Como cantava Adoniran, “Ói Nóis Aqui Traveis”
- Por Rogério Romano Bonato –
Quase um centenário?
Não, ainda falta muito. Depois que publiquei o último artigo, comemorando o meio século no mundo da comunicação, vários asilos ligaram disponibilizando vaga. Um luxo! Agradeci a todos, mas pretendo ficar algum tempo ainda atazanando do lado de fora. Calma, mal superei a casa dos 65. Há muito chão pela frente.
Verdade, verdadeiramente, verdadeira
Eita! O povo se antecipa. Mas é fato que a minha geração foi privilegiada em matéria de transposição entre o antigo e o moderno. Quantas invenções surgiram e sumiram nas últimas décadas? Alguém consegue dimensionar as fortunas que foram despejadas em patentes, nos equipamentos que rapidamente se tornaram obsoletos? Dinheiro de volta, nem pensar, não é?
Juventude, jovem, juvenil
O homem sempre se superou, desde a invenção da roda. Usavam troncos embaixo das coisas para deslocá-las. Alguém atiçou a imaginação, partiu uma tora em rodelas e enfiou um pedaço de pau em cada extremidade. Inventaram o eixo também! Possivelmente levaram muito tempo até descobrirem a funcionalidade e o potencial, mas o fato é que até hoje aperfeiçoam a rodagem, a tração; das carroças aos veículos que já se descolam em Marte. Rodas, pêndulos, balanços, tudo foi pensado, desenvolvido, aprimorado. Não foi diferente ao dominar o fogo, conter a força da água, aproveitar o vento. Até que fazemos essas coisas com rapidez, considerando o tempo da existência humana. Agora, o que mais rápido fazemos é aquilo que muitos não dão bola e não acreditam: destruímos o planeta. Mas vamos mudando de assunto, antes que uma hecatombe ocorra nos mande, em pedaços, para o espaço. Meu propósito é rodear um pouco até chegar ao “finalmente”, ou seja, os fatos cotidianos. Como iniciei p texto abordando a “velhice”, prefiro acreditar que ela é algo somente na cabeça dos outros.
Explico:
A maioria dos seres humanos se julgam capazes. Isso é ameaçado toda a vez que alguém aparece e diz: “você não está mais na idade de fazer essas coisas”, ou “não se meta naquilo que não sabe fazer”. Para alguém com mais vivência, num sentido amplo, ouvir algo assim é motivo de ofensa. As pessoas podem pensar e encontrar uma maneira de expressar, mas ao meu ver, jamais devem dizer. Como também não é pecado discutir a possibilidade de ir morar em asilo ou casa de repouso, ou levar para lá o pai, mãe, ou até mesmo um amigo solitário. Eu mesmo me renderia a isso, se fosse o caso. Qual o problema? Não podemos desenvolver um preconceito tão injustamente. Os idosos já são muito desrespeitados e agora vão depreciar os locais que os abrigam? É uma opção de familiares decidirem situação assim, sem arrastar correntes ou mergulharem em remorso; de preferência consultando o futuro abrigado, seja em asilo ou casa de repouso, coisas que aliás são bem diferentes. Asilos sim estão mais ligados ao abandono o que é muito triste.
Desmistificar
Conheço várias pessoas que planejam seriamente a vida em casas de repouso. Também sei que pessoas perdendo o sono toda a vez que lembram do pai ou mãe nesses lugares. Certa ocasião fui com um amigo visitar o avô no asilo. Lá, entendi que o idoso estava faceiro, cheio de atividades e fui aprofundando a curiosidade: “o senhor gosta de viver aqui”? “Eu adoro, tenho amigos, jogamos baralho, dominó, assamos um pedaço de carne às vezes e bebemos escondido uma pinga; um não perturba o outro, rezamos, lemos, assistimos a televisão; tenho o meu rádio e ouço baixinho, olho o celular. É triste quando alguém morre, e, veja, isso acontece o tempo todo. Se perguntar se queria voltar a morar com os meus filhos eu não mentiria: gostaria bastante, mais por causa dos netinhos. Se não dá, o que podemos fazer?” Destrambelhou o homem, dada a confiança. Ele estava muito bem. Expressou o que a maioria expressaria.
Não perguntem…
…puxa vida Bonato, você está escrevendo essas coisas porque admite ter alcançado a velhice? Nunca… sou turrão, não uso vaga de idoso, não furo fila, não faço valer todos os benefícios e direitos, pelo contrário, cedo lugar aos que possuem idades avançadas, ajudo atravessar a rua, dou carona, colaboro. O que acontece, é olho um pouco para esse drama, que aliás, preocupa o planeta e é motivo de discussões em vários países. A seguridade social está comprometendo a arrecadação e derretendo os orçamentos. Por outro lado, os casais evitam a natalidade, com medo das crises, do que haverá no futuro e com isto, as populações envelhecem. Não está errado imaginar um ponto de extinção, olhando firmemente as decorrências demográficas.
A idade está em tudo
Todos os finais de tarde, depois dos afazeres, vou para a sala e ouço música. Ultimamente tenho atendido aos pedidos da minha esposa em ouvir moda de viola. Gostamos muito dos clássicos, das composições antigas. Impressionante como o povo do campo ressalta a velhice e trata do abandono de idosos. Há uma canção interpretada pelo Sérgio Reis que começa assim: “dizem que um pai cuida de dez filhos e dez filhos não cuidam de um pai”. E são várias as histórias de tristeza, com o sofrimento de pessoas que deram duro e depois foram simplesmente descartadas.
De surpresa
Meu querido amigo Ziraldo disse antes de completar 90 anos: “a velhice me pegou de surpresa”. E vai me pegar também se eu não pensar nela. Uns dias depois de completar 85 anos, o cartunista falou: “fiquei velho faz uma semana”. Não há escapatória, simplesmente envelhecemos e o melhor é prevenir, não o conceito da idade, o etário, porque ela vai chegar, mas sim, arranjar um jeito de viver confortavelmente, sem causar problemas aos outros, com a cabeça boa. Descobri que em Foz do Iguaçu, há uma corrente muito positiva em dar exemplo na área do atendimento aos idosos. Lembro o passado e pessoas como Antonio Bordin, Casemiro Domareski, Dionísio Campanha e outros, que trabalharam o projeto do “Lar dos Velhinhos”. Tomara outras pessoas sejam tão visionárias e criem alternativas.
Eu e o Corvo, o Corvo e eu
Recebi algumas mensagens perguntando como seria esta coluna, se atuaria como o Corvo, algo que ainda faço, juntamente com outros colegas e colaboradores, e, desde os tempos do jornal A Gazeta do Iguaçu. A ideia aqui é exercitar mais o pensamento, diretamente, me expondo além dos fatos políticos, sociais e corriqueiros. Também receberei “cartas”, palavra que uso para simplificar “comunicados, mensagens, notas, recados, bilhetes” e todas as maneiras de se comunicarem comigo, a começar pelo e-mail, cujo endereço deixarei ao final. O Corvo trabalha muito o ambiente da ficção, o imaginário dos gabinetes, embora publique informações credíveis, logo, com responsabilidade. Aqui não será diferente. A novidade é que além do texto, estou seriamente pensando em postar vídeos com a mesma linha de comentários. O começo pode parecer chato, a exemplo do que há acima, mas aos poucos creio que conseguirei encontrar meios de abordar muitos, ao gosto da “freguesia”.
Os conteúdos
Em geral, escrevemos temas que dominamos; eu prefiro “falar” da história, a dos outros e a por mim vivida, afinal de contas isso se transformará em testemunho, seja em minha cidade ou em outros lugares; a arte que admiro, os livros que li, filmes que assisti e os fatos em geral, com o livre exercício – responsável – do pensamento. Abordarei política, esporte, saúde, desenvolvimento e um pouco sobre tudo e todos. Os que desejarem colaborar podem enviar e-mail para rogeriobonato@gmail.com