- Luiz Henrique Dias –
Em tempos de pensar no futuro e nos rumos da cidade, quero lembrar o quanto a história já nos ensinou muito sobre o papel do Estado nas grandes mudanças econômicas e sociais.
Ela nos mostrou o quanto, por ser o Estado uma instituição de fundamento sólido e de caráter perene, frente à volatilidade das corporações privadas, ele pode atuar com muito mais paciência em relação aos retornos futuros, podendo se dispor a induzir frentes de desenvolvimento e a investir em áreas com risco considerado muito alto pelas empresas. Assim, ao contrário do que pensam alguns, o Estado não precisa e não deve atuar apenas nas “falhas” da iniciativa privada, mas sim como um Estado que empreende e é capaz de abrir o caminho para as empresas e pessoas.
E, numa lógica municipal, Foz do Iguaçu pode e deve ser uma cidade empreendedora.
Primeiro porque não é uma cidade comum: é dentre as médias cidades brasileiras a mais peculiar e a mais interessante, com possibilidades reais de diversificação econômica ou até de concentração de vocações, orientáveis por investimentos estatais. E com o bônus de ser um município jovem, de tamanho populacional e territorial gerenciável, com certa infraestrutura estabelecida e em funcionamento.
Segundo porque está inserida em um contexto federalizado e continental, com a presença de instituições como Itaipu, a Unila e os serviços federais atuantes na fronteira, fazendo com que o Governo Federal e o mundo tenham olhos e interesses concretos e simbólicos na cidade.
E como tornar Foz uma cidade empreendedora e corajosa?
Primeiro, assumindo esse papel. O Poder Público Municipal precisa entender que não é apenas uma prefeitura comum de cidade do interior, mas uma instituição estratégica com um ativo geopolítico e econômico nas mãos, e abrir uma frente ousada de planejamento estratégico e captação de recursos robustos para investimentos corajosos.
E não falo aqui somente em obras, apesar que delas também, mas falo em induzir o desenvolvimento mesmo, e apresento duas sugestões:
1- A criação do Instituto Público de Pesquisas Urbanas de Foz do Iguaçu: um órgão de pesquisa e assessoramento das decisões governamentais e de subsídio às decisões e às tratativas com outros entes públicos e privados, fazendo de forma técnica e científica o que hoje é feito sem muito método ou continuidade. É o Poder Público Municipal, o representante oficial dos iguaçuenses, que precisa dar o eixo de debate de cidade para o futuro.
2- Elaboração de Plano Diretor Estratégico e Participativo: a revisão do Plano Diretor precisa ser estratégica e com a participação não somente das entidades, mas das pessoas, dos usuários da cidade, apontando os eixos de crescimento e desenvolvimento para uma cidade ambientalmente sustentável, socialmente justa e transparente. Um plano assim, nos daria outra perspectiva de futuro e facilitaria em muito a vida dos investidores privados, que saberiam com precisão quais são os vetores econômicos e as previsões de infraestrutura de interesse público, subsidiando assim seus planos de negócios.
São sugestões que tenho defendido por onde passo, em intervenções e em conversas, nos cafés com pessoas que também têm interesse em ver a cidade voando alto e empreendendo.
* Luiz Henrique Dias é professor e coordenador do Coletivo da Cidade.