224 dias depois, em 2025, o Brasil continua entre filas, folclores e feitiços.

Do Dia do Folclore ao IPVA “mais barato do país”, entre caminhões atravessados e magos da política, a sexta-feira mostra que o progresso ainda insiste em chegar atrasado. Tudo isso e muito mais na coluna de Rogério Bonato. E de presente, segue uma inovação, um Podcast com o contreúdo completo! Quem não pode ler, pode ouvir!

224 dias depois…”sextou” mais uma vez!

Bom dia, leitores! É 22 de agosto de 2025, estramos no 224º dia do sacrossanto ano. Restam, portanto, 141 dias até a chegada do réveillon. Já cruzamos a metade do calendário e, no compasso dos ponteiros, logo o trenó de Papai Noel se aproxima com seus sininhos e renas. No calendário religioso, celebra-se Nossa Senhora Rainha, título instituído pelo papa Pio XII em 1954. No Brasil, a data é lembrada também como o Dia do Folclore, patrimônio cultural que carrega lendas, músicas, danças e mitos que dão alma à identidade nacional. É um dia e tanto aos que creem piamente na mula-sem-cabeça. No saci também. Na linha do tempo, o 22 de agosto já foi palco de grandes marcos: em 1642, a Inglaterra mergulhava na Guerra Civil; em 1864, nascia a Cruz Vermelha Internacional, em Genebra, marco da solidariedade humanitária; em 1968, na esteira dos protestos globais, a França assistia ao clamor de sua juventude nas ruas; e em 2004, a dupla de vôlei de praia Ricardo e Emanuel garantia o ouro olímpico para o Brasil em Atenas. Cada 22 de agosto reafirma que a história se escreve entre memórias, símbolos e resistências — e cabe a nós continuar virando essas páginas.

 

Cartinha da leitora

“Prezado colunista, aqui entre nós, a culpa do engarrafamento da última terça-feira não é do caminhão e nem dos seus proprietários, e sim da insistência em veículos pesados atravessarem o eixo turístico, porque não há outros acessos. Um motivo a mais para ‘riparem’ a obra da Perimetral. Por outro lado, a rotatória na Avenida das Cataratas é um desastre: impossível trafegar pelo lado direito, onde há elevações enormes na pista. Parece não haver solução para aquele problema. Arrumam e, dias depois, os montinhos aparecem de novo. Não há como um veículo já em condições precárias, deixar de quebrar. Se os pequenos sofrem, imagine os grandes. E as sucatas paraguaias e argentinas que circulam em nossas ruas? Se caírem em blitz já eram, ou será que vão deixar seguir viagem pelo fato de serem estrangeiros?”.

Maria Lúcia Silveira

 

Prezada leitora…

…o transtorno, de fato, não foi causado pelo caminhão em si, mas em quebrar justamente naquele ponto crítico — coisa que acontece com frequência. As ondulações da pista são cúmplices. Um engenheiro da área urbana, ao ser provocado por este colunista, sugeriu solução simples: substituir o asfalto por concreto no trecho. Mas aí entra o porém: só dá para fazer isso depois que a Perimetral Leste for entregue, já que o trevo é vital para o escoamento do tráfego. Ou seja, ficamos reféns da “eterna obra”. Pelo menos a promessa é de que avance, já que Itaipu banca a conta e o governo estadual carimba como vitrine eleitoral. Até lá, caminhões velhos e novos vão continuar quebrando e travando a vida de quem utiliza a via.

 

Falar em rotatória…

…um passarinho pousou na janela deste colunista e piou que há conversas avançadas em Brasília para liberar de vez o acesso do CTG Charrua. A solução, dizem, pode vir em forma de viaduto, trincheira ou — pasme — semáforos nos dois lados da pista, como se vê em outras cidades. Qualquer coisa será melhor que a via-crúcis atual. Se vier congestionamento, paciência; motorista aceita fila, mas não aceita humilhação de dar voltas quilométricas para atravessar uma avenida. Se isso sair do papel, será presente para quem gosta de reclamar, mas verdadeiro alívio para os que só querem chegar ao outro lado. E, convenhamos, aliviará também o bombardeio de críticas à administração do General.

 

Ratinho e o IPVA

E por falar em veículos, eis que Ratinho Júnior resolveu aliviar os motoristas e proprietários de veículos. Anunciou que, a partir de 2026, o Paraná terá o menor IPVA do Brasil: a alíquota cai de 3,5% para 1,9%. Traduzindo: um carro de R$ 50 mil, que pagava R$ 1.750, passará a pagar R$ 950. É quase mil reais de diferença — ou, se preferirem, um jogo novo de pneus remoldados. Segundo a Receita Estadual, 3,4 milhões de proprietários serão beneficiados, ou seja, 83% da frota tributada. A promessa é que o dinheiro que deixará de entrar nos cofres públicos entrará no bolso dos paranaenses para “viajar, consumir e movimentar a economia”. Palavras do secretário Ortigara. Mas, como não existe almoço grátis, a multa por atraso dobrará: de 10% para 20%. Perdeu o prazo, adeus desconto, adeus alegria.

 

Ratinho, o complacente

O governador repete que “é compromisso com redução de impostos e da máquina pública”. Bonito de ouvir. Em ano eleitoral, cortar imposto sempre dá ibope. Resta saber se o contribuinte acreditará que o alívio virá sem puxar o tapete em outro canto. Porque, no fim, a matemática da política é como trânsito em Foz e na Avenida das Cataratas: você pensa que vai seguir adiante, mas sempre aparece um caminhão atravessado no meio do caminho.

 

“O progresso sempre chega tarde”

Sempre que revejo o clássico Cinema Paradiso, me encanto com a sabedoria de Alfredo, vivido pelo magistral e saudoso Philippe Noiret. Cego após o incêndio na sala de projeções, ele resume a vida em uma frase inesquecível: “Il progresso arriva sempre in ritardo” — o progresso sempre chega tarde. Sou tomado pela mesma sensação diante do anúncio do IPVA mais baixo do Brasil. Ironia das ironias: em 2026, justo o ano da redução, meu carro completará 20 anos e deixará de pagar o imposto. Logo agora, com esse baita desconto. O progresso, de fato, nunca perde a mania de chegar atrasado.

 

Fala sério

O governador Ratinho Júnior será lembrado pela marca da mobilidade — talvez mais do que por qualquer outra agenda. Não é à toa que ostenta alta aprovação: atravessou quase os dois mandatos sem arranca-rabos com professores, o que, convenhamos, já é raro na política paranaense. Mas é nas obras “sobre rodas” que construiu sua identidade. Em sete anos e meio, multiplicaram-se trevos, viadutos, avenidas, acessos, estradas e pontes. Trabalhou forte e deixou pegada visível. Em Foz do Iguaçu, a soma das ações é inegável: quando tudo estiver concluído, a cidade será outra — mesmo que as providências demorem.

 

De saco para mala

O número de partidos não cresce apenas em Foz do Iguaçu, mas em todo o Brasil. E de que adianta? No segundo turno, a alquimia é sempre a mesma: a esquerda corre para um lado, a direita para o outro e o “centro” se pulveriza entre os dois. É tanta sigla que nem os gênios mirins do Domingão do Huck acertariam a resposta cabeluda: “Quantos partidos existem no Brasil?”. Até terminar de enunciar a pergunta, outro já nasceu. Temos mais agremiações que deuses na Índia.

 

Partido que não acaba mais

Resumindo, hoje Foz conta com 15 legendas vigentes, mas pode saltar para 29 até 2026, praticamente dobrando o quadro. Isso significa a possibilidade de mais de 300 candidatos a vereador em 2028, contra os 239 da última eleição. No Brasil, a conta é ainda mais espantosa: são 29 partidos constituídos e outros 22 em formação no TSE. Se todos vingarem, chegaremos a 51 siglas — um recorde mundial de pulverização política. E os nomes não deixam a desejar na criatividade: “Partido do Autista”, “Ambientalistas”, “Brasil Novo”, “União Democrática Nacional” e até o MISSÃO, encabeçado pelo MBL, que já colheu as assinaturas mínimas.

 

Democracia em liquidação

Na prática, o excesso de partidos cria a ilusão da diversidade, mas dificulta a governabilidade e sobrecarrega a Justiça Eleitoral. No Paraná, duas siglas — PRTB e Avante — já estão suspensas por irregularidades nas contas. Em Foz, 11 das 15 legendas funcionam apenas com comissões provisórias, sem estrutura sólida. Para o eleitor, será uma prateleira lotada, mas com produtos de validade duvidosa. A boa notícia é que pequenos grupos, lideranças comunitárias e minorias podem encontrar espaço. A má notícia é que, em meio a tanto “novo rótulo”, o velho jogo de sempre continua: prometer mundos e fundos e, depois, dividir os espólios.

 

O mundo e os bruxos da política

Não é ofensa. Chamar de “magos” até poderia ser elogio exagerado. A política, como o cinema, sempre tem seus personagens sombrios, escondidos nas névoas: Sheev Palpatine, o Darth Sidious de Star Wars; Sauron, o Senhor Sombrio de Mordor; e, na vida real, o místico Rasputin, o “monge louco” que enfeitiçava a corte russa. Lenin, a seu modo, também não escapava do rótulo de manipulador. No Brasil, tivemos “conselheiros ocultos” de vários governos. Mas nenhum exerceu tanto poder nos bastidores recentes quanto o pastor Silas Malafaia, uma espécie de “feiticeiro oficial” da era Bolsonaro. Se é para não causar ofensas, vamos chama-lo de “líder espiritual” do ex-presidente.

 

Do púlpito ao Galeão

Pois eis que o “mago” das orações fortes e frases de efeito se viu diante de outro tipo de autoridade: a Polícia Federal. Na noite da quarta-feira, 20, agentes cumpriram mandado de busca e apreensão contra o Silas Malafaia, logo após ele desembarcar no Aeroporto do Galeão, vindo de Lisboa. Autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, a operação apreendeu os celulares do pastor — prova de que, às vezes, até os bruxos mais influentes da política nacional não conseguem escapar do feitiço da lei.

 

Arreda, capeta!

Silas Malafaia não ficou famoso apenas pelos cultos inflamados, mas pelo “spray ungido” que prometia afastar demônios. Era como vender crucifixo para o Drácula e ele, distraído, acabar pendurando no pescoço. Com a mesma lábia, Malafaia pintou e bordou na política, organizando manifestações e se metendo em tudo. Mas o feitiço virou contra o feiticeiro: em meio a áudios revelados pela PF, sobrou até para o pupilo da família. Num deles, o pastor emparedou Eduardo Bolsonaro e o chamou de “babaca” e “estúpido de marca maior”. A cena rendeu uma chuva de memes — afinal, se até o aliado acha Eduardo assim, quem vai discordar?

 

Boca santa, língua suja

As gravações da PF revelaram o outro lado do “homem de Deus”: um vocabulário que faria inveja a marinheiro em boteco de porto. Internautas foram à loucura, criando montagens e piadas. “Se eu falasse 1% do que o pastor fala, minha mãe já tinha me desdentado”, escreveu um. Outro arrematou: “Malafaia no off é 100% miliciano aesthetic”. E teve ainda quem brincasse: “Se tocar o áudio do Silas de trás pra frente, aparece o Ilariê da Xuxa”. A moral da história? Nem sempre a Bíblia na mão garante pureza no microfone.

 

O pastor proibido

A conta chegou: Alexandre de Moraes proibiu Malafaia de sair do país e de falar com Jair e Eduardo Bolsonaro. Passaporte retido, celulares apreendidos, sigilos quebrados — um cardápio digno de novela policial. O pastor reagiu como sempre, aos gritos: “Eu não sou bandido, que democracia é essa?”. O STF, porém, entende que ele atuou como articulador para pressionar o tribunal com sanções internacionais, além de turbinar narrativas golpistas. Resumindo: agora Malafaia não pode mais conversar com Bolsonaro. Ironia do destino — no fim, foi Moraes quem deu ao clã a bênção que tanto pediam: silêncio de Malafaia. Quem diria?

 

Boa sexta-feira!

Encerramos por aqui, desejando a todos uma sexta-feira caprichada. Hora de começar o aquecimento para o fim de semana: afiar as facas, limpar as grelhas, polir os espetos. Que o ritual não seja para assar pé de galinha na brasa, convenhamos. Com o tarifaço de Trump, a boa notícia é que a carne começou a aparecer mais em conta nos açougues e supermercados. Então, que cada um escolha seu corte e celebre: se não for churrasco, que seja ao menos motivo para brindar a vida. Amanhã estarei de volta!

 

No podcast

Todo este conteúdo é agora disponibilizado em Podcast. No início da ideia é postar áudo apenas três vezes na semana. No fututo todas as colunas serão gravadas em áudio e imagem.  Clique na imagem abaixo para ouvir o autor e seus comentários.