Desmonte do garimpo aumenta tensão em terra yanomami

Imagens de mobilização de tropas e destruição de equipamentos lembram cenas de guerra

Da redação com Agência Brasil

Não bastasse o sofrimento em decorrência da poluição das águas, contaminação dos peixes e extinção da caça, os povos yanomami presenciam cenas atormentadoras, o que contrasta e muito com a paz sonhada, antes reinante nos territórios hoje ocupados.

A ações de desmonte do garimpo, iniciadas na última segunda-feira, 06 de fevereiro, mais parecem filmes de guerra; milhares de pessoas deixam o local carregando o que podem, esvaindo por estradas, rios e em meio às matas. O que é deixado para trás é destruído e incendiado. Aviões, helicópteros e tratores são alvos de explosões seguidas, o que de certa forma coloca em risco o ambiente, causando focos de incêndios. Segundo informações as explosões são calculadas e o perímetro está sendo observado, para evitar o alastramento do fogo, fumaça e cheiro de combustíveis em queima.

Para coibir as ações e acompanhar a retirada dos garimpeiros, as autoridades montaram bases de controle em trechos do Rio Uraricoera, o leito fluvial mais utilizado pelas barcaças que davam suporte às atividades.

O desmonte do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami é uma operação conjunta entre as Forças Armadas, Ibama, Força Nacional de Segurança Pública e órgãos ligados ao Ministério da Justiça. Estima-se que mais de 20 mil garimpeiros atuavam irregularmente em toda a região. Há, no entanto, a preocupação de muitos órgãos em monitorar e até mesmo criar atividades laborais para essas pessoas, do contrário, poderão voltar em busca de riquezas no solo em futuro próximo. O garimpo é muito difícil de ser combatido, uma vez que as áreas são muito conhecidas pelos que atuam nesse segmento.

A destruição de equipamentos é questionada por muitos órgãos, uma vez que aviões, helicópteros e até mesmo o maquinário de escavação poderia render fortunas nos leilões, em dinheiro que poderia ser utilizado na recuperação dos trechos afetados e para atender os povos indígenas. A destruição é amparada em Lei e, segundo informações, as ofensivas servem como efeito moral contra a transgressão e os crimes praticados nas áreas de garimpo. As operações estão tirando muitas armas e munições de circulação.

 

Ministério da Saúde aponta falhas no atendimento aos Yanomami

Relatório cita estruturas precárias e falta de profissionais e remédio

Estruturas de atendimento em condições precárias, falta de profissionais e uma desassistência generalizada. Essas são as principais conclusões de um relatório do Ministério da Saúde sobre a situação da saúde na Terra Indígena (TI) Yanomami, em Roraima.

A população da etnia vive uma crise humanitária grave. Afetados pela presença do garimpo ilegal em suas terras, os indígenas dessa região convivem com destruição ambiental, contaminação da água, propagação de doenças e violência. A situação é histórica, mas se agravou nos últimos quatro anos.

A equipe da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), que é vinculada ao Ministério da Saúde, levantou as informações do relatório entre os dias 15 e 25 de janeiro deste ano. No dia 20 de janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decretou Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional e criou o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE), responsável por coordenar as medidas para resolver a crise.

A TI Yanomami, a maior do Brasil em extensão territorial, tem uma população de 30,5 mil indígenas, sendo pelo menos 5,6 mil crianças menores de 5 anos. Ao todo, há 68 polos base para atendimento primário em saúde, mas a situação dessas unidades é precária.

“De fato, temos uma situação de muita precariedade na nossa infraestrutura e, a partir desse plano, estaremos realizando todas as melhorias, para além do orçamento que a Sesai já tem. Há uma decisão da Presidência da República, do Ministério da Saúde, de conseguir uma dotação orçamentária específica para mitigar e para resolver essas situações aqui no território Yanomami”, afirmou o titular da Sesai, Ricardo Weibe Tapeba, em entrevista coletiva na tarde de ontem (7). Ele está em Boa Vista acompanhando as ações de enfrentamento à crise.

A equipe que fez o levantamento para o relatório começou investigando a denúncia de três óbitos de crianças, que ocorreram entre 24 e 27 de dezembro do ano passado. O documento destaca que, na ocasião, chegaram a ser abertos 17 chamados aeromédicos para casos graves que exigiam transporte imediato. Já em janeiro, a equipe da missão exploratória constatou pelo menos dez remoções por dia, sendo que 23 crianças foram resgatadas de uma só vez em uma delas.

Somente em janeiro, de acordo com o COE, foram efetuadas 223 remoções, sendo 111 deslocamentos dentro do território e 112 para Boa Vista. Segundo as equipes locais, os principais agravos de saúde na região são de malária, pneumonia, desnutrição e acidente com animais peçonhentos.

a maior do Brasil em extensão territorial, tem uma população de 30,5 mil indígenas, sendo pelo menos 5,6 mil crianças menores de 5 anos.. Foto de Fernando Frazão/Agência Brasil

Hoje à tarde, os ministros da Defesa, José Mucio, e dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, desembarcam na Base Aérea de Boa Vista. Eles vão cumprir uma série de agendas no estado até amanhã. Na primeira parte da viagem, eles visitam a Base da Operação Acolhida, que recebe os imigrantes venezuelanos, incluindo visita ao posto de recepção, ao Centro de Coordenação de Interiorização e aos abrigos.

Em seguida, eles farão uma vistoria na Casa de Saúde Indígena Yanomami (Casai), também na capital. Já na quinta-feira (9), ambos embarcam para uma visita ao polo de Surucuru, que é um dos centro de referência no território. O local fica a cerca de uma hora e meia de voo da capital do estado. Eles retornam de lá no mesmo dia e voltam a Brasília.

Ameaças

Outro ponto destacado no relatório é a situação de insegurança dentro do território, por causa da presença de garimpeiros. Há pelo menos quatro polos de atendimento fechados na região de Surucucu e três em outras localidades, devido a graves ameaças. Para se ter uma ideia, um desses polos chegou a ser reformado, mas não pôde ser reaberto. O governo federal estuda incluir lideranças indígenas Yanomami no serviço de proteção de defensores de direitos humanos.

Outro fator que dificultou o atendimento às pessoas na região foi a falta de insumos, em especial, de medicamentos. As remoções de urgências necessitam de insumos como carrinho de parada, oxigênio medicinal em cilindro pequeno, desfibrilador automático externo (DEA), suporte de soro, mas nada disso estava à disposição da equipe no momento do trabalho de campo.

O secretário especial da saúde indígena criticou ainda o que chamou de aparelhamento político no serviço público de assistência à saúde do povo Yanomami. Segundo ele, uma auditoria realizada pelo próprio Ministério da Saúde no DSEI Yanomami já identificou irregularidades em contratos da unidade, e a Polícia Federal ainda investiga o envolvimento de agentes políticos em conluio com garimpeiros.

Foto principal divulgação/Ibama