Coluna do Bonato: desfile, Republicanos, minireforma, pesquisas e afins… e para variar o Bolsonaro

O Dia da Brasil!

A data comemora libertação da coroa portuguesa. Foi uma longa discussão, lembrando que D. Pedro I, depois de visitar a marquesa de Santos, Domitila de Castro e subir a Serra do Mar, foi interceptado por um arauto que lhe entregou uma carta de dona Leopoldina. Isso foi às margens de um riacho que fica no bairro do Ipiranga, em São Paulo, e, em lombo de burro, sacou a espada e deu o “grito”. Não é zombaria, pelo contrário, descrevo o ato, em si, muito mais importante que a circunstância e a falsa pompa dos quadros e exaltações. Nada foi mais importante que a decisão e vamos pensar: um filho se separando de um pai, porque na encruzilhada do destino, pensou maior. O Brasil independente fez valer a soberania nas Américas, deixou de ser colônia para se moldar uma importante nação. Uns lembram a data assim, outros não.

 

O assunto do dia

Os atos não aconteceram, Lula passou a manhã em palanque, cercado de militares. Apesar dos ruídos de manifestações, os brasileiros acompanharam a notícia da minirreforma, que incluiu membros de partidos que antes simpatizavam e atendiam aos clamores de Jair Bolsonaro. O Republicanos é um deles. O partido emitiu nota explicando que a posse do deputado Sílvio Costa Filho, no Ministério dos Portos e Aeroportos, não significa a adesão da sigla ao governo.

E como será?

O governo se transformou em um enorme mosaico de siglas e cores, com gente que antes era direita (e jura ainda pensar assim); o povo do centrão e os partidos de esquerda. É o novo estilo Lula de governo, sempre medindo a febre no Congresso Nacional. Precisa de voto dos parlamentares para garantir as empreitadas.

 

Os números

O IPEC realizou uma nova pesquisa para medir a quantas anda a popularidade de Lula. Em seu terceiro Luiz Inácio Lula da Silva é considerado ótimo ou bom por 40% dos brasileiros acima de 16 anos. Para 32% dos entrevistados, a administração é regular; 25% consideram-na ruim ou péssima. Não sabem ou não responderam são 3%. O levantamento foi realizado entre os dias 1º e 5 de setembro, presencialmente, com 2.000 eleitores, em 127 municípios. A margem de erro estimada é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%. Aliados do governo dizem que o saldo é satisfatório, considerando oito meses e uns dias de administração.

 

Bolsonaro quietinho

Ando recebendo “cartinhas” de amigos perguntando o que penso sobre o Jair Bolsonaro. A conclusão é simples: a política é muito veloz, tal a sucessão de desgraças na vida do ex-presidente. Facada ele já conhecia, na barriga, mas será que imaginou tantas apunhaladas, seguidamente? Sim, qualquer movimento na direção do adversário é uma estocada. A esta altura está mais furado que “talba de tiro ao Álvaro”. Essa é para matar a saudade!

 

Morto vivo

Nem faz muito tempo, aconteceu a votação da Reforma Tributária, dentre outras situações; depois esse processo de adesão ao governo Lula. Isso já inspira pás de terra sobre o caixão do homem que vivia repetindo que estava na “UTI”, mas ainda vivo. Está para se transformar um zumbi e se depender de muita gente, daria para mumificar e guardar o Bolsonaro no sarcófago. Odeio ficar relembrando as diatribes dele e penso como muitos cidadãos: isso é perder tempo. O fato é que as coisas se encaminham para o Bolsonaro se tornar maior desperdiçador do nosso tempo e o dele também, fazendo gracinhas e proferindo o besteirol.

 

Não chuto…

O interessante é que apesar da cascata de controvérsias, os adversários ainda não querem chutar a carcaça, mesmo sabendo da enxurrada de decisões judiciais em curso. O resultado é quase certo: seo Jair corre um sério risco de ser apartado das candidaturas por largo período.

 

Os óbitos e uma agonia

Bolsonaro, segundo os meus cálculos já morreu quatro vezes. Se fosse um gato ainda restariam outras três chances, logo, nem tudo estaria perdido. Com o caso das joias ele começa a criar patas e bigode de bichano. Preciso aclarar: na avalição dos prováveis óbitos políticos do ex-presidente, não há intenção em afrontar os fãs, tampouco os ignorantes e fanáticos, pois ainda guardam a fotografia do “mito” em algum lugar e acendem velas por sua volta. Mas, tê-lo na condição de candidato, só por milagre. É bom se acostumarem com a realidade.

 

A primeira morte

Ela foi se consumando no exercício do cargo, por meio de erros de avaliação, crendo em assessores incompetentes e irresponsáveis, apresentando planilhas falsas, laudos fraudulentos, se firmando em convicções “dos outros” e em coisas que jamais existiram. Com o negacionismo, ele despejou sobre o governo uma lama grudenta e corrosiva; exterminou a credibilidade. Francamente, se avaliar o que aprontou e certamente se arrepende. Deve viver um inferno. Se o leitor pensar rapidamente lembrará vários episódios, além do mais, as delações instigam a memória, como fez o hacker Walter Delgatti, falando pelos cotovelos.

 

A segunda morte

O ex-presidente duvidou de aliados sérios e no rebolo, empoderou medíocres; essa gente se espalhou pelo parlamento, prefeituras, câmaras, governos dos Estados, fundações, autarquias e estatais. Vários já traíram a causa toda a vez que se defenderem de acusações. Eles delatam, entregam, esperneiam, choram e abrem o bocão. Deixo claro que há muita gente séria em cargos eletivos e nomeados, mas a maioria optou pelo silêncio. Isso é uma constatação. Bolsonaro tem mais a se preocupar com os monstrinhos que criou, do que com a oposição e a Justiça.

 

A terceira morte

Foi quando o político de segundo escalão, aparentemente humilde, de berço simples e com a visão da Lei, se julgou acima dela desprezando o sistema, apostando na fragilidade institucional. Rasgou a máscara e aviltou a democracia; balançou a cristaleira e revelou-se um caso sério de principiante e amador, coisa que eu deixo para explicar no último parágrafo. Moldou-se um Trump banana de pijama, escorregando nas próprias cascas. Dá para emendar o que seria a quarta morte, no ainda nebuloso caso da suposta venda de presentes. Uma barbaridade! O que mais surgirá?  E pensar que se apenas governasse, de boca fechada, poderia ser reeleito. É o que dizem os analistas.

 

Só isso?

É muita coisa. Não conseguir a reeleição, por exemplo, não é um pecado e muito menos uma “morte” política. As empreitadas que batem na trave, em geral são esquecidas, porque isso faz parte do ofício de alguém que enfrenta as urnas. A história ensina que Churchill venceu a maior das guerras e em seguida perdeu a eleição. “O segredo do sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo”, disse. Mas o Jair não pode ser comparado ao Winston em absolutamente nada.

 

Ainda não

A frente de batalha está longe de ser abandonada pelo Bolsonaro e não será fácil para ele exercitar o jogo de apoio, vendo outras pessoas assumindo posições que poderia ocupar. Para alguém movido à comichão, se despersonalizar do processo é de roer as unas e, sem perceber, a ponta dos dedos. Mas há aí um problema e um dilema: será que ao apoiar outras pessoas terá a obediência? Será que no ano que vem, em decorrência das denúncias e delações, políticos da direita ainda irão pedir apoio e o colocarão nos palanques?

 

“Direita” é bolsonarismo?

Não é. Nunca foi. Para contrapor a esquerda, ideologicamente, é muito mais viável trabalhar em bloco, sem individualidade. É aí que a figura de Bolsonaro pode evaporar. Há quem pergunte se isso é injustiça, levando em conta a quantidade políticos ungidos ao poder de uma só vez; foi o que realizou Jair Bolsonaro. Bom, quantidade nunca foi qualidade.

 

Até quando?

Muitos querem saber até quando a onda bolsonarista será surfada. Não é possível fazer comparações com os movimentos petistas, pois são situações históricas diferentes. O fenômeno “Bolsonaro” completa meia década e agora vive em meio a tantos escândalos, fraquezas e fraturas expostas. As eleições municipais nos darão parâmetro mais eficiente sobre os movimentos da esquerda e da direita. Os números favoráveis ao governo Lula são um complicador para a direita, mas ela ainda emplaca em muitos locais. Não devem subestimar os candidatos que vestirão o rótulo e ostentarão as legendas de direita.

 

E ele sabe o que é direita e esquerda?

Bolsonaro é afoito, impaciente. É o homem que disse ao mundo que “o nazismo de esquerda”, logo, não deve compreender com exatidão, onde fica o outro lado. Ele não é e nem nunca foi alguém da “direita”. Apenas admira o período militar e sem muito se aprofundar na história, porque torturadores e ditadores sanguinários não mereceriam culto e muito menos homenagens. O Brasil viveu um período quase sem definição, uma bagunça, com a total ausência dos princípios da autoridade. Alguém teve a capacidade de brincar: “o Bolsonaro é o Darth Vader da nossa política”. Será? Se é para brincar de cinema, em minha modesta opinião ele está mais para o Darth Sidious, que levou o “império” à bancarrota.

 

Sucesso de um, desgraça do outro

Comparações e brincadeiras à parte, a alternância do poder é alçada por impactos e fenômenos de polarização, o vencedor terá muitos desafios e o mais difícil é acalmar e depois converter a massa derrotada. É o que Luiz Inácio Lula da Silva está realizando, por meio de reconquistar alianças internas e externas, a todo o custo fazendo a roda girar, com ou sem tropeços. Paralelamente traz para o seu lado mais aliados e precisa ficar com um olho no peixe e outro no gato. Os que traem uma liderança meteórica, como foi Bolsonaro, trairão qualquer outro.

 

Para terminar…

*Vamos lembrar os saudosos “Jobins” em duas frases: “O Brasil não é para amadores” de Belmiro Valverde Jobim Castor e, antes dele, “o Brasil não é para principiantes”, de Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim. E La Nave Vá.