Bem-vindo à Foz que você viu na TV — e vai lembrar pra sempre
A mídia espontânea encanta, mas a experiência sustenta. Que tal transformar cada morador em anfitrião? Porque uma cidade turística não vive só do palco: vive de afeto.
Como hoje é sábado?
Os leitores já revelaram que gostam muito quando a coluna instiga assuntos para se pensar. O tema hoje é mais voltado para o Turismo e a arte de bem receber, algo que Foz do Iguaçu precisa afinar um pouco mais, e de forma abrangente. Na balança dos números, o sucesso anda bem próximo do fiasco. É preciso saber regular as duas pontas.
Na telinha do Brasil
Se você piscou, perdeu: Foz do Iguaçu brilhou mais uma vez na tela da Globo, com direito a inverno tropical, mascote dançante, banda Roupa Nova e até onça pintada! A cidade virou cenário de novela, palco de Caldeirão e assunto de café da manhã nos lares brasileiros. O impacto? R$ 121 milhões em mídia espontânea. Nada mal para quem já cansou de ouvir “ah, você mora perto das Cataratas e da fronteira, né?”. Há quem ainda pergunte que Foz fica no exterior. Mas o país todo sabe — e mais importante: sempre deseja ver com os próprios olhos.
Visibilidade de fazer inveja
Muita gente acha que aparecer na Globo é apenas “luxo”. Mas cada segundinho custa caro — e quando a emissora entrega isso de graça, é como ganhar vários outdoors na Times Square. Só que há um porém: diferente de filmes, a realidade não tem edição. Se o turista pisa na cidade e tropeça num buraco, encontra fila no banheiro do atrativo, ou recebe um “não sei” de um garçom, a má impressão estraga o roteiro. A fama é boa, mas precisa ser sustentada com gentileza e eficiência.
Amor antigo
Este colunista caiu de amores por Foz vendo as Cataratas na TV — ainda na era do “Amaral Neto, o Repórter”. O Pedro Torre, cinegrafista da época, virou quase figura folclórica na cidade anos depois. E sim, já teve até Didi Mocó tomando banho nas quedas, para vender chuveiro. A cidade já foi cenário africano para Tarzan, templo sagrado para Indiana Jones e até portal jurássico. De tanto brilhar na ficção, Foz virou fantasia nacional. Só faltou rodar uma novela das seis completa, de cabo a rabo, com trilha do Almir Sater. O Iguaçu tem talento cinematográfico e currículo internacional, há filmes que já venceram até o Oscar, como The MIssion.
Mion e o quati celebridade
Se há um bicho que ganhou fama nesse “Caldeirão de Inverno”, foi o quati dançarino. A mascote do Visit Iguassu roubou a cena e teve mais views no Instagram que influencer de maquiagem. Isso sem contar a guia Evelina e a pesquisadora Yara Barros, estrelas genuínas da terra, que mostraram ao Brasil que aqui se faz turismo com ciência, carinho e… um certo improviso. Dizem que o Mion desceu as trilha das Cataratas de chinelo e tomou até um tererê no Porto Meira.
A matemática da fama
Tem gente que acha exagero: “Ah, só um programa de TV…”. Mas se colocássemos no papel quanto custaria atingir 32 milhões de brasileiros com comerciais pagos, sofreríamos infarto coletivo. O tal do “retorno de mídia” não é conversa fiada: são R$ 121 milhões que Foz ganhou em visibilidade, de graça. E aí mora o risco: o turista vem com expectativas altas. E se o garçom some, o Uber cancela, o banheiro não tem papel… a novela vira em filme de terror.
A maldição dos “piranhas”
Foz tem suas belezas — mas também suas figuras folclóricas. Entre elas, os “piranhas”, vendedores insistentes que surgem do nada e grudam no turista, empaçocando o trânsito. São quase parte do ecossistema urbano. São trabalhadores enfim, mas o problema é o excesso: em vez de lembrancinha, o visitante leva susto, dependendo a abordagem.
O turista vem, mas e aí?
Vamos combinar: não dá pra convidar o Brasil inteiro pra festa e deixar o portão caído. Se o marketing bomba, a infraestrutura precisa acompanhar. De nada adianta encantá-lo com o som das quedas e deixá-lo perdido no cruzamento sem sinalização. Se o turista chega por imagem, ele permanece pelo acolhimento. Foz precisa ser tão eficiente no café da manhã quanto é na hora do nascer do sol no Parque Nacional. Instagram registra tudo — até a cara de frustração.
Cartão do prefeito?
Já pensou se o prefeito de Foz entregasse um cartão com telefone pessoal dizendo: “Qualquer problema, me ligue”? Foi o que fez Cesar Maia no Rio. Claro, tinha um call center por trás, mas a sacada era genial. Aqui, bastaria uma placa sincera: “Estamos em obras, mas queremos te ver feliz”. Ou então, distribuir sombrinhas com a frase “A paciência também é uma maravilha natural”. Criatividade não falta. Às vezes falta é humildade para ouvir o visitante.
Foz é mídia — mas também é missão
Não quero ser repetitivo: uma cidade que também vive de ser visitada precisa entender que não basta receber: é preciso encantar. A fama pode trazer milhões em mídia, mas também milhares de exigências. Do aeroporto ao hotel, do taxista, do aplicativo ao guia, tudo comunica. E o pior elogio que um turista pode dar é: “As Cataratas são lindas, mas o resto…”. Que tal fazer o “resto” virar o melhor da viagem? Afinal, mídia espontânea não se compra. Se conquista. E se perde — rápido, creiam.
Café passado na hora
Quer saber como se melhora isso tudo? Com algo que Foz tem de sobra, mas nem sempre aplica: calor humano. É preciso tratar o turista como visita querida — daquelas que a gente recebe com café passado na hora e bolo de fubá. Não precisa levar o gringo para dormir no sofá da sala, mas um bom dia sorridente, uma ajuda com o mapa e até uma dica sincera já fazem milagres. Se a cidade é cenário de novela, que os moradores sejam os personagens mais cativantes. Uma campanha municipal cairia como luva: “Foz bem recebida é Foz bem falada”. Embratur, o Paraná e a iniciativa privada investem em divulgação, Foz poderia trabalhar o endomarketing.
O elefante que dança
Quem diria que o outrora “elefante branco” da cidade — o Centro de Convenções — anda ensaiando passos de dança sob nova batuta e com a tromba respirando muito bem? Em resposta às provocações desta coluna, o diretor-presidente Gabriel Rugoni Machado foi elegante e firme: sim, o histórico é de ociosidade, mas os tempos são outros. A agenda de 2025 é de dar inveja: eventos religiosos, congressos, shows, feiras, encontros legislativos e até carreta treme-treme. Se o espaço ainda inspira metáforas paquidérmicas, pelo menos agora carrega a pintura colorida de uma gestão que se mexe. Que siga dançando, sem tropeçar na burocracia.
Da crítica à ocupação plena
Há de se reconhecer: a movimentação atual do Centro de Convenções é legítima e merecedora de aplausos. Os dados falam por si — só restam três fins de semana livres até dezembro. E isso sem falar no cardápio de atrações para 2026, que já inclui Drone Policial e Ney Matogrosso. Mas sejamos justos: uma boa agenda não resolve tudo. O prédio ainda precisa de reformas estruturais, equipamentos modernos e uma política pública clara para integrar turismo, cultura e negócios. A revitalização prometida pode, enfim, resgatar o prestígio que o espaço merece — e não apenas por um ciclo de bons ventos.
Onde o técnico mandar
Num tabuleiro cada vez mais povoado por pretendentes, o ex-prefeito de Cascavel e atual secretário de Turismo, Leonaldo Paranhos, surgiu esta semana como nome “silencioso e barulhento” nas rodas de conversa sobre a sucessão paranaense. Enquanto o governador Ratinho Jr segura a lista com Guto Silva, Alexandre Curi e Rafael Greca na linha de frente, Paranhos fez gol de placa ao declarar que joga “onde o técnico escalar” — até no banco, se necessário. Com aprovação de 89% ao deixar a prefeitura, é peça-chave do oeste e do noroeste. Discreto, mas com jogadas bem treinadas, vem avançando como quem sabe que o jogo não é só de bastidor: é também de entrega visível, e ele vem entregando.
Um só destino — e muitas regiões
Enquanto muita gente fala, Paranhos executa. Desde que assumiu a Secretaria de Turismo em março, tem percorrido o Paraná como quem monta um quebra-cabeça de identidade regional. Criou agora o quinto território turístico oficial do estado, o “Cinturão Verde”, em Cianorte, somando-se a outros como o Norte Pioneiro e Encontro das Águas. A ideia é descentralizar a vocação turística do estado, que já superou 584 mil turistas estrangeiros em cinco meses. É o turismo virando política econômica, com investimento, organização e fomento. E no meio disso tudo, o ex-prefeito de Cascavel vai construindo capital político — de forma tão natural que, quando o governador decidir a escalação, a camisa já estará vestida.
Até terça, com novos temperos
O cardápio desta coluna está servido: mídia positiva que transforma cidades em vitrines globais; centros de convenções que deixam de ser elefantes brancos para dançar conforme a música; políticos que se movimentam com sabedoria, seja no palco da sucessão ou nos bastidores do turismo estratégico. Só resta então, desejar a todos um excelente fim de semana!
Rogério Bonato escreve para o Almanaque Futuro