A glória emprestada: quando apoiar artistas vira autopromoção

O princípio do mecenato é o conceito ético ignorado pelos que acreditam que arte é palanque. Leia o artigo de Eliane Luiza Schaefer.

A arte tem o poder de revelar a sociedade em seus contrastes: mostra virtudes e falhas, provoca reflexão e dá voz ao que muitas vezes é silenciado. Criar exige coragem, e é o artista quem transforma em obra aquilo que todos sentem, mas poucos conseguem expressar.

Mesmo assim, o que se vê com frequência em Foz do Iguaçu e em tantos outros lugares, é um discurso de apoio que, na prática, serve mais como vitrine para quem “ajuda” do que como reconhecimento para quem cria. Empresários, comunicadores, políticos e influenciadores costumam se apresentar como aqueles que “abriram as portas”, mas acabam se colocando sob os holofotes, enquanto os artistas, verdadeiros protagonistas, permanecem à sombra.

Esse comportamento levanta um ponto ético importante: patrocinar ou divulgar não é o mesmo que criar. Promover iniciativas culturais deve significar dar condições para que a arte apareça, não disputar a autoria do brilho. O mérito precisa estar onde nasceu, na obra e em quem a produziu.

Na cena cultural local, não faltam exemplos de promessas de “dar espaço” que resultam apenas em aparições em eventos e fotos promocionais, enquanto o artista segue invisível. Esse tipo de prática enfraquece a cultura e desanima quem luta diariamente para viver da própria arte.

É justamente nesse ponto que se torna urgente resgatar a cultura do mecenato, tradição histórica em que pessoas e instituições assumem o papel de incentivar a criação artística sem buscar proveito pessoal. O mecenato é a antítese do palanque: ele existe para sustentar a arte pelo que ela é, reconhecendo seu valor intrínseco para a sociedade. A ignorância sobre esse conceito leva muitos a acreditar que apoiar artistas é mero favor ou autopromoção, quando na verdade é uma forma nobre e necessária de devolver à comunidade aquilo que a própria arte oferece — beleza, reflexão e identidade.

É fundamental compreender que o valor da arte não está em quem oferece a oportunidade, mas em quem a torna realidade. Incentivar de verdade significa apoiar sem buscar protagonismo, garantir voz e visibilidade a quem sustenta a criação.

Em qualquer parte do mundo, é comum ouvir discursos de “ajuda à cultura”, mas poucos aceitam o papel de coadjuvante. É hora de mudar essa lógica: empresários e comunicadores devem cumprir sua função de incentivo e suporte, sem roubar a cena. O microfone precisa estar no centro, e quem deve segurá-lo é o artista.

Eliane Luiza Schaefer é artista plástica, envolvida com movimentos culturais, empresária do ramo da comunicação e editora do portal Almanaque Futuro.