Um texto de Rogério Bonato –
Passando um olhar pelas edições de jornais, e, conferindo o que seria uma retrospectiva, desenhamos o velho mapa dos acontecimentos. De janeiro até os últimos dias de dezembro, é difícil discernir o sentimento, se de alívio, preocupação, superação, enfim, 2021 foi um período de oscilações entre a tristeza e a alegria, a dúvida e a certeza, o caminho e a indiferença, e, também, entendemos os feitos e as suas derivadas “procrastinações”, palavra complicada, quase impronunciável, a nos fazer pensar que algo “não deu” e por culpa disso e aquilo.
Não é difícil encontrar a complexidade nos períodos de privações, afinal, tudo cruza em nossa frente e a todo instante.
Foi um ano trágico, apesar das vacinas, das vidas salvas e do sopro de recuperação econômica. O saldo, de um modo em geral, é dantesco. Juros altos, inflação galopante, serviços inacessíveis, desemprego, inadimplência, confusão política, dentre outros. Lidamos com uma somatória adversa, que anuvia a esperança, a que não podemos de jeito algum abalar, ou perder.
E aí aparecem pessoas afirmando: 2021 deve ser apagado da nossa memória. Santa imbecilidade; é a única coisa que não devemos fazer, nuca.
Se o povo hebreu esquecesse o cativeiro no Egito, provavelmente não existiria; apagar da memória, a escravidão, os genocídios, a face humana e opressiva da maldade, não nos leva à superação, ao aprendizado, à formação opinião sobre o certo e o errado; a história se construirá deformada e levaremos uma eternidade perguntando, onde foi que erramos. Ficar de frente com a verdade e esmiuçar cada fração dos acontecimentos é o caminho certo. Entenderemos melhor a sociedade e como estamos inseridos nela.
Independentemente o regime ou sistema de governo, formamos uma coletividade, em geral, para dividir prejuízos quando as coisas não andam bem. É com isso que lidamos ao comprar alimentos, abastecer o veículo, pagar um plano de saúde, o aluguel, a conta de luz, água e as outras, em geral, em cima da fruteira vazia. Em épocas de fartura lá há frutas; em crise, contas.
É triste concluir que as crises nos surram dolorosamente, porque qualquer cidadão de bem precisa cuidar das suas feridas e compadece com a dos outros. Não há um mortal, neste planeta, que não saiba de uma história triste, envolvendo um semelhante próximo ou distante. Quem é alheio a isso não vive aqui, orbita.
Logo, comungar os acontecimentos ao longo do período, e, entendê-los com profundidade, é uma forma de se preparar para o que virá, obscuro ou não o grau de dificuldade ou se teremos habilidade. Nada disso intimida, se houver a obstinação e a vontade; o que nos oferece um casco robusto e o leme.
Vamos lembrar 2021, o ano em que nos conhecemos como cidadãos e soubemos mais sobre nós mesmos, o que podemos e até onde vamos.