Mais uma simples crônica de Natal

Por Rogério Romano Bonato

Celebro o nascimento de Jesus há 67 anos; ele é, portanto, 1.958 anos mais velho que eu. E veja: nasci no ano de 1958, um período em que tudo deu certo no Brasil. Escreveram até um livro sobre isso. Essa exatidão numérica não pode ser considerada uma coincidência; é puramente matemática. Mas não foi por isso que fui ao teclado no dia 25 de dezembro, Natal, e sim pelas nuances da vasta comemoração.

Segundo uma rápida consulta, o Natal ocorre por uma única razão; o rito, porém, possui inúmeras interpretações, que vão do Papai Noel às renas, passando pela Lapônia e chegando, por fim, às árvores enfeitadas. Segundo antropólogos, historiadores e sociólogos, os significados são tantos que nos permitem agregar contribuições. Em minha opinião, as árvores de Natal simbolizam o agradecimento por cada coisa boa ao longo do ano e a lembrança daquilo que não deu certo, ora convertido em ensinamento.

Eu faria algumas perguntas: qual a razão de soltarem tantos rojões, estourarem bombas e atirarem com armas de fogo para o alto, por exemplo? Rojões e fogos de artifício, apesar de proibidos em Foz do Iguaçu, minha cidade, ferem o ouvido dos animais e irritam as pessoas, mas não são tão nocivos quanto o chumbo que sobe e depois desce, causando o efeito da chamada “bala perdida”, que fura telhados e acerta inocentes. Penso que a ignorância de um local pode ser medida pelos estrondos na noite natalina. Haja ignorância.

Vou deixar de ser chato e lembrar o que minhas avós ensinaram: Natal não é ocasião de silêncio, mas de respeito, introspecção e meditação. De entender a razão de alguém vir ao mundo e, apenas 33 anos depois, causar a sensação do renascimento. Como uma coisa e outra são celebradas no espaço de alguns meses, muita gente ainda não compreendeu. O nascimento de Jesus é a alvorada, e a Páscoa, um sono quase eterno, repleto de maravilhosos presságios que os homens ainda não alcançaram. Isso ainda vai demorar. Tomara que isso mude.

Mas, enfim, lembro os doces natais ao lado dos que se foram, a mesa cheia de frutas, castanhas e um pouco de tudo que só se provava uma vez ao ano. Um tempo de abraços, presentes e até uma ou outra encrenca em razão do presente mais bonito para uns e outros. Por isso, jamais esqueço meu primeiro presente: um carrinho de bombeiros feito por meu pai, com peças de encaixar, em madeira cuidadosamente pintada. Ele não tinha dinheiro para comprar presentes caros. Aí está o simbolismo da humildade e da verdade, presente nas lições que jamais esquecerei e, por isso, tento a todo custo ser um homem correto e ordeiro, empenhando-me em ampliar a amizade, porque é simples assim o sentido da vida.

Que o Natal aconteça todos os dias! É o que desejo a todos!