Messias entra em cena e Câmara vira sarapatel azedo de um cão doido
Por João Zisman
A Câmara dos Deputados conseguiu, mais uma vez, transformar uma semana comum em espetáculo de decadência política. O país assistiu a um sarapatel de cachorro doido daqueles que só Brasília sabe cozinhar. E, para completar o perfume do prato, há um ingrediente esquecido no fundo da panela que ameaça azedar tudo: a sabatina de Messias.
Sim, Messias. Não o da Bíblia. O outro. O que está indicado para o STF e que, ironicamente, virou o maior fator de instabilidade institucional do momento.
A sabatina não acontece. Não se sabe se vai acontecer. Não se sabe quando acontecerá. E essa incerteza deixa todo mundo desconfortável. Messias virou a figura perfeita para simbolizar o impasse do Congresso: alguém que já está no tabuleiro sem nunca ter entrado oficialmente no jogo.
A ponta da corda
No meio disso, Hugo Motta fez o que ninguém esperava. Colocou em votação a mudança na dosimetria dos condenados do 8 de janeiro. Não foi altruísmo. Não foi sensibilidade social. Foi afronta.
Afronta ao governo Lula, que transformou punição em política de Estado. Afronta aos líderes governistas, que perderam o controle do plenário. E afronta à própria lógica, já que a decisão virou munição para todos os lados, menos para o Planalto.
Alcolumbre, que controla a sabatina, viu o gesto como uma provocação indireta. E guardou. Ele guarda tudo.
A queda de braço está clara. Motta quer mostrar que tem caneta. Alcolumbre quer mostrar que, se quiser, congela Messias até o fim da eternidade.
Enquanto isso, Lula tenta reorganizar seus líderes, mas eles já se tornaram coadjuvantes num teatro que não lhes pertence.
Glauber, Zambelli, Ramagem e Eduardo Bolsonaro são sobreviventes de si mesmos.
A Câmara precisou tomar decisões sobre deputados que, em qualquer país minimamente sério, já estariam fora do Parlamento.
Glauber fez espetáculo, invadiu a mesa, afrontou a Presidência.
Zambelli está condenada há mais de dez anos de prisão e carrega no currículo um combo de crimes que dispensaria debates.
Ramagem e Eduardo Bolsonaro também assistem seus processos avançarem como quem acompanha a previsão do tempo: sabem que a tempestade é certa, só não sabem o horário.
Mas todos continuam lá. Todos.
Porque o Congresso descobriu a fórmula perfeita para se autopreservar: punir de leve, adiar o inevitável e calibrar cada gesto conforme a conveniência do momento.
E no centro do caos… Messias
É aqui que o quadro se completa. A sabatina de Messias é a peça que explica a instabilidade.
Não importa o resto. Não importa Glauber. Não importa Zambelli. Não importa a dosimetria.
Tudo isso serve como moeda de pressão para um jogo maior: o de decidir quando — e se — o Messias indicado por Lula vai sentar na cadeira mais sensível da República.
Alcolumbre segura a pauta. Motta tensiona o governo. A direita observa. A esquerda implora. E o governo finge que está tudo sob controle.
Messias virou o símbolo da paralisia. Um fantasma sentado no Senado, sem sabatina, sem confirmação, sem rejeição, mas produzindo mais instabilidade que qualquer deputado barulhento.
O gosto final
E assim termina mais uma semana. Com Glauber suspenso, mas vivo. Com Zambelli preservada, mas condenada. Com Motta enfurecido, porém fortalecido. Com Alcolumbre silencioso, porém mandando mais que todo mundo. E com o governo, de novo, tentando entender como perdeu o volante da política doméstica.
No fundo, o sarapatel de cachorro doido está aí. O ingrediente secreto é simples. Brasília não funciona por regras. Funciona por ameaças. E a maior ameaça hoje atende pelo nome de Messias.
