O túnel do tempo e um papo na tarde de domingo
Choveu, choveu, choveu. Despencaram raios, trovoadas, ventanias que arrancaram fios e fizeram as telhas voarem como papel. Há galhos e folhas por todos os lados. A casa antiga encheu-se de baldes, compondo uma verdadeira sinfonia das goteiras. Mas amanheceu o domingo. Raios de luz espalharam-se pelas árvores, verdejando o jardim, clareando a água dos laguinhos. As tartarugas secaram o casco, os peixinhos saltitaram de alegria — e assim também os cães, os pássaros, até os gatos. Enfim, acabou-se o tédio de tantos dias empardecidos.
A vida é assim: há dias de chuva e dias de sol. Há quem compare isso ao ruim e ao bom — bobagem. A vida é bela de qualquer maneira. Gosto da chuva com a mesma intensidade do tempo firme, do tal céu de brigadeiro. Ajusto a rotina conforme o clima: chuva é boa para escrever, pensar, descansar, dormir, sonhar; sol é bom para caminhar, contemplar, espairecer, despertar — e para tantas outras coisas que se encaixam entre um e outro.
No sábado de ventania, entre as quedas de energia, revisava a caixa de e-mails. Uma mensagem chamou atenção: “Por onde anda que não responde mais o WhatsApp, não publicou a coluna? Por acaso iniciou o tão sonhado período sabático? Sumiste, meu caro?”
Respondo: o celular saltou do criado-mudo direto ao chão e está na fila do reparo. E não, não iniciei o tal sabático. Usei a última semana para organizar tarefas, estudar um pouco os novos horizontes. Descobri muita coisa — e como tudo nasce e morre rápido no mundo das novidades. Impressionante. Se até deuses e deusas desaparecem na breve jornada humana, o que dizer das traquitanas triviais, engolidas pela força tecnológica?
Fazendo um cálculo baseado no meu tempo de vida: quando nasci, em 1958, rádios e jornais eram as fontes de informação e entretenimento. A televisão só se consolidou no fim dos anos 1970. Linhas telefônicas custavam uma fortuna, e engenhocas como teletipo, radiofoto, telex, fax, máquina de escrever e gravador de voz viraram peças de museu. E é para lá que irão as impressoras, as câmeras, os cenários e talvez até os apresentadores.
Acreditávamos que blogs, portais, podcasts e redes sociais seriam as novas formas de comunicação. Perecem também. Para onde vamos, não sei. Mas creio que ainda estaremos por trás da Inteligência Artificial por um bom tempo — porque, se não a questionarmos, será apenas inerte. E o futuro… bom, sobre ele, já não arrisco prever.
O que ando inventando ainda é surpresa. Mas garanto: não faço nada sozinho. Juntei-me a outros — formamos equipe. Jamais desprezei o valor da arte coletiva, do convívio entre informação e lazer. Aos amigos, deixo o aviso: são boas iniciativas, de fôlego, porque nascem com planejamento e propósito.
Enquanto isso, sigamos curtindo o restinho deste domingo e nos preparando para mais uma segunda-feira. Afinal, a vida é mesmo feita de trovoadas e amanheceres.
Rogério Bonato escreve com exclusividade para o Almanaque Futuro