Os amigos se despedem de Genésio Padilha, empresário e dono de restaurante.
Com muito conhecimento na arte de cozinhar, pela simplicidade e bom atendimento, ele fez de suas casas gastronômicas referências da boa mesa em Foz. Leia o artido de Rogério Bonato.
Quando se tem tantos amigos, o senso de companheirismo acaba banalizado, é triste, mas é verdade. A atenção é dispensada a um, outro, e mais outro, depois outros, e sempre haverá alguém que não compreenda e acabe ficando chateado, pensando que foi deixado de lado, ou por algum motivo esquecido, mesmo que isso não seja absolutamente a verdade. Uma pessoa conseguiu vencer essa dificuldade, abraçando a todos, independentemente a distância, crise, ou qualquer outro fenômeno capaz de se perder de vista um amigo: Genésio Padilha confortou muito mais do que foi confortado. A conversa correu para esse lado na última vez que o encontrei. “Você é um dos meus amigos abatidos pela pandemia, e eu entendo bem como é a situação, e por isso te liguei várias vezes e conversamos um pouco sobre todas as coisas”, disse com ares de tristeza. Não errou no diagnóstico.
Genésio além de um baita cara, foi um empreendedor formidável na área da gastronomia. Sofreu todas as dores necessárias e as desnecessárias também, crescendo, caindo e se levantando de novo, e, além do mais, com os efeitos do tipo sanfona econômica, e o pior de todos os pesadelos, a pandemia de Covid 19.
Ele gostava de cozinhar e foi assim que cultivou amigos e seguidores, abrindo os restaurantes; segurando o povo pela barriga, por meio do bom papo e atendimento impecável, que ele mesmo fazia. Qual iguaçuense não frequentou pelo menos uma vez o lendário Trapiche, ou outra cozinha comandada pelo Genésio?
Antes de escrever sobre a vida e os solavancos enfrentados pelo amigo, é preciso lembrar que ele foi um “inventor de pratos”, um inovador, especialmente quando o assunto era peixe e frutos do mar. Em seu último empreendimento o restaurante Terra Mar, ele apresentou o rodízio de Picanha Marítima e Camarão no Espeto, além de outras especiarias, como o soberbo Rodízio de Bacalhau, de fazer fotos para recordar. Toda a vez que o movimento por algum motivo caía, o amigo ligava informando uma promoção ou invenção, o que lhe garantia a sobrevivência em ramo que é às vezes muito ingrato.
A vida pessoal açoitou o Genésio, primeiro com o acidente sofrido pelo filho Marcos, um menino genial e que se viu limitado em cadeira de rodas, e, mesmo assim, jamais, em tempo algum, deixou de ajudar ao pai. Um pouco depois morreu o mais velho, o Rhodes, algo dramático! Para Genésio, foi devastador, mas ele seguiu em frente, apoiado pela esposa Antonia e o caçula Pedro Henrique.
Então, na última conversa, o Genésio relatou o que fez para manter vivo o seu restaurante Terra Mar, depois da terra arrasada pela covid, sobretudo em cidade turística. Para ele, o problema do sumiço de vários amigos, não era apenas o “bolso” e sim algo bem mais complicado, a cabeça. E foi aí que adotou a iniciativa de ligar para as pessoas, e, durante as conversas, mal lembrava o restaurante, a não ser que alguém mencionasse. Foi por meio de um trabalho assim, de relacionamento, que encontrou as soluções de superar mais um paredão. Só não venceu o mais recente, o derradeiro, um câncer de pulmão. Segundo informações, Genésio descobriu a doença muito tarde e entre assimilar a gravidade e iniciar o tratamento, não resistiu. Faleceu em apenas sete dias, na última segunda feira e foi sepultado no dia seguinte (terça, 21). A notícia abalou os conhecidos e o segmento gastronômico da cidade. O homem que não esqueceu os amigos em tempo algum, sempre será por eles lembrado, com carinho e saudade. Nos resta entristecer, mas apoiar a Antonia, o Pedro e o Marcos, esperando que superem a falta que o Genésio fará.
Rogério Romano Bonato