Mais um retrato na longa parede que se chama saudade

*Por Rogério Romano Bonato – 

Não lembro quando, mas foi recente: entrei pelo salão do Foz do Iguaçu Country Club e passei um olhar nas mesas, lá estavam os amigos e suas esposas celebrando. Vestiam gala. Uns cantavam, outros dançavam, havia grupos num canto, relembrando as glórias do passado, os casos engraçados, os que chegavam e os que iam, cada qual com a sua bagagem desse delicioso passeio que é a vida.

Em verdade sonhei isso, um sonho que sempre se repete. Ao acordar dói, porque sonhos de saudades são revestidos de alegria, e ao acordarmos, de tristeza. E dói mais ainda imaginar que hoje, as mesas daquele salão estão vazias; o palco é de apenas doces lembranças. Quase nada existe como naqueles tempos. A nostalgia sempre está em meu sonhar, ao lado dos que amei. Vamos ficando sozinhos.

Jovem, enfeitiçado pelo dinamismo da cidade, acabei sendo levado para perto de gente admirável. Poderia ser diferente, mas o fato é que o destino me presenteou assim, e, em muitos outros aspectos. O mais importante, considero, foi o privilégio de ter conhecido tantas pessoas maravilhosas.

Esse meu texto está localizado no início dos anos 80, quando a sociedade, dentre outras, se dividia em clubes. Havia o Floresta, um espaço para os que construíam Itaipu; o Gresfi, lugar de lazer dos militares; o Oeste Paraná e o Country. Era convidado para os eventos e nem possuía roupas apropriadas; para frequentá-los alugava o smoking; não sei se por relaxo ou displicência, levei anos até comprar o primeiro paletó. Nas ocasiões, conheci as pessoas importantes da cidade. E foi num baile de aniversário do Country que assisti, pela primeira vez, ao desfile de muitas personalidades, uma a uma, os casais, naqueles tempos quase que formalmente anunciados, igual festas de realeza; foi a primeira vez que vi Roberto e Jussara Fava. Não eram apenas lindos e sim glamourosos, em todos os sentidos. Não houve jeito de não me tornar amigo deles. Certamente foi assim para quem os conheceu.

E como era a vida fora das ocasiões festivas? Eu garanto que para toda aquela gente era de muito trabalho, atenção, dedicação e amor ao próximo, pois além dos clubes, doavam o tempo ás causas sociais, em ações voluntárias pessoais ou em clubes de serviço como Lions e Rotary. Era um trabalho precioso frente ao impacto sofrido por Foz.

Não há uma cidade sem a soma do esforço dessas pessoas. Podemos assim resumir a “sociedade”, em todas as áreas, onde há força braçal ou intelectual, operários, engenheiros, advogados, contadores, comerciantes, médicos, enfim, até os jornalistas, pois um dia serão fiéis testemunhas do passado. O caso é que não se pode relatar o tempo e seus atores, “ao arrepio” da informação. É preciso muito mais.

É o que eu tento fazer aqui, e lamento a necessidade de resumir, ao lembrar um pouco do Antônio Roberto Fava, com a sua amizade, humanidade e profissionalismo. Sou credenciado a relatar que aos 85 anos, ele nunca foi um “idoso” e menos ainda “velho”, pois se mantinha como um trabalhador leal da medicina, atendendo a qualquer hora do dia e madrugada. Octogenário, Fava não se entregava nunca! Para se ter ideia, ainda calçava a chuteira e encarava os torneios de futebol, defendendo o Vasco em sua versão iguaçuense.

Pode ser, ele tenha proporcionado os momentos mais emocionantes na vida de muitas famílias, ao permitir que ouvissem os coraçõezinhos dos filhos, antes de nascerem. Então vamos imaginar o quanto Fava foi importante para mais de ¼ da população, em seu ofício de ginecologista e obstetra. Valeu cada homenagem que lhe foi dedicada e, mereceria muitas outras mais.

Toda a vez que o encontrava, celebrávamos a pureza das boas lembranças e íamos onde poucos conseguiam, porque é de certa forma lamuriante lembrar os que ficaram pelo caminho. Foi assim quando nos vimos pela última vez e depois, ao telefone, prometendo marcar uma ocasião que acabou não acontecendo. Por isso, quando conversarem com um amigo querido e prometerem, um ao outro, um encontro, cumpram, por favor, para depois não sofrerem com o remorso.

Nos clubes, associações, autarquias, secretarias, prefeituras, governos e decorrentes poderes, há em algum lugar uma galeria dos notáveis, as pessoas que marcaram pelas gestões. Na galeria da minha vida, movida pela sensibilidade e consciência, há o retrato de muitos amigos e hoje, colocarei lá, o de Antônio Roberto fava, com imenso carinho. O recordarei como juntos, recordamos tantas pessoas.

Aproveito aqui para externar os meus sentimentos, em meu nome e de minha esposa Eliane, aos queridos Jussara, Marcelo e Claudinho.

Antonio Roberto Fava e Jussara: lindos e glamourosos.