Todo turista é um embaixador da Paz, lema mundial do IIPT
– Por Jackson Lima –
Em 2019, o Parque Nacional do Iguaçu, leia-se Cataratas do Iguaçu, recebeu 5.555 visitantes russos. No mesmo período, 1.035 ucranianos viram as Cataratas do Iguaçu com os seus próprios olhos. Tudo ia muito bem. Daí, o mundo celebrou o Réveillon 2019 para receber 2020. Antes do quinto dia do novo ano, um míssil disparado por equipe americana matou o chefe das forças militares do Irã que visitava o Iraque.
Quatro dias depois, o Irã, por engano, disparou um míssel contra uma ameaça que decolava do Aeroporto Internacional de Teerã. Não era ameaça. Era o voo 752 da Linha Aérea Internacional Ucraniana que decolou na certeza de estar voando para Kyiv (Kiev).
Todos os 176 passageiros ucranianos e outras nacionalidades mais a tripulação morreram. Quem absorveu esse prejuízo em vidas e dinheiro?
Parecia um sinal. O ano novo começou dando sinais de não ser muito próspero como todos pediram na virada.
Antes do final do mês, entrou em ação o virus do clã Corona que ganhou o nome de SARS Cov19. O mundo nunca mais foi o mesmo.
Mas por incrível que pareça e mesmo com todas as adversidades e com o sumiço de muitas nacionalidades em solo iguaçuense, os russos e os ucranianos marcaram presença e pagaram ingressos no Centro de Visitantes para ver as Cataratas. Foram 2.571 visitantes da Federação Russa e 521 da Ucrânia.
O peso da mão do virus foi sentido em 2021. Os números caíram. Números da Concessionária mostram que 927 russos visitaram as Cataratas. O número de ucranianos caiu para 194 visitantes.
No final de 2021, o mundo inteiro celebrou o réveillon para receber 2022 cheio de ânimo e muitos planos especialmente de viagens. Entre 1º de janeiro e 10 de março, 562 russos e 134 ucranianos vieram a Foz do Iguaçu, foram ao parque das Aves, Itaipu, Marcos das Três Fronteiras. Pelo menos uma russa fez uma postagem no Instagram direto de uma esquina da Vila Portes. O que uma russa faz na Vila Portes? O ano prometia.
Mas daí veio a guerra. O governo Russo, não o povo russo, atacou a Ucrânia. E desde então o número de ucranianos e russos em Foz do Iguaçu zerou. A Ucrânia por causa dos bombardeios e fuga em massa de refugiados. A Rússia porque os céus do mundo fecharam para ela e ela retaliou.
Pandemia e guerra
Pandemia como a do Covid é horrível para o turismo o que ainda se pode chamar de “a maior industria do mundo”. Mas a guerra é pior porque igual a pandemia vai aos poucos contaminando o mundo.
Tendo lamentado a guerra está é uma boa oportunidade para dar visibilidade a um grupo internacional de sonhadores do turismo pela paz. Chama-se Instituto Internacional do Turismo pela Paz (IIPT-International for Peace through Tourism), fundado nos anos 1980 pelo canadense Louis D’Amore.
Em comunicado em que o IIPT pede o cessar-fogo imediato na Ucrânia e apoio para organismos como a ONU e a Organização Mundial do Turismo reforça a mensagem de que o turismo precisa de paz.
Desde sua fundação o IIPT realizou conferências internacionais de onde tirou material para propor e emplacar várias ideias em órgãos internacionais relativas à paz.
Criou também um código de ética que compromete o turismo com a paz tanto para o empresariado do turismo internacional como para os turistas e viajantes. Este último foi batizado como “Credo do Viajante pela Paz. Pacífico” espalhando também a ideia de que “Cada Viajante é um Embaixador ou Embaixadora da Paz”.
Por isso, o turismo sem dúvida agradece aos 1.884 ucranianos que entre 2019 e 2022 trouxeram as suas presenças à Terra das Cataratas. Que enquanto estiveram aqui tenham sido recebidos como os embaixadores da paz que atualmente está em risco.
Igualmente, agradeçamos a visita dos 9.607 russos no mesmo período e que o turismo de Foz do Iguaçu se empenhe em uma campanha de normalização da vida com o fim da guerra e que dela saia o entendimento de que além da Rússia e Ucrânia os outros atores que também necessitam rever suas posições e reavaliar quais são os valores reais da humanidade.
Finalmente quando o turismo voltar ao seu vigor total, que nenhum “passageiro” seja só um número e estatística. Sejamos, anfitriões ou visitantes embaixadores da Paz.
A pandemia dá sinais de estar finalmente cedendo e a guerra não poderá continuar para sempre. Enquanto isso não acontece continuemos recebendo as nacionalidades que recebemos, inclusive os brasileiros, respeitando cada turista e o turismo como um grande milagre nesse mundo tão impermanente.
CURIOSIDADE
Credo do Viajante pela Paz
Grato pela oportunidade de viajar e conhecer o mundo e já que a Paz começa com o indivíduo, afirmo minha responsabilidade e compromisso em:
-Viajar com uma mente aberta e um coração gentil
-Aceitar com graça e gratidão a diversidade que encontro
-Reverenciar e proteger o ambiente natural que sustenta toda a vida
-Apreciar todas as culturas que descubro
-Respeitar e agradecer aos meus anfitriões por suas boas-vindas
-Oferecer minha mão em amizade a todos que encontrar
-Apoiar os serviços de viagens (e turismo) que compartilhem esses pontos de vista e agir de acordo com eles
e, pelo meu espírito, palavras e ações,
-Incentivar outros a viajarem pelo mundo nesse espírito de Paz
Texto do credo proposto por Cynthia Fontayne
Aprovado na 1ª Conferência Internacional da Paz pelo Turismo, 1988 realizada em Vancouver, BC, Canadá