O Dia dos Pais e a saudade incontida

Uma crônica de Rogério Romano Bonato

Para muitos é só mais um domingo, com frio e a expectativa de um dia comum, esperando os filhos para rodearem a mesa e falarem das coisas normais. Há quem não ligue para datas assim, no entanto, em algum lugar, esbarrará nas lembranças, porque extraordinariamente a mensagem “Feliz Dia” não poderá ser levada adiante, transpassando o carinho que há nas gerações, as que se tornaram apenas lembranças, convertidas agora em saudade.

E dá um dor de não ter convivido mais, conversado mais, visitado mais e, tudo o mais, com o pai que se foi. Invariavelmente, sempre nos sentiremos tristes, impotentes e inferiores porque além de honrada, a figura paterna é assim imponente e a queremos desta maneira.

Um amigo, certa ocasião disse: “fiz de tudo para que os meus filhos fossem pelo menos 20% melhores que eu”. É de se pensar nisso, pois matematicamente é a garantia da evolução humana. Em meu caso torço e a cada dia me certifico que os meus filhos são 100% melhores que eu. Mas que não consegui ser nem 1% melhor que o meu bom e saudoso pai.

E, assim, há um outro sentido no “Dia dos Pais”, e que nos estabiliza, até se o Fábio Júnior aparecer cantando em algum canal de TV: sim, os papéis se invertem e honramos os filhos, porque é quando nos orgulhamos deles e, pensamos que um dia se tornarão pais e por isso, seremos mais uma vez lembrados.

É bom se saber filho e pai, quiçá um dia avô. Mais uma vez calculando, não serei bisavô e jamais um tataravô, pelo menos vivo. Mas o meu consolo é outro, em reverenciar a vida em toda a sua plenitude e agradecer aos que garantiram a minha existência. Vivo, por um golpe de sorte e do destino. Vou compartilhar isso:

Meu bisavô paterno não existiu ou nunca se soube quem foi. Romano, seu filho, foi adotado por outro homem e ao que se sabe não foi bem tratado, sempre enjeitado e morando nas ruas de várias cidades no Norte da Itália. Aos 16 anos alistou-se para combater na Primeira Guerra Mundial, como “Arditi”, um tipo de soldado audaz, quase sem chances de sobrevivência. E sobreviveu, pouco, morreu aos 38 anos, portanto duas décadas antes de eu nascer. Meu pai ficou órfão com apenas sete anos de idade. Sofreu e muito em razão do nome que lhe foi orgulhosamente concedido, “Benito”, em pelo início de Segunda Guerra Mundial! Apesar das privações, da humilhação, dos rancores, acabou vencendo e se superando, chegando aos 79 anos; conheceu os netos e foi um home feliz. Graças a persistência dessas pessoas existo. Os louvo a cada segundo.

Cada um deve ter uma bela história para contar sobre os pais, avós, e seria tão bom se escrevessem isso, sutilmente deixando um pequeno recado para os que virão, sobre a imensa responsabilidade de terem simplesmente vivido. Logo, vou desejar esse “Feliz Dia dos Pais” a todos os amigos. E, aos que não se atentaram no poder paterno, um simples, mas bom domingo!