O mundo e a misoginia política: uma covardia!
Em sua coluna Rogério Bonato pesquisa a presença da mulher no setor público e faz um balanço de como está no alvo da difamação, injúria e calúnia.
Um mês depois
Março foi intenso em favor da “mulher”, com muitas campanhas, movimentos e manifestações em todos os níveis; alguns dias depois, eis que a prática do apedrejamento normaliza. Barbaridade! O mundo é misógino. Uma recente pesquisa no Reino Unido aponta a complexidade: o preconceito ou aversão às mulheres, historicamente associado aos homens, é também altamente praticado pelo gênero feminino como condicionamento social e cultural. Mas a questão não é “quem pratica mais” a misoginia e sim como podemos trabalhar para identificar e combater os pensamentos e comportamentos misóginos. Um mês, que seja, está longe de ser suficiente.
As mulheres no exercício público
De acordo com algumas pesquisas, foi possível apurar que apenas 11% dos países contam com uma mulher na função de chefe de estado. Ou seja, de 151 países que não são dirigidos por monarquias, apenas 17 possuem mulheres no comando. As mulheres na política e em cargos públicos são os maiores alvos misóginos. E como é no Brasil?
Mulheres em Foz
No sábado pela manhã várias informações preencheram as redes sociais indicando nomes para a Secretaria da Mulher. Uns diziam que a pretendida era a Karla Galende, ex-prefeita de Santa Terezinha de Itaipu, outros afirmavam que a vaga já havia sido preenchida por ninguém menos que a ex-deputada estadual e ex-primeira-dama Cláudia Pereira. Nas discussões todos procuravam resposta para a derradeira pergunta: o que seria pior? Cláudia Pereira arrastar o asco governamental do maridão na proposta do General Silva e Luna, ou trazerem alguém de outra cidade para deliberar o destino das mulheres iguaçuenses? Não demorou para alguém dizer: “não será uma e muito menos a outra”. A fonte palaciana ficará um tempo no anonimato. Mas não foram poucos os pedidos para a escolha de um homem para o exercício da função. Esse mundão “véio” está virado.
Cota equilibrada
O General Silva e Luna preencheu muitos cargos de primeiro e segundo escalões com mulheres e elevou concursadas em posições estratégicas. Cinco secretarias são ocupadas por “elas”. Dizem que há outras três profissionais de primeira grandeza prontas para assumir secretarias, em caso de reforma. Vamos então passar um olhar no assunto pela Brasil.
No Paraná
Apesar de as mulheres serem maioria na administração pública estadual, o governo de Ratinho Júnior as prestigiou pouco no primeiro escalão. Atualmente são 62.702 servidoras atuando nas secretarias de Estado e autarquias, o que representa 60% do total. O maior quadro de servidoras está na Educação, com 68% e a presença feminina é significativa na Saúde e na Polícia Militar. Já, no primeiro escalão, Leandre Dal Ponte chefia a Secretaria da Mulher e Igualdade Racial; o cargo era ocupado por um homem. Luciana Casagrande Pereira é a secretária da Cultura e Leticia Ferreira da Silva é a procuradora-geral do Estado. A Secretaria da Mulher era ocupada por um homem
Mulheres em Brasília
A participação feminina é de 45% do funcionalismo público federal era ocupado por mulheres. Cerca de 42% dos cargos e funções de direção e assessoramento da Administração Pública Federal são ocupados por mulheres. Em cargos de direção e assessoramento de nível 13 a 17, o aumento da participação feminina foi de 26%. A musiquinha que embala a dança das cadeiras ganhou um bom volume no Planalto, sobretudo após a demissão de Juscelino Filho. Uma paranaense, ex-vereadora de Londrina e ex-ministra do Desenvolvimento Social chama a atenção; Márcia Lopes, teria aceito um convite para voltar ao governo no Ministério das Mulheres, atualmente ocupado por Cida Gonçalves. O dedinho da ministra Gleisi Hoffmann fez parte das articulações. O 1º escalão do governo Lula conta com 11 mulheres, mas não isso não chega nem na metade das pastas, que são ocupadas por 26 homens.
Mulheres em Itaipu
A Binacional voltou ao centro do tabuleiro — não pelos méritos reconhecidos da sua operação, mas pelo cerco político e midiático que se formou ao seu redor. Até pedido de CPI já circula nos corredores de Brasília. Nada contra a fiscalização: é da democracia. Mas o tom e a frequência dos ataques revelam algo mais profundo — e mais covarde. Por trás da verborragia técnica, esconde-se um incômodo mal disfarçado com o protagonismo feminino na gestão da usina. A motivação, em muitos casos, não é contábil. É ideológica, enviesada — e, sobretudo, misógina. Quando mulheres ocupam espaços de poder com competência, sempre há quem tente desmerecer.
Misoginia Prêt-à-porter
A onda de ataques à Itaipu Binacional e seus dirigentes, que caracteriza uma espécie de “bullying”, tem um claro componente e é misógino, sim, embora não explicitado, mas que não pode ser descontado. Explico: até as pedras de basalto do Rio Paraná sabem que a Primeira Dama Janja Lula da Silva trabalhou na Itaipu, na Coordenação de Responsabilidade Social, por 16 longos anos, entre 2003 e 2019. Socióloga de formação, ela participou ativamente dos principais programas e ações socioambientais na área de influência da usina.
Poder feminino contestado
Outro nome ligado à Itaipu Binacional é o da ex-presidente nacional do PT e atual ministra da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, a paranaense Gleisi Helena Hoffmann. Sim, ela foi Diretora-Executiva Financeira da Itaipu Binacional de 2003 a 2006, quando se desincompatibilizou do cargo para ser candidata ao Senado Federal. Gleisi foi a primeira mulher a ocupar o estratégico cargo de DF, que controla o caixa da empresa. Foi sucedida por outra mulher, Margareth Groff, que permaneceu no cargo até o término da gestão de Jorge Samek.
Ataques oblíquos
A saraivada de mísseis retóricos disparados pela oposição contra Itaipu Binacional tem alvos claros: as duas mulheres mais poderosas da República. Sim, estou afirmando sem rodeios que a intenção dos perpetradores é atingir a Primeira Dama Janja Lula da Silva e a ministra Gleisi Hoffmann, que assumiu a articulação política do governo no mês passado para colocar a casa em ordem. É por isso que atribuo motivação misógina a muitos dos ataques contra a atual diretoria da Itaipu. Mulheres poderosas incomodam muita gente mesquinha.
Quem manda
Os detratores propagam que o atual Diretor-Geral da Itaipu, Enio Verri, é um mero executor de ordens da Primeira Dama e da ministra Gleisi, madrinha de sua indicação para o cargo. Ignoram os ignaros de que Enio Verri é economista de formação, professor universitário e detentor de uma carreira política reluzente: foi secretário de Planejamento do Paraná no Governo Requião, exerceu dois mandatos como deputado estadual e dois como deputado federal, tendo sido líder de bancada do PT na Câmara. Abriu mão do terceiro mandato como deputado federal, para o qual havia sido eleito com mais de 90 mil votos, ao assumir como Diretor-Geral de Itaipu. O que não lhe faltam são predicados para o cargo. Pode até ser que Enio seja mandado por mulheres, mas são as empoderadas de Itaipu, não as de fora.
Bom conselho
Diz o ditado que, se conselho fosse bom, não seria de graça. Mas há um conselho muito cobiçado: o Conselho Administrativo da Itaipu Binacional, integrado por 12 membros, sendo seis indicados pelos respectivos governos do Brasil e do Paraguai. Na composição atual, duas mulheres têm assento na bancada brasileira: a mineira Gleide Andrade de Oliveira, tesoureira nacional do PT, e a carioca Esther Dweck, ministra de Gestão e Inovação em Serviços Públicos. Com a indicação de duas mulheres para o CA, o governo Lula compensou a ausência de mulheres na atual diretoria. Desde 2003, é a primeira vez que a diretoria voltou a ser um clube exclusivamente masculino. Mas engana-se quem pensa que as mulheres perderam espaço na gestão de Enio Verri. Muito pelo contrário: nunca mandaram tanto na Itaipu.
Confraria das poderosas
A presença de mulheres em postos-chave no organograma de Itaipu é uma das marcas da atual gestão. Comecemos pela equipe montada pelo Diretor-Geral Brasileiro Enio Verri, que inclui duas mulheres como suas assistentes diretas: a funcionária de carreira Silvana Vitorassi e a advogada e professora universitária Gisele Ricobom. O Diretor de Coordenação, Carlos Carboni, tem como assistente Leila Alberton. À frente do Escritório de Itaipu em Brasília está Lígia Leite. O quarteto se intitula a Confraria das Poderosas. Não é exagero. Dizem as más línguas que os dirigentes da empresa dançam conforme a música que elas tocam. Tanto poder concentrado em suas mãos gera atrito com algumas áreas técnicas, que só fazem os projetos avançar quando a ordem vem de cima.
Ouvidoria
Outro cargo estratégico ocupado por uma mulher é a Ouvidoria de Itaipu, comandada com pulso firme pela advogada Cristina Maranhão, que, embora jovem, é a decana da Diretoria Jurídica da Margem Esquerda. Com quase três décadas de empresa, ela é a principal conselheira do diretor jurídico Luiz Fernando Ferreira Delazari. Pela sua senioridade e reputação, Cristina Maranhão granjeou o respeito de seus colegas e tem grande ascendência sobre temas delicados que chegam à Ouvidoria, como casos de assédio moral. Sua liderança ajudou a criar um ambiente interno de confiança na independência do órgão.
Nova Marca
Um bom hospital alivia dores e sofrimentos. Só não cura dor de cotovelo. O reputado Hospital ITAMED, que tem como mantenedora a Itaipu Binacional, não trocou só de nome na atual gestão. Também empoderou mulheres, o que causa ciúmes e dor de cotovelo. A empregada de carreira Teresa Raquel Angheben é a presidente do Conselho Curador da instituição desde 2023. Tem voz ativa nas mudanças que a atual gestão vem implementando, ampliando o atendimento pelo SUS. Não por acaso, aparece ranqueado entre os melhores hospitais do Brasil. As mulheres poderosas de Itaipu incomodam muita gente, mas os resultados estão aí para comprovar a diferença que elas fazem em prol da empresa e da comunidade.
Influência e futuro
O protagonismo das mulheres também se faz notar em áreas estratégicas da Binacional, como a Comunicação Social, sob o comando da superintendente Ana Paula Helder. Já Aline Teigão, figura de reconhecida atuação pública, tem trajetória que ultrapassa os muros da empresa. Ex-presidente da Fundação Cultural de Foz do Iguaçu, ela teve papel decisivo na fase inicial de implantação da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila). Desde que ingressou no quadro da Itaipu, Aline contribuiu com destaque nas áreas de comunicação e turismo — setores nos quais sua visão territorial e sensibilidade cultural deixaram marca. Recentemente, participou ativamente da entrega do Mercado Público Barrageiro. Filha de barrageiro e iguaçuense de raiz, Aline hoje integra o Conselho Curador do Parquetec. É reconhecimento merecido a quem faz a ponte entre passado, presente e futuro.
Rogério Romano Bonato escreve regularmente para o Almanaque Futuro.