistas confusos. Para muitos, Tarcísio teria mais a ganhar se esperasse o “frigir da omelete”. Ao colocar o ovo antes da frigideira, corre o risco de sair do cardápio antes mesmo da campanha começar.

 

E no Paraná?

Como diria certa personagem de novela: “mistééééééérioooo…”. No tabuleiro estadual, Sérgio Moro segue firme no topo das pesquisas, enquanto Ratinho Júnior mede o terreno nacional com olhos de presidenciável. Nesse cenário, está na cara que começam a testar nomes para a sucessão. Alexandre Curi ainda não conseguiu mostrar carisma em todas as regiões e pode penar para se consolidar. Isso está no levantamento da Paraná Pesquisas, onde continuam aparecendo Requião Filho e Paulo Martins, peças conhecidas do jogo. E quanto a Rafael Greca? Nada, silêncio absoluto. Talvez seja carta escondida na manga… ou um coelhão guardado na cartola, pronto para saltar quando menos se espera.

 

Para inglês ver

Se isso for estratégia, o articulador merece aplauso: Greca reclama, posa de abandonado, faz o bebê chorão… mas pode estar armando o pulo do gato. Quando seu nome surgir de fato entre os pré-candidatos, a ameaça recairá direto sobre Moro. Difícil imaginar o núcleo duro do governo abraçando Greca, mas é inegável que seu carisma atravessa o Paraná de ponta a ponta — é o rosto mais conhecido em qualquer levantamento. Já Ratinho, esse prefere o jogo do tempo: se Tarcísio arriscar o Planalto, a aposta é que ele escolha a poltrona confortável do Senado. Até lá, melhor segurar o fôlego e assistir aos ensaios.

 

E a região?

Foz do Iguaçu, em época pré-eleitoral, parece cenário de filme de ficção científica: em vez de paraquedistas, desembarcam astronautas de todos os cantos, saltitando como se aqui não houvesse gravidade. Hotéis lotam, agendas se atropelam e candidatos com mandato batem ponto para exibir emendas e convênios, lembrando o que “trouxeram” para a cidade. O risco é a pulverização do voto: uma multidão de aventureiros beliscando apoio local e, no final, levando a força política embora. A diferença está nos que cravaram raízes. Vermelho pai e filho, assim como Fernando Giacobo, ainda dominam o terreno porque fincaram os pés em Foz e sabem onde colher votos no Oeste e Sudoeste. O deputado federal Vermelho até ampliou as fronteiras. A novidade é que, comparado a pleitos anteriores, o cardápio de postulantes está menor — talvez um sinal de que o eleitor começa a distinguir quem está de passagem e quem realmente trabalha com a cara e o endereço na cidade.

 

Deu a pista

O empresário Deoclécio Duarte, em entrevista ao programa Contraponto, tocou num ponto vital que Foz insiste em negligenciar: a união em torno de ampliar suas bancadas estadual e federal. É um cálculo elementar — basta somar os milhares de votos desperdiçados em candidatos de fora, muitos deles sem chance sequer de suplência. Esse desperdício é o que impede a cidade de ter mais cadeiras, mais voz e mais peso político. Outras cidades do Paraná já aprenderam a lição e se blindam contra “estrangeiros eleitorais”. Foz, não. Aqui, o bairrismo ainda é tímido, como se apoiar candidatos locais fosse pecado. Está na hora de virar o jogo: menos dispersão, mais foco, mais consciência de que cada voto que sai da cidade é influência que também se perde na hora de negociar recursos e decisões.

 

Representatividade faz diferença

 

Quatro décadas vivendo em Foz do Iguaçu me permitem dizer sem rodeios: faz muita diferença ter representantes eleitos pela cidade. Desde os tempos do constituinte Sérgio Spada, passando por Dilto Vitorassi e, por breve período, Cláudio Rorato, convivemos com a sina de “emprestar deputados” de outras regiões, quase sempre pedindo favores a estranhos. Esse quadro começou a mudar recentemente. O deputado federal Vermelho, em especial, mostrou na prática o peso de ter um gabinete em Brasília de portas abertas para Foz, sem barreiras partidárias e com atenção constante às demandas locais. O reconhecimento não vem só da política, mas dos setores produtivos que sentem os efeitos desse trabalho. A lição é clara: ampliar nossa representatividade não é luxo, é necessidade. Cabe ao eleitor iguaçuense entender que voto local não é bairrismo, é investimento no futuro da própria cidade.

 

O que virá?

É natural que outros nomes apareçam, afinal, democracia é esse exercício permanente de debate. O que importa é ouvir com calma, distinguir promessas de propaganda e entender que legislar, assim como governar, não é mágica, é engenharia política. Quem já está no batente sabe a dificuldade de transformar projetos em frutos concretos, enquanto os períodos eleitorais costumam misturar realismo com pura conversa mole. Cabe a nós, cidadãos, separar o joio do trigo e cobrar coerência de quem se apresenta. E com esse espírito de atenção e serenidade, vamos encerrando a semana. Que a sexta-feira seja leve e prepare o terreno para um fim de semana tranquilo, com direito a reflexão, bom papo e o merecido descanso. Estaremos atentos. Boa sexta-feira a todos!