Maio: conclaves simultâneos no Vaticano e Brasília!

Cardeais do setor energético brasileiro esperam que Lula solte a fumaça branca

O mês de maio e os “conclaves”

Enquanto o mundo se volta à Capela Sistina para a escolha de um novo Papa, Brasília prepara seu próprio conclave laico: as negociações para reorganizar o setor elétrico. Com a conta de luz no centro das atenções e pressões políticas se acumulando, Lula — nosso “papa” político — terá de fazer o tricô fino, equilibrando interesses partidários, aliados históricos e os olhos atentos do Centrão. Maio promete. Após cinco meses de alívio com bandeira verde, a conta deve pesar R$ 1,88 a mais a cada 100 kWh consumidos. A justificativa da Aneel: estiagem e menor geração das hidrelétricas.

 

São Pedro
A culpa, claro, é do clima — e de São Pedro, que parece ter esquecido as regiões Sudeste e Centro-Oeste no cronograma de chuvas. Menos água nos reservatórios, mais térmicas acionadas e tarifa no bolso do cidadão. A bandeira verde vigorava desde dezembro de 2024. Já há quem diga que o cenário vai servir de pano de fundo para as mudanças que Lula prepara no setor.

 

Trinca oportuna

A disputa por três cadeiras no Conselho de Administração da Eletrobras, estatal privatizada no governo Bolsonaro, apareceu como oportunidade para acomodar aliados da base. Embora os cargos sejam importantes, o Planalto os usa, sobretudo, para azeitar sua coalizão. As indicações de Silas Rondeau, Nelson Hubner e Maurício Tomasquim acabaram virando peça nesse tabuleiro. Os três foram oficializados e devem ser ratificados nesta segunda-feira 28 de abril, em assembleia do Conselho da Eletrobrás.

 

Conflitos na praça

O problema: dois dos indicados, Rondeau e Hubner, têm vínculos diretos com a ENBPar, estatal que assumiu ativos e passivos da antiga Eletrobras. O risco de conflito de interesses saltou aos olhos e travou a formalização. Nada que Brasília não saiba contornar — desde que haja espaço para remanejar aliados. Silas deve optar por deixar a ENBpar. Hubner, salvo alguma supresa, deve acumular posto nos conselhos de ambas as empresas – Eletrobras e ENBpar.

 

Rondeau: de olho no conselho

Silas Rondeau, há tempos desconfortável na presidência da ENBPar, fez chegar ao Planalto que toparia deixar a estatal para assumir vaga no conselho da Eletrobras. É pragmatismo puro: salário melhor, menos cobrança e projeção no mercado privado. Na base do “se colar, colou”.

 

Porta aberta para Enio Verri

Se Rondeau sair, a presidência da ENBPar fica disponível. Nesse contexto de reacomodação partidária, Enio Verri surge como nome natural. Diretor-geral brasileiro de Itaipu, Verri é ligado ao PT e poderia, se necessário, ser deslocado para a estatal, liberando a binacional para o PSD. Não está de malas prontas — mas é opção de Lula caso precise equilibrar forças. Enio só vai se quiser.

 

Missão de conciliação

Se a mexida for adiante, manter Verri em evidência é questão de honra para Lula. Além de leal, Verri conta com apoio declarado de Gleisi Hoffmann e simpatia da primeira-dama Janja. A presidência da ENBPar o manteria em posição estratégica para projetos políticos futuros no Paraná. Se sair, será “para cima”, como dizem no popular.

 

Tomasquim e Hubner: a espera

Maurício Tomasquim, respeitado no setor e entre petistas históricos, também enfrenta resistências políticas. Já Nelson Hubner, muito bem visto na área técnica, esbarra na mesma dificuldade de Rondeau. Ambos podem ter que aguardar uma próxima composição de conselho.

 

Centrão atento

Como sempre, o Centrão acompanha cada movimento. PSD de Kassab está de olho na Itaipu. MDB quer garantir Rondeau no conselho. Progressistas já ensaiam nome para a ENBPar caso haja vaga. É xadrez para mestres.

 

Dança das cadeiras

Essa reorganização no Conselho da Eletrobras precipitou a dança de cadeiras. Com a pressão tarifária e as demandas políticas em alta, Lula pretende organizar o setor, atender partidos e manter sob controle o principal foco de desgaste popular: a conta de luz.

 

Guarda-chuva garantido

Se precisar mover Verri, Lula não o deixará exposto. A possível ida para a ENBPar é solução previsível, mantendo o petista em posição influente no setor e liberando Itaipu para o PSD, o que garantiria apoio fundamental na disputa eleitoral de 2026.

 

O fator Janja

Vale lembrar: a permanência de Alexandre Silveira no Ministério de Minas e Energia resistiu a rumores recentes de que David Alcolumbre, todo-poderoso presidente do Senado, estaria pedindo sua cabeça. Mas Silveira segue firme pelo respaldo pessoal de Lula e pela confiança da primeira-dama Janja, que conhece o setor como poucos.

 

Pepitone na pista

Candidato natural à DGB de Itaipu, André Pepitone da Nóbrega, atual diretor financeiro executivo da binacional, é nome forte. Ex-presidente da Aneel, engenheiro civil pela UnB e MBA pela George Washington University, carrega prestígio técnico e trânsito fácil em Brasília, São Paulo e Rio.

 

Pedigree elétrico

Filho de “barrageiro” da Eletronorte, Pepitone integra a geração que ergueu Furnas, Itaipu, Tucuruí e Balbina. Na atual diretoria da Itaipu, só ele e Renato Sacramento, diretor técnico executivo, têm formação e experiência no setor. Isso pesa.

 

A cara da Faria Lima

Outro trunfo: Pepitone circula com desenvoltura no circuito da Faria Lima e no Rio, conversando com CEOs e investidores. Para uns, ativo estratégico. Para outros, aproximação perigosa demais com o mercado. Fato: é peça de valor no setor.

 

Sir Pepitone

Dentro da Itaipu, o Pepitone é respeitado e bem-visto pelos superintendentes e gerentes. Cortês e acessível, cumprimenta do segurança ao engenheiro-chefe. Sua eventual ascensão à DGB tem torcida discreta, mas consistente.

 

O fator Samek

Enquanto isso, o Itamaraty já sinalizou ao Planalto: Jorge Samek seria o nome ideal para recompor as relações com o Paraguai e “destravar” a renegociação do Anexo C, travada pelo escândalo da Abin. Respeitado em Assunção, Samek é garantia de diálogo e resultado.

 

Fora do jogo

Desde 2022, Samek se retirou da política institucional para cuidar da família e da vida privada. Continua circulando em São Miguel, Camboriú e Curitiba, sem demonstrar apetite para voltar — mas como se sabe, política é sempre circunstancial.

 

O fator Lula

Quem conhece o “polaco” sabe: ele nunca disse não a Lula. Se o presidente ligar e chamar de “Samekinho”, há boas chances de vê-lo de volta. Mas há resistências no entorno palaciano. Ainda assim, o telefone poderá tocar, dependendo o andar do carroção.

 

Com quem será?

O dilema está posto. Lula precisa equilibrar forças e contemplar o PSD — peça-chave para 2026. Isso amplia as chances de Pepitone chegar à DGB de Itaipu. Maio promete mais tensão política do que os discursos pelo aniversário da usina. Quem viver, verá.