É o que acontecerá quando a humanidade deixar de usar definitivamente os combustíveis fósseis, um dos pontos fundamentados na Conferência Mundial do Clima, na Escócia.
O homem explora os chamados combustíveis fósseis, o acúmulo natural de substâncias advindas da decomposição de organismos mortos e soterrados. Isso contêm alta quantidade de carbono, um fator de alimentação de combustão. É o legado que o planeta nos deixa desde a sua formação, há cerca de 4,5 bilhões de anos. No entanto, em menos de 200 mil anos conseguimos gastar boa parte dessa herança e de uma maneira muito errada. Não está errado dizer que nos envenenamos com ela.
Conter a emissão de gases é a medida fundamental para garantir vida para as próximas gerações. Foto Revista Adnormas
Estima-se que o mundo ainda possua um estoque muito grande de combustíveis fosseis, e, se usados no atual ritmo, será o suficiente para exaurir a vida na superfície do planeta. Isso acontecerá porque aproximadamente 70% das emissões gases causadores do efeito estufa, ocorrem com a liberação de dióxido de carbono – CO2 – resultante da queima desses combustíveis. O carvão, gás natural e derivados do petróleo, são abundantemente utilizados no suporte do desenvolvimento, o que ocasiona o aquecimento global. Para mudar a situação, a humanidade precisaria abandonar esses recursos, deixando-os no solo.
Se olharmos atentamente para o setor energético mundial, não veremos muitos sinais de mudança e tudo leva a crer, que decisões pontuais não ocorrerão em curto prazo, como pedem os alertas. Não se trata de uma visão pessimista, mas é a realidade entre os acordos e a tomada de decisões. Há uma distância muito grande entre um ponto e outro, contrariando interesses políticos e econômicos. O que acontece, lamentavelmente é que além do comprometimento ambiental, há uma expansão no uso das fontes renováveis, mantendo a demanda de energia inalterada. 80% do planeta ainda é movido por meio desses recursos.
Garantir as reservas naturais, como a água, é uma luta primordial para a a garantia da vida – Foto A Tarde UolOs pesquisadores analisam isso em detalhes, ou seja, acompanham com muita atenção o uso das reservas. Na avaliação entre dez países, Austrália, Alemanha, Brasil, Canadá, China, EUA, Índia, Japão, Rússia, Venezuela -, além de duas regiões, a União Europeia e o Oriente Médio, o consumo ainda é crescente. Apesar dos acordos e o reconhecimento aos danos, há um longo caminho até se colocar em prática a substituição dos “fósseis” por fontes de energia limpa. Muitos cientistas acreditam que isso chegará ao ponto irreversível, quando não haverá maneiras de devolver o equilíbrio ao planeta. O aquecimento é o relógio cujo alarme está disparando. O fruto da visão pessimista ainda é o mais próximo da realidade. O mundo salta de conferências, pleitos, reuniões, fóruns, eventos, sem medidas práticas. O que se vê é o adiamento de decisões que são emergenciais.
A 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima de 2021, ou a COP26, realizada desde o início do mês e com data final marcada para este 12 de novembro, na cidade de Glasgow (Escócia), delineou um pensamento derradeiro sobre a sobrevivência do Planeta, em questões advindas dos encontros de Quioto, onde se originou o “protocolo” e da reunião em Paris, ocasião em que as nações assinaram um acordo fundamental para dar ao mundo em que vivemos, um equilíbrio de renovação atmosférica e sustentabilidade. O “Acordo de Paris” foi assinado em dezembro de 2015.
Barrar a emissão de CO2 tornou-se uma meta mundial e isso, se levado a sério, causará uma revolução de costumes em grande escala; tudo será diferente na produção industrial, transporte, alimentos, e exigirá um comportamento social coletivo e disciplinado. O Planeta precisará deixar de explorar muitos minérios, abandonar a extração de carvão e petróleo, aumentar a florestas no lugar de derrubar árvores, abater animais precocemente para o consumo ou utilizar outras proteínas; produzir menos resíduos, controlar o consumo de água potável; conservar nascentes, despoluir os rios, os oceanos, limitar ao máximo a emissão de gases; inovar em itens muito próximos de nós, como tecidos, vestuário, embalagens, materiais de construção, enfim, a humanidade precisará assumir de vez, que todas as fontes de vida estão em compasso de exaustão. Ou mudamos, ou deixaremos de existir.
Avanços
O mundo não está parado frente às mudanças climáticas, avanços importantes ocorreram como aceleração do uso de energias renováveis, a transição para veículos elétricos e o notável esforço de algumas nações na redução de emissões para 2030; paralelamente, há o esforço para cumprir metas de emissões líquidas zero. Porém, isso ainda não é suficiente para que o planeta não ultrapasse o limite de 1,5°C de aquecimento. Por outro lado, os países mais vulneráveis ao clima não estão recebendo o apoio que precisam para proteger as florestas, adotar o uso de energia mais limpa ou se proteger melhor dos impactos.
Nas próximas horas (dizem que isso poderá levar mais alguns dias) pode surgir o pacote que atenda às necessidades dos mais vulneráveis, que enfrentam a pior parte dos impactos climáticos. Além de cortes ambiciosos de emissões de gases, por parte dos principais emissores, a COP26, em Glasgow, deve apoiar os esforços das nações em desenvolvimento com planos para as transições; a proteção de reservas naturais e a criação de novas fontes de energia limpa. Mas todos esses esforços exigem que as principais economias forneçam o “financiamento climático”, o que seria fundamental para ganhar a confiança das nações em desenvolvimento e consequentemente suas adesões.
Os rascunhos
O relatório da COP26 não será muito diferente dos últimos rascunhos; o “Acordo Final” terá como referência o uso do carvão e combustíveis fósseis, independentemente a linguagem suavizada. Antes, o texto falava em acelerar “a eliminação do carvão e dos subsídios aos combustíveis fósseis”. Agora, a proposta é “a eliminação progressiva do uso sem restrições” do carvão e dos “subsídios ineficientes para os combustíveis fósseis”. A versão final do acordo ainda está sendo negociada por representantes dos 193 países que participam da conferência, mas as mudanças feitas até agora já foram criticadas por especialistas. Após duas semanas de evento, seguem as negociações e elas devem prosseguir além do encontro mundial, devido às divergências.
De uma maneira geral, o primeiro rascunho já trazia avanços pontuais, mas não apresentava detalhes sobre como atingir as metas necessárias para que o aumento da temperatura do planeta seja menor do que 2ºC até 2100 – de preferência não ultrapassando 1,5ºC, como foi definido no Acordo de Paris. Até lá, ao que tudo indica os dinossauros ainda farão parte de nossas vidas, muito além das telas do cinema e da caixa de brinquedos das crianças.